Entrevista com o fã e coleccionador: Paulo Santos

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Paulo Santos: Nasci em Fevereiro de 1979, sou casado e tenho uma filha linda, Olga, que segue a trilha dos quadradinhos, lendo a Turma da Mônica do mestre brasileiro Maurício de Souza. Moramos na cidade de Campina Grande, agreste do Estado da Paraíba, Brasil, mas nasci no Estado vizinho, Pernambuco, na cidade de Caruaru.
Sempre gostei de aventuras, não só nos quadradinhos, aos 15 anos, durante o ensino médio, fui escolhido entre todos da escola para participar da Expedição Ruta Quetzal Argentaria-Mundo Inca 1995, viajei com mais 400 jovens de diversos países ibero-americanos pela Espanha, Equador e Peru durante 60 dias, passando nesses últimos, três dias nas ruínas da cidade inca de Machu Picchu, isso depois de fazermos o caminho inca e escalarmos o maior vulcão inactivo do mundo, o Cotopaxi.
Hoje sou pós graduado em Medicina Veterinária e técnico em agropecuária e trabalho numa unidade de pesquisas das potencialidades da região semi-árida e do bioma caatinga.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Paulo Santos: Desde quando aprendi a ler. Sabe aquelas excursões religiosas de igreja? Numa dessas, a minha mãe comprou ‘O conto da vaca‘; lia e relia, adorava, surgiu aí o meu interesse pela leitura.
Quando viajávamos, nas rodoviárias, ela sempre me levava nas bancas de revistas e deixava-me escolher as revistas de quadradinhos que eu queria. Lembro como se fosse hoje, comprei a revista ‘Heróis da TV‘ com histórias do Homem de Ferro e Hulk, Batman ‘Ano dois’, que mostrava um Batman cheio de adesivos depois duma surra com o vilão Ceifador e em casa tinha uma edição inesquecível de Tex ‘O Clã dos Cubanos‘ (reeditada recentemente no Brasil em TEX Coleção – Mythos Editora), lembro dessa edição, com a capa inesquecível de Galep, maravilhoso esse tempo. Entretanto, foi só em 1993-1994, com as edições especiais ‘A Morte e O Retorno do Super-Homem‘ da Editora Abril, isso mesmo, quadradinhos americanos, que comecei, sistematicamente, a coleccionar histórias em quadradinhos, ‘gibis‘ como chamamos no Brasil e não parei mais até hoje. Leio quase tudo da Marvel, da DC Comics, TEX, os quadradinhos brasileiros, de um paulistano muito bom, Lourenço Mutarelli e recentemente, vendo os desenhos de Corrado Mastantuono, comecei a ler Mágico Vento.

Quando descobriu Tex?
Paulo Santos: Em 1997, já lia Batman emprestado de um primo e coleccionava as revistas do Super-Man, não tinha passado no meu primeiro vestibular, quando folheei numa banca de Caruaru-PE uma história em que uma das personagens tentava dormir nas ruínas de uma velha missão, isso era TEX 331 da Editora Globo (Na trilha da Vingança); releio sempre essa cena, acho maravilhoso esse clima nocturno do velho oeste. Li TEX regularmente durante quatro anos; acompanhei edições especiais, de histórias fechadas e voltei regularmente de novo recentemente com a publicação excelente e indispensável para quem gosta da nona arte, de TEX em cores da Editora Myhtos.

Porquê esta paixão por Tex?
Paulo Santos: Cada quadradinho das histórias de TEX renderia um ampliado em forma de quadro numa galeria de arte ou um belo quadrante de um grandioso filme; cada conto, cada trama, transporta-nos através da história e molda não só as personagens, mas a nossa mente, a nossa imaginação. Uma viagem por um tempo de costumes de uma época, de uma civilização, de homens e mulheres que existiram realmente, tudo isso com uma personagem inteligente, sagaz, amiga e que sabe usar as suas qualidades em grupo.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Paulo Santos: Realismo e história, atrelada a boa arte, numa personagem mista de super- herói (com uma mitologia coerente), bandido (a época exigia atitudes arrojadas), galã (o cara é ‘presença’), justiceiro (um ranger do lado da lei) e com amigos únicos (um índio, o filho, e um parceiro ‘mais usado’, os rangers e o povo navajo).

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Paulo Santos: Tenho pouco mais que 100 edições, entre Gigantes, Coleção, Ouro, Normal, Férias, Histórica e Cores. As mais importantes são fáceis de dizer: a primeira e a última lida: TEX 331 – Na Trilha da Vingança, da Editora Globo (1997) e TEX em cores nº 6 – O Rei do Gatilho, da Editora Mythos (2010). Entretanto tenho uma bedeteca (no Brasil, gibiteca) com outros géneros com mais 2.000 exemplares.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Paulo Santos: Além dos quadradinhos, que é minha paixão, colecciono filmes clássicos de western, verdadeiras jóias do cinema e das artes, como Rastros de Ódio, Rio Bravo, Matar ou Morrer, Consciências Mortas, Eldorado, Marcha de Heróis, Legião Invencível, O Cavaleiro Solitário, Os imperdoáveis, Era Uma Vez no Oeste…; os meus preferidos são os dos mestres directores John Ford,  Howard Hawks e Sérgio Leone.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Paulo Santos: Os especiais (Almanaque Tex e Gigantes) com extras e dossiers de filmes clássicos de western e sempre com desenhadores convidados, como por exemplo as edições gigantes ilustradas pelos grandes Corrado Mastantuono, Joe kubert e Joe Bernet.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Paulo Santos: É difícil escolher. ‘O Ídolo de Cristal‘ de Bonelli e Galep – TEX Coleção nº 252 (Editora Myhtos), ‘Na Trilha da Vingança‘ – TEX nº 331 e 332 (Editora Globo) e ‘O Clã dos Cubanos‘ – TEX Coleção nº 282 (Editora Mythos). Os melhores argumentistas são Gianluigi Bonelli e Claudio Nizzi e os desenhadores F. Fusco e Claudio Villa.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Paulo Santos: O que mais me agrada: a sua inteligência frente aos inúmeros desafios nas diversas sagas vividas, a sua capacidade de trabalhar em equipa (e que equipa!), isso tudo em cenários belíssimos e históricos que nos remontam a clássicos tempos. O que menos me agrada: o ‘cara’ fuma.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Paulo Santos: Se eu fosse uma mulher exaltaria as suas maiores qualidades: ele é bonito, tem bom carácter, ‘tipão’. Mas na minha condição de fã o que o faz um ícone é sem dúvida a sua mitologia criada para durar sempre.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Paulo Santos: Acabo de conhecer um espaço na cidade em que moro, onde os leitores e coleccionadores se encontram: a Praça do Coreto. Sempre que encontro alguém comprando quadradinhos na banca ofereço amizade, pego e-mail, telefone e tento trocar algumas informações.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Paulo Santos: Existem personagens criadas em muitas mídias, mas as criadas nas histórias em quadradinhos são fabulosas, fantásticas, carismáticas e só existem lá, são impensáveis em outras mídias. Creio que é isso o que os tornam tão eternos e feitos para sempre. TEX possui isso.
Aqui no Brasil, num futuro próximo, todas as edições mensais podem ser coloridas, como é feito na Itália. Edições especiais com histórias fechadas continuariam no formato tradicional em preto e branco. Creio que isso acontecerá, temos no comando duas editoras competentes e que fazem um excelente trabalho com a publicação da nona arte, a Mythos e a Panini.
As publicações do ranger ultrapassarão gerações e mais gerações, pela sinceridade com que são feitos e por serem personagens que contam e falam por si só. Tudo isso, claro, graças aos condutores dessa maravilhosa personagem, aqueles que usam as sua pranchetas, os seus teclados, as suas canetas, os seus nanquins e fazem de TEX não só mais uma obra literária, mas uma obra de arte que deve ser apreciada por todos, sempre!

Prezado pard Paulo Santos, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

7 Comentários

  1. Parabéns Pard Paulo Luciano, pela bela entrevista. Vc morou em Caruaru, cidade perto da minha que é Arcoverde. Também conheço Campina Grande, pois tenho familiares aí no bairro Liberdade ok, mas faz uns cinco anos que não vou aí. Sua coleção é belíssima e vc se parece comigo nesse sentido, pois gosto de vários tipos de quadrinhos, mas tendo como preferência os Bonelli. Os super hérois hoje eu só compro alguns encadernados e a linha Vertigo, bem como Ultimate Marvel.

    Abraços

  2. Valeu conterrâneo!!! Gostei da entrevista, tambem sou Pernambucano (Afogados da Ingazeira) vizinho de Marcílio Ferreira (Arcoverde) quando eu for a Campina Grande, poderíamos nos encontrar, pois ja tenho uma visita agendada (atrasada) com o GG, assim nos encontraríamos para aquele bate papo numa mesa, comendo uma montanha de batatas fritas e um bom bife regado a refrigerante.
    Lucílio Valério

  3. Oi Turma!

    Grande Paulo, parabéns pela entrevista e pelo gosto diversificado pela Nona Arte. Hoje compro basicamente Bonelli, italianos e brasileiros, mas, sempre tenho uma lista de encadernados e especiais a serem adquiridos.
    Ah, moro em Belo Jardim, que fica a 50kms de Caruaru, aliás, Caruaru é o nosso centro de compras 🙂

    Abraços,

    Sílvio Introvabili

  4. Silvio, morei três anos em Belo Jardim,quando estudava no colégio agrícola. Ótimos e inesquecíveis tempos. Comprei minhas primeiras edições do retorno do Super-homem lá na banca do calçadão… manda teu mail vou no final do ano pra Caruaru, tenho familia em Belo Jardim e quem sabe podemos bater um papo.
    Valeu cara.

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