Entrevista exclusiva: ALESSANDRO NESPOLINO (autor convidado para a 5ª Mostra do Clube Tex Portugal, em Anadia, nos dias 28 e 29 de Abril)

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco, com a colaboração de Júlio Schneider (tradutor de Tex para o Brasil) na tradução e revisão.

Alessandro Nespolino estará em Anadia nos dias 28 e 29 de Abril para deleite dos fãs de Tex

O Clube Tex Portugal realiza, em Anadia, nos dias 28 e 29 de Abril próximo a 5ª Mostra do Clube Tex Portugal e traz pela primeira vez ALESSANDRO NESPOLINO ao nosso país, motivo mais que suficiente para esta entrevista do blogue português do Tex com o autor italiano que estará então presente na capital da Bairrada no fim de semana de 28 e 29 de Abril no mui nobre MUSEU DO VINHO BAIRRADA.

Caro Alessandro, seja bem-vindo ao blogue português de Tex! Você será protagonista em Portugal de uma mostra do Clube Tex Portugal, na cidade de Anadia. O que lhe representa este acontecimento que contará com a sua presença num país estrangeiro?
Alessandro Nespolino: É a primeira vez que irei a Portugal e é uma grande emoção poder encontrar amigos e leitores do nosso amado Ranger. Quando se é convidado a ir a um país estrangeiro, é que percebe-se a importância do próprio trabalho, que leva para além das suas fronteiras um produto que conta com centenas de milhares de leitores e é um símbolo da cultura popular do seu País. Tex e as personagens da Bonelli são muito amados no exterior e eu sei que em Anadia aguarda-me um grande entusiasmo e afecto.

O que convenceu Alessandro Nespolino, autor de fama mundial, a aceitar um convite assim incomum?
Alessandro Nespolino: Nestes anos, graças ao grande trabalho de difusão das actividades do Clube Português do Tex, eu pude ver e ler quanto amor há da parte do vosso país por Tex. O Ranger certamente é uma das personagens mais amadas no mundo e conta com um grande grupo de leitores aficionados em Portugal. Foi exactamente por isso que eu aceitei o convite, para poder constatar pessoalmente o vosso afecto, e poder retribuir com a minha presença… e o meu lápis.

Quais são as suas expectativas em relação à 5ª Mostra do Clube Tex Portugal?
Alessandro Nespolino: Estou certo de que aguarda-me uma grande demonstração de afecto. Poder encontrar os nossos leitores e, de algum modo, retribuir o amor que sentem por Tex e pelas personagens da Sergio Bonelli, é um grande prazer.

Você tem algum contacto com a BD feita em Portugal? Conhece algum autor, como por exemplo E. T. Coelho, que morou e trabalhou por muito tempo na Itália, por muitos considerado o melhor desenhador português de BD desde sempre?
Alessandro Nespolino: Eu conheço alguma coisa do trabalho de E. T. Coelho, mas espero recuperar mais o quanto antes, junto a material de outros nomes do panorama da BD portuguesa.

Alarguemos um pouco o horizonte da entrevista: o que o fez entrar para a indústria dos quadradinhos?
Alessandro Nespolino: Eu desenho desde quando era pequeno e, graças ao meu pai, na nossa casa a BD sempre esteve presente. Ao crescer eu continuei a cultivar a paixão pelo desenho e, quando comecei a ler, primeiro Diabolik e depois Dylan Dog, sempre tive cada vez mais a convicção de que queria entrar para o mundo dos quadradinhos. Creio que o maior mérito foi justamente de Dylan Dog que, para a minha geração (eu tinha 15 ou 16 anos quando a Sergio Bonelli começou a publicar as histórias do Investigador do Pesadelo), foi uma das personagens mais importantes da BD.

Como analisa a evolução da sua carreira?
Alessandro Nespolino: A minha carreira passou por muitas mudanças, tanto de estilo quanto de séries em que trabalhei. Comecei a desenhar para a Editora Star Comics, com séries modernas e de ficção científica, com Lazarus Ledd e Morgan-A Roda Sagrada (uma mini-série de ficção científica em 4 episódios, da qual também fiz os estudos das personagens e o primeiro volume), e depois cheguei à Bonelli, na série policial Nick Raider. A partir dali eu passei por muitos títulos da Bonelli, a trabalhar em séries muito diferentes entre si, de Brad Barron (ficção científica anos 1950) a Volto Nascosto (Face Oculta, série histórica ambientada no final do Século 19). Nos últimos anos a minha carreira levou-me a desenhar sobretudo séries de ambientação histórica, e permitiu-me passar da África à China, até o Oeste Selvagem de Mágico Vento e Tex.

Como avalia o seu trabalho de hoje em comparação com o passado?
Alessandro Nespolino: Certamente o meu trabalho tornou-se cada vez com mais precisão e estudo. As séries históricas comportam um enorme serviço de pesquisa e documentação. É trabalhoso mas dá grandes satisfações do ponto de vista da realização gráfica. Além da Sergio Bonelli, eu tive experiências profissionais também com a França. E também ali eu trabalhei com uma série de ambientação histórica, de época vitoriana, a desenhar três volumes que têm por protagonista Sherlock Holmes.

Como se forma um desenhador do seu calibre?
Alessandro Nespolino: Depois de concluir o ensino secundário, eu frequentei uma escola de BD em Roma, que permitiu-me aprender os princípios do ofício e dar os primeiros passos no mundo profissional, em uma pequena editora romana. Depois de mais de vinte anos a seguir esta profissão, eu entendi que a diferença vem do trabalho, das horas passadas à mesa de desenho e da dedicação.

No que está a trabalhar actualmente?
Alessandro Nespolino: Neste momento estou a trabalhar em uma série policial ambientada em Nápoles na década de 1930, O Comissário Ricciardi, extraída dos romances do escritor napolitano Maurizio De Giovanni. Uma nova aventura editorial em que a Sergio Bonelli lançou-se, a realizar a transposição para BD de uma personagem nascida nas páginas dos livros.

O que você sentiu quando recebeu o convite para desenhar Tex?
Alessandro Nespolino: Eu recordo-me que houve um momento inicial de incredulidade. Eu havia recém concluído Brad Barron e Mauro Marcheselli, à época redactor chefe da Editora, telefonou-me para dizer que Sergio Bonelli havia sugerido meu nome para desenhar Tex. É fácil imaginar a emoção e a surpresa. Mas eu não iniciei de imediato a desenhar Tex, visto que o então editor de Nick Raider e Mágico Vento, Renato Queirolo, chamou-me para a equipa de uma nova mini-série, a mencionada Face Oculta. A partir de então anos se passaram, nos quais também desenhei Mágico Vento, Shanghai Devil e Adam Wild, até chegar a desenhar o meu primeiro Tex.

Para si, o que representa Tex e qual é a importância da personagem na sua vida?
Alessandro Nespolino: Tex é a personagem de ponta da Editora, e há 70 anos é uma das BDs mais vendidas da Itália. Tex não é só uma revista aos quadradinhos, faz parte da cultura popular do nosso país e é uma das personagens de BD mais populares e amadas no mundo, como também mostra o afecto de vocês, portugueses. Desenhar Tex representa a consagração e o reconhecimento do próprio trabalho, mas também é uma grande responsabilidade porque, como autor, eu sei que a minha BD será lida por centenas de milhares de leitores, eu serei confrontado não só com um símbolo do mundo dos comics, mas também com todos os grandes nomes de autores que paralelamente e antes de mim assinaram as páginas do Ranger.

Há alguma história de Tex não feita por si que gostaria de ter feito?
Alessandro Nespolino: Para responder a essa pergunta vêm-me à mente duas histórias de Tex. A primeira é uma das primeiras que eu li, e também é um dos primeiros volumes de Tex, Um Contra Vinte. Por óbvio é de Gianluigi Bonelli e Galep, e não é difícil deduzir quem seria o Um, e representa para mim o símbolo da estatura de uma personagem como Tex. Ontem como sonhador que lia aquela BD, e hoje como desenhador, quem não gostaria de fazer parte da realização de uma história em que o herói, sozinho, derrota vinte criminosos que o querem morto? A outra é uma longa história de Nizzi e Villa (que, na época, eu comprei justamente pelos desenhos deste último, visto que não lia Tex há algum tempo) que começa com A Conspiração e vai até O Prisioneiro do Albatroz, em que Tex e Carson, para libertar um velho amigo, devem ajudar a fugir de Alcatraz o capitão Barbanegra Drake e viajar no veleiro dele. Uma aventura longa e épica, muito bela pela variedade de ambientações e de situações.

Tex é uma personagem importante na sua carreira, sem dúvida. Você consegue imaginar-se daqui a dez ou vinte anos ainda a desenhar a série ou pretende, um dia, tentar algo novo? Você tem algum projecto em mente no qual trabalhar no futuro?
Alessandro Nespolino: Tex é uma personagem importantíssima para qualquer pessoa que siga este ofício. Como em todos esses anos eu também continuei a mudar de séries, espero que em dez ou vinte anos eu possa continuar a fazer este trabalho com o mesmo entusiasmo, e que entre uma série e outra de vez em quando eu sempre consiga retornar às páginas do Ranger. Um pouco como o nosso herói que, entre uma aventura e outra, volta à sua reserva, entre os seus navajos, para reencontrar os velhos amigos e o calor de casa.

Para concluir, gostaria de deixar uma mensagem aos seus admiradores que irão a Anadia?
Alessandro Nespolino: Eu espero que os nossos leitores e amigos de Tex encontrem-nos em Anadia para um aperto de mão e para partilharmos a paixão por esta personagem fantástica.

Caro Alessandro, em nome do blogue português de Tex, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu. Se quiser aproveitar este espaço para algumas palavras aos nossos leitores, à vontade.
Alessandro Nespolino: A paixão com que os leitores continuam a acompanhar as aventuras de Tex e das personagens da Sergio Bonelli sempre foram um estímulo para oferecer o melhor produto possível. O desenho, e a arte em geral, também são compartilhamento e, sem os leitores, eu não poderia compartilhar com ninguém o que eu faço. E descobrir que os nossos leitores também estão fora das fronteiras italianas, é um motivo de orgulho a mais e um motivo para fazer cada vez melhor. Tex é uma personagem que viaja, que está sempre em movimento, que não tem fronteiras e que derruba as barreiras entre os povos, e o Clube Português do Tex, assim como o nosso Ranger, derruba as barreiras e as fronteiras para empenhar-se na linha da frente da difusão das suas aventuras, com paixão e afecto imensos. Por tudo isso eu agradeço e, com o meu trabalho, espero conseguir retribuir o afecto de vocês. Obrigado.


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