Entrevista com o fã e coleccionador: Marino Silverio Felipetto

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Marino Silverio Felipetto: Eu nasci em 29 de Maio, de 1961, na cidade brasileira de Alecrim, Rio Grande do Sul. Morava na roça e em 1969, entrei na escola, já com oito anos de idade. Lembro que uma vez a professora colocou na parede da sala de aula, um quadro com várias gravuras e pediu que desenhássemos qualquer figura dali. Fui o mais rápido e o mais preciso da turma. A professora fez-me um grande elogio, e então tive que desenhar para os coleguinhas da turma.
A partir daí, quando surgia algo desse género, eu era requisitado, o que me deixava muito satisfeito. Foi assim no primário, e também nos anos que se seguiram. Uma vez na 6ª série, o colégio lançou um concurso para desenhar um cartão para o dia das mães, e aquele que fosse o escolhido, seria distribuído para todos os alunos para entregarem às suas respectivas mães. Como eu morava na roça, percorria uma distância de dez quilómetros da minha casa até o colégio, e ao chegar em casa, fui até o jardim e apanhei uma rosa. O meu desenho foi uma mão segurando a rosa. Grande foi a surpresa quando saiu o resultado. Tive a alegria de ficar famoso, pois fui o vencedor do concurso.
Nos anos seguinte, levei a vida normal, estudando e sempre aprontando para os vereadores, prefeitos e pessoas da minha cidade, pois tinha facilidade em desenhar os seus rostos, fazendo alguma charge que eu mesmo inventava.
Em 1995, comprei o meu primeiro computador, e então a arte de desenhar foi ficando de lado, pois a máquina já me dava os desenhos quase prontos, pois nessa data eu já tinha o meu próprio negócio, que continuo até hoje; sou Designer Gráfico, e tenho um pequeno negócio onde faço painéis de propaganda, fachadas, autocolantes, faixas e letreiros.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Marino Silverio Felipetto: Em 1973, o meu irmão estudava na cidade e apareceu em casa com um exemplar de Tex. Era “O Corcel Sagrado”, editado pela Vecchi. Na cidade só tinha uma banca de revistas, e vinha um exemplar a cada mês.

Foi então aí que descobriu Tex?
Marino Silverio Felipetto: Sim, a partir daquele número, comecei a ler Tex e não parei mais.

Porquê esta paixão por Tex?
Marino Silverio Felipetto: Acho que pela apreciação que tinha pelos desenhos. Na época, não aparecia na revista o nome do desenhador, mas eu notava a diferença entre um e outro. Basicamente os desenhadores eram Galep, Nicolò e Letteri. Notei que ao ler “O Caçador de Criminosos”, vi um estilo diferente nos desenhos. Muito tempo depois fui saber que era arte de Virgílio Muzzi.  Quando li “Vingança de Índia”, também despertou o interesse em saber quem desenhara aquele exemplar. Mais tarde fui descobrir  que era arte de Ticci.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Marino Silverio Felipetto: Sempre há um que se destaca. Certamente pela sequência das histórias e a continuação nas publicações. Tex é um herói que não se perdeu no tempo como tantos outros que não tiveram êxito.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Marino Silverio Felipetto: Hoje comigo não tenho muitos exemplares, pois a colecção está com o meu irmão que mora no interior. Não tenho uma sequência certa das publicações. Vou na banca e escolho aquelas em que me agrada o desenhador. Dou preferência às desenhadas por Fusco e Ticci.
Não tenho uma preferência por aquela ou essa revista, mas uma que ficou na memória e foi uma das primeiras que li foi “O Caçador de Criminosos”, (Tex nº 32, Editora Vecchi) desenhada por Virgilio Muzzi.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Marino Silverio Felipetto: Compro apenas Tex. Formato normal e gigante.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Marino Silverio Felipetto: Espero que a revista mude o seu formato, pois acho o tamanho muito pequeno onde as letras ficam muito miúdas dificultando a leitura.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Marino Silverio Felipetto: Não tenho uma favorita, só acho algumas menos interessantes. Há algumas que leio várias vezes; aprecio muito o desenho.
Para mim, quem tem a precisão e o verdadeiro estilo de um faroeste é Givanni Ticci. Esse é inconfundível. Sei que ele teve o Alberto Giolitti como mestre, mas também teve seus seguidores. Imagino que Fernando Fusco também apreciava a arte de Ticci, pois teve uma grande progressão no traço, que na minha opinião, foi um óptimo desenhador. Sempre apreciei o estilo do Virgilio Muzzi, mesmo sabendo que ele não desenhava o rosto de Tex; Virgilio também não conseguia representar diferentes fisionomias, pois as personagens eram idênticas, diferenciadas somente na barba e bigode.
Quanto aos argumentistas, todos têm seus méritos, pois acredito que para escrever uma história para Tex, é necessário um vasto conhecimento e ser possuído de uma memória extraordinária.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Marino Silverio Felipetto: A arte. Aprecio muito o traço do artista. Ao comprar um exemplar, escolho pelo desenhador.
O que me agrada menos, também é a arte. Talvez os leitores não vão acreditar, mas não aprecio muito exemplares desenhados por Galep, Nicolò e Letteri. É sempre o mesmo estilo: é Tex indo, Tex vindo, Tex de pé, sentado, e sem falar da fisionomia das personagens, que são todas iguais. Se pegarmos o Carson e tirarmos o bigode e acrescentar cabelo preto, fica o Tex. Acho que todos os desenhadores tiverem três fases na carreira: no início, onde o traço era um pouco indefinido, no meio, onde tinham uma precisão no traçado, e no final, talvez devido à idade, acredito que já não tinham mais firmeza ao desenhar. Falo dos desenhadores que já se foram, e dos que estão com idade avançada.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Marino Silverio Felipetto: Pelo modo como actua; sempre justiceiro, tendo atitudes sempre correctas, no combate a malfeitores e bandidos.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Marino Silverio Felipetto: Sempre que possível, troco exemplares com outros coleccionadores.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Marino Silverio Felipetto: Acredito que não gostaria de ver um Tex sessentão, já em carreira avançada, sendo lerdo em seus movimentos e passando a maior parte do tempo sentado na reserva navajo, olhando para o horizonte, sem ter mais perspectiva de nada.

Prezado pard Marino Silverio Felipetto, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

6 Comentários

  1. Excelente conhecer mais um grande leitor de Tex. Ainda mais que temos a mesma opinião sobre Letteri, Nicolò e Galep.

    Abraços

    Alvarez

  2. Obrigado, Alvarez!
    Muito bom saber a opinião de alguém que entende do assunto!
    Abraço!
    Marino

  3. O Marino sabe tudo, embora não seja um colecionador em sequencial, mais conhece e sabe tudo dos desenhos que ele comentou, eu também gosto muitos dos desenhos do Ticci e Fusco. Parabéns!

  4. Amei seus desenhos e sua coleção. Deveríamos nos ajuntar todos os fãs e brigar por uma trilogia de Tex no cinema. kkkkk
    Parabens pelos seus exemplares, bela coleção.

  5. Muito boa a tua entrevista, legal ver o ponto de vista de um colecionador que também desenha bem e sabe avaliar criticamente os desenhistas.

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