Entrevista com o fã e coleccionador: Nei de Souza Teixeira

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Nei De Souza TeixeiraPara começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Nei de Sousa Teixeira: Sou de 1959 – portanto já veterano  – nascido na cidade de Porto Alegre e registado em Viamão, no Estado do Rio Grande do Sul, sul do Brasil. Moro com a família na simpática cidade de Macatuba, interior oeste de São Paulo, região onde desde fins dos anos 90 actuo como Técnico de Segurança do Trabalho – actividade profissional voltada à prevenção de acidentes e doenças laborais. Amante da natureza aprecio a água (mar, rio, piscina), desportos (karatê), música (muitos géneros), filmes, livros e revistas de banda desenhada. Por paixão graduado há poucos anos em filosofia. Sou pouco festeiro, mas favorável a uma boa conversa com os amigos. Churrasco e viagens, quando possível.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Outras paixõesNei de Sousa Teixeira: Com certeza de antes de aprender a ler. Aliás, as revistas em quadradinhos exerceram em mim um estímulo adicional na alfabetização, pois desde pequeno admirava aquelas impressões nas páginas de jornais e revistas infantis. Mickey foi o meu primeiro herói e com ele a ideia inicial de coleccionar revistas de banda desenhada. De minha mãe ganhava no início de cada mês, sempre que o orçamento permitia, a última aventura do destemido ratinho (ainda possuo alguns destes exemplares). E durante toda a infância juntei revistas, seja através de doações, trocas ou compras: Tio Patinhas, Donald, Zé Carioca, Turma da Mônica, Mafalda, Bolinha, Recruta-Zero. Ainda heróis e super-heróis americanos como: Batman, Super-Homem, Homem-Aranha, Tarzan, Mandrake, Fantasma, etc.. Também apreciava muito Tintim, Lucky Luke, Astérix e os engraçados Mortadelo e Salaminho, que menos populares encontrava-os nas bibliotecas públicas da cidade.
BDs e LiteraturaDois factores fortaleceram este apreço infantil pelos quadradinhos. Primeiro: em Porto Alegre de minha infância era comum a distribuição de revistas nas entradas das matinés dos cinemas, e para nós garotos era uma festa pedí-los nas saídas dos espectáculos. Segundo: motivados principalmente por estas doações naqueles tempos praticávamos comummente o que chamávamos de trocas de revistas. Isso possibilitava para nós, crianças, uma rica variedade de leituras, aquisições e entretenimento. É portanto assim que vem desde estes tempos o meu interesse pelos quadradinhos.

Quando descobriu Tex?
ExtanTexNei de Sousa Teixeira: Pois justamente em algum momento do ano de 1971, aos 12 anos, em alguma negociação deparei-me com uma revista de faroeste diferente: um grupo de pistoleiros que, envolvidos numa vibrante aventura no palco de uma comunidade indígena deparam-se com uma fenda no chão onde seguem – entre perigos e tiroteios – mundo subterrâneo adentro. Além da história os desenhos eram muito bons. Pôxa, era demais! Essa foi a primeira história que li de Tex. Infelizmente foi a única que consegui naquela época. Só encontrei Tex novamente após vários anos quando já ganhava alguns trocados para as minhas pequenas despesas. Daí em diante fui juntando e comprando. Também durante algum tempo ganhei regularmente de um grande amigo muitos exemplares contendo o carimbo “brinde”. Não deu outra, iniciava ali a primeira colecção. Desta colecção, desfiz-me lá pelo número 250. Só em 1986 com o lançamento de Tex Coleção é que voltei a juntá-los definitivamente. Hoje colecciono Tex Coleção, Almanaque Tex, Tex Gigante, Tex Anual e Tex regular (normal) – esta última ainda incompleta. Também aprecio Martin Mystère dos quais possuo as 42 edições da Mythos, com esperanças de novo relançamento brasileiro.

Sônia da Revistaria de MacatubaPorquê esta paixão por Tex?
Nei de Sousa Teixeira: Por muitos motivos. Primeiro pelos desenhos, foi o que mais me impressionou em Tex desde o começo. Sempre gostei de desenhar e aquelas paisagens horizontais do velho oeste americano, das montanhas, dos bosques, das cidades, das personagens, dos cavalos, etc., seduziram-me. Ainda hoje a qualidade técnica dos desenhos em qualquer revista do Ranger me são referênciais. Depois foi o enredo/roteiro das histórias, cheias de aventuras e com tramas bem elaboradas. Mesmo aquelas tratando de realismo fantástico, sempre as concebi bem montadas e consistentes: acompanhadas de algum conteúdo histórico e cultural. Por fim, o símbolo icónico do Ranger conjugando fidelidade, lealdade, coragem e justiça. Com Tex sempre existe a expectativa de que, esteja onde estiver, na decorrência da violação de qualquer um destes elementos (citados há pouco) ele fatalmente interferirá… e uma nova aventura emerge. É isso o que me representa e a ideia que me antecipa. Talvez também por isso, imagino, em certo momento alguém o tenha conceituado de ‘granítico’.

Literatura e BDsO que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Nei de Sousa Teixeira: Não sei se diria diferente, mas Tex exibe uma forte personalidade bem definida e própria. Creio se tratar de tudo o que já disse há pouco, associado a uma boa base na construção de ambientação das demais personagens. Tex, assim como o Fantasma de Lee Falk, está situado geograficamente; detém protagonistas e antagonistas bem identificados; seu leque de actuação contempla inúmeros ambientes e argumentos; as histórias desenrolam-se em aventuras de fôlego com o protagonista nem sempre na vantagem (apesar do previsível triunfo do bem, digno dos grandes heróis como o já citado Fantasma). Tudo costurado com magníficos desenhos contendo referências históricas e culturais. Dessa forma entendo que talvez nem seja propriamente diferente, mas indiscutivelmente que o Ranger tem as suas bases bem fundadas.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Objectos especiaisNei de Sousa Teixeira: Difícil definir aquela considerada mais importante, nem um pequeno grupo destacaria facilmente, tantas são as que julgo importantes. Em termos de quantidade não sei, não as contei ainda. Mas dá para ter uma ideia: Tex Coleção; Tex normal (-52); Almanaques Tex; Tex Gigantes (-8 que esqueceram de me devolver); Tex Anual (-3); Tex Férias; Tex Especiais.. mais algumas avulsas. Ainda, duas edições em italiano (nº 01 e nº 500), uma em espanhol, uma em holandês, uma francesa e a edição especial de Portugal (é claro!). E a nova colecção Tex em Cores… Estas últimas me são bem importantes, tanto pela raridade quanto pelas vias de aquisição através de amigos e momentos especiais.

ExtanTex - Foto 3Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Nei de Sousa Teixeira: Não tenho o hábito de outros objectos, costumo coleccionar apenas revistas, apesar de possuir alguns souvenirs como o Chaveiro de Tex, uma caixa de Palheiros (com um plágio de Tex), um Calendário e alguns pósters.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Nei de Sousa Teixeira: Como dito, para mim bastam as revistas e um ou outro livro sobre a personagem. Aliás, desejo adquirir os recentes livros do GG Carsan e do Gonçalo Júnior (autografados), ainda não acontecido por questão de oportunidade.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
ExtanTex - Foto 4Nei de Sousa Teixeira: Tantas inesquecíveis aventuras de Tex e tantas outras belíssimas que surgem, é muito difícil citar alguma como favorita, mesmo que a opção aumentasse para uma dezena. Veja um breve exemplo em M: A Mão Vermelha, Mefisto e Yama, Bruxo Mouro, Montales, El Muerto, etc.. Sempre achei as incursões de Tex ao Canadá muito boas, assim como as suas idas a São Francisco ou ainda a El Paso, na fronteira com o México, seja envolvido com mescaleros, bandoleiros ou descendentes astecas. Isso sem mencionar as tantas novas investidas nas quais o Ranger se tem envolvido ultimamente. Mas para não me acovardar cito então A Noite dos Assassinos, Diablero e Mão Vermelha – entre as antigas – apenas por conhecê-las há mais tempo e terem me impressionado bastante. Dos argumentistas sem dúvida G. Bonelli. Mas G. Nolitta, Boselli e Nizzi não ficam atrás. Dos mais recentes, ainda preciso conhecê-los melhor para comentar. Entre os desenhadores aprecio G. Ticci, C. Villa e Repetto apesar de ver recentemente algumas ilustrações de tirar o fôlego, obra de arte mesmo.

ExtanTex - Foto 2O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Nei de Sousa Teixeira: Quanto à personagem. Bem, se em quase 40 anos considero Tex por personagem preferida, certamente é por ver neste herói várias qualidades que me agradam. Numa escala de preferências destas qualidades diria serem o senso de justiça e a disposição para executá-la como principais. Seguidas da fidelidade aos amigos, coragem e tenacidade. Quanto ao género e temáticas das aventuras. Este é um talento à parte, obra dos mentores de Tex (texto e ilustração), permitindo quase tudo às aventuras: de lobisomem a extra-terrestre, de bruxos e bruxas a eminentes antropólogos, de aborígenes e canibais a ministros de Estado. Um passeio por costumes e culturas de vários povos e comunidades do oeste bravio norte-americano. Essa exuberância de possibilidades e ambientes particularmente agradam-me. O que menos me satisfaz no Ranger é a falta de tempo para ler as suas aventuras com a ociosidade que elas merecem. Mas, enfim, esse não é um defeito tão irremediável assim, certo?

A família - Luzia, Victor e NeideEm sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Nei de Sousa Teixeira: Primeiro, sua capacidade de ser ídolo. O ser humano carece de exemplos positivos em quem se espelhar, algum modelo de humano superior ao qual possa criar uma identificação elevada, um alter-ego. Tex que, não sendo propriamente um daqueles super-heróis invulneráveis, tampouco é um herói medíocre. Assim ele (como Batman), de certa forma, encarna estes anseios inconscientes de cada indivíduo: um herói capaz de nos elevar para além do quotidiano vulgar.
Nei, esposa e filhoCom Tex nos enlevamos de capacidades de justiça, de agir na prontidão das necessidades, de manifestar amizades verdadeiras e desinteressadas, de enfrentar obstáculos com resolução. Com Tex, nos tornamos Tex. Indiscutivelmente (guardadas as diferenças de contexto), um exemplo a ser seguido! Entendo ser este o principal motivo de ser o ícone que é: um exemplo de virtude infalível quase ao alcance do homem comum. Como diz a música: necessitamos de heróis, e Tex de certa forma encarna esse herói. Num outro sentido ele é aventura, estória (e história) e cultura, todo o conjunto num belo romance capaz de nos ocupar totalmente por longos momentos de prazer. Um romance épico retratado em belíssimas ilustrações. Vejo então, nestes elementos, as faculdades que o tornam este ícone que é.

Maria Edy, Nei e o Tex portuguêsCostuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Nei de Sousa Teixeira: No dia a dia poucas vezes encontro outros coleccionadores de Tex (felizmente existe a comunidade internauta), mas certamente à minha volta existam vários fãs do Ranger que apenas ainda não contactei. Mesmo o Fábio de Baurú, 50 km daqui, já há algum tempo que não nos vemos.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Nei de Sousa Teixeira: Imagino que se a qualquer momento, subitamente, Sergio Bonelli deixasse de publicar novas aventuras do Ranger, Tex seguramente se sustentaria por mais 50 anos apenas com republicações de álbuns e colecções. Exemplo disso é a nova colecção colorida de Tex que, como eu, milhares de outros texianos já sonham com 200, 300, 400 exemplares em suas estantes.
Por isso é fácil entender que sou optimista com o futuro do herói, enquanto não sofra modificações radicais de personalidade ou de publicações.
Nei em frente da PrefeituraEstamos diante de um fenómeno dos quadradinhos! Apostaria até numa previsão, mais um desejo do que uma possibilidade, ver uma colecção de aventuras de Tex em desenho animado de longa-metragem. Com as aventuras de Tex. Porém em desenhos – ilustrados e roteirizados por seu staff oficial -, como os feitos para Tintim ou Astérix, dos quais possuo algumas em revistas e em DVDs. Acredito que seria um sucesso. De qualquer forma a julgar pelas actuais publicações de Tex, ainda veremos novas e óptimas aventuras deste herói por muito tempo.

Prezado pard Nei de Souza Teixeira, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
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7 Comentários

  1. Parabéns Pard Nei. Outro colecionador gaúcho que nos mostra o seu amor pela leitura e que Tex representa grande parcela importante nesta leitura e que o transformou no ícone que o acompanhará sempre durante todos os dias de sua vida.

  2. O cara é gaúcho, gremista, curte Tex e se chama NEI, só pode ser gente boa. Parabéns pela bela entrevista, xará, abraços!!!

  3. Um grande colecionador, sem dúvida nenhuma. Parabéns pela variedade da sua belíssima coleção.

  4. Texianos, me sinto muitíssimo honrado pelo convite do pard Zeca para esta entrevista. Pois além de me ver incluso em meio a ilustres representantes do Ranger, ainda tenho a oportunidade de dividir com fãs de todas as nacionalidades meus gostos e preferências por este heroi – que desde a infância me acompanha por aventuras imemoráves (rsrs).

    Iranildo, Marcílio, Neimar: grato pelas palavras de apoio.
    Zeca, Gervásio e GG.Carsan, Obrigado por tudo…

    Abraços,
    Nei.

  5. Grande Nei de Souza Teixeira. Não sei se algum dia esta mensagem chegará até você, mas se chegar, receba meus cumprimentos por ser a pessoa que é: humana, simples e com Deus no coração. Deus abençoe você e sua amada família.
    Abraço amigo de velhos tempos de escola Rubem Berta!
    Estou em Palmas do Tocantins.

  6. Nossa que legal ver a força do Blog do Tex e a maravilha que é o trabalho do pard Zeca.
    Ver um comentário em uma matéria 08 anos depois de publicada.
    Nessa época ainda não tinha voltado ao mundo texiano.
    Por isso aproveito para parabenizar o pard Nei pela linda entrevista.

  7. Caramba!!! Verdade Jessé, bela surprêsa o Zeca me proporcionou: deparar no TexWillerBlog um amigo de adolescência. John Lee, a mensagem chegou (os texianos são uma grande família). Não localizei teu endereço pelo facebook, mas o meu é fácil (Nei Teixeira, com vulto do Laçador), por favor contate. Grato pela estima, muito bom reencontrar amigo que parmanece ao tempo. Jessé, agradeço o elogio (vi tua entrevista também, muito legal!). Zeca, abração pard! Até qualquer dia…

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