Entrevista com o fã e coleccionador: Marco Teixeira

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Marco TeixeiraPara começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Marco Teixeira: Nasci no Funchal, ilha da Madeira, no distante dia 25 de Maio do ano da Graça de 1968 no século passado…
Nesta fase da minha vida possuo duas ocupações profissionais que me consomem o tempo quase todo: – sou Técnico Oficial de Contabilidade de uma empresa de trading integrada no Centro Internacional de Negócios da Madeira, que se prepara para lançar um site inovador na área do comércio electrónico; – sou sócio único de uma pequena sociedade unipessoal de despachantes oficiais na Alfândega do Funchal; Procuro conjugar as duas actividades da melhor maneira, mas sou forçado a trabalhar na maioria dos feriados e fins-de-semana. Mas sempre se arranja tempo para a leitura das revistas do Tex!

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Marco Teixeira: Desde sempre, creio eu. Desde que me lembre, mesmo antes de saber ler, a BD esteve sempre de alguma forma presente na minha vida. De facto, tinha um familiar que lia BD e que me deixava lê-la. Isto no início dos anos 70 do século passado. Já lá vão uns anitos! Numa altura em que a televisão dava os primeiros passos ainda a preto e branco e em que para as crianças pouco mais havia do que o programa “Animação” de Vasco Granja, os computadores ainda não existiam para o comum dos mortais, naturalmente que a BD com as suas cores, desenhos e argumentos apelativos tinha que exercer um fascínio assinalável. Foi amor à primeira vista!

Colecção de BD de Marco TeixeiraQuando descobriu Tex?
Marco Teixeira: No meio de imensas revistas Disney brasileiras (das quais continuo a gostar imenso e de que possuo uns milhares…), BD franco-belga (as saudosas edições de álbuns da Bertrand e da Íbis), e uma multiplicidade de revistas da Editora Portuguesa de Revistas, lá estavam duas preciosidades: TEX nº 10 (A Flecha Negra)  e TEX nº 18 (Drama no Circo)  da 1ª edição da editora Vecchi. Apesar de ser na altura uma criança, desde então fiquei com o desejo de um dia poder vir a adquirir a colecção completa do TEX!

Porquê esta paixão por Tex?
Marco Teixeira: Além do saudosismo de finalmente poder comprar uma BD que por tantos anos tinha permanecido na minha memória, há também a questão dos desenhos/argumentos. Tex é desenhado muitíssimo bem, num magnífico preto e branco que tão bem realça a qualidade dos desenhos. E os argumentos, embora naturalmente se encontrem histórias parecidas, têm também uma grande diversidade e uma qualidade muito elevada. Creio que o faroeste é um tema muito interessante – as vastas planícies, os desertos, as tribos índias, tudo contribui para tornar o Tex uma revista única. De grande beleza são também as histórias ambientadas no Canadá!

Colecção de BD's de Marco TeixeiraO que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Marco Teixeira: Por incrível que possa parecer, Tex é a única publicação regular e já com um historial enorme, de uma BD ambientada em exclusivo no faroeste americano. De facto, para todos aqueles que gostam deste tipo de BD, as alternativas não abundam! Até mesmo o mercado de BD norte-americano, com tão grande volume de BDs, não tem nenhuma publicação actual que possa ser comparável em qualidade ao nosso Tex. É claro que não basta ser a única publicação disponível no seu género para que os leitores a comprem – para isso é preciso também que tenha qualidade. E Tex tem-na em doses generosas: nos desenhos e nos argumentos. E felizmente a Mythos tem o seu famoso padrão Mythos de qualidade, que nos garante revistas fiéis aos originais italianos, o que nem sempre aconteceu no Brasil. Por último, e também muito importante, Tex possui um conjunto de valores morais que são importantes: a justiça sempre prevalece!

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Marco Teixeira: A minha colecção está ainda incompleta – algo que pretendo solucionar nos próximos anos! Possuo cerca de 700 revistas, todas de edição brasileira uma vez que não domino a língua italiana e compro apenas as revistas editadas em português. Neste momento possuo todas as revistas editadas pela saudosa Vecchi e pela Mythos, faltando-me as revistas da Rio Gráfica e da Globo. Quando digo possuo todas excluo as da segunda edição, que, a meu ver, não têm interesse para quem como eu tem as da 1ª edição.
Uma das minhas maiores alegrias de coleccionador foi a aquisição de um pequeno lote de revistas, onde se incluíam “apenas” grande parte das primeiras revistas da Vecchi, as de formato maior, entre as quais a nº1 em excelentes condições!

Tex nº 1Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Marco Teixeira: Colecciono apenas as revistas. Existem de facto alguns coleccionáveis interessantes, nomeadamente o álbum de cromos editado há muitos anos pela Vecchi, mas sempre me fascinaram mais as revistas do que o merchandising. Isto vale naturalmente para as restantes colecções de BD que possuo. Se um dia abrir uma excepção será para adquirir um dos originais de uma página do Tex que sempre me interessaram. Para que saibam ao que me refiro, espreitem aqui:
http://www.tavoleoriginali.net/gallerie/album1.php?gallery_id=3

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Marco Teixeira: Não desejo nenhum objecto Tex em particular. Mas o que eu gostaria de possuir é algo que não existe ainda. Melhor dizendo, seria uma edição especial em formato maior, do tipo “Tex e os Aventureiros“, eventualmente com mais páginas mas mantendo a encadernação usada nessa colecção. Poderia eventualmente substituir o Almanaque Tex, publicando-se as histórias neste novo formato grande!

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Marco Teixeira: É difícil responder a esta questão. Tex tem já publicadas em português uma quantidade assinalável de aventuras ao longo de mais de 30 anos – é muito difícil escolher uma história favorita. Mas arriscando não mencionar alguma história excepcional, gostaria de referir as seguintes:
– TEX10 : A Flecha Negra (pela história, pelos desenhos e pelo facto de ter sido a primeira revista do Tex que li).
– TEX18 : Drama no Circo (boa história, acho-a muito original).
– TEX112 : El Muerto (uma BD que poderia ser adaptada ao cinema!).
Quanto aos argumentos, confesso que leio as histórias sem ter a curiosidade de ler quem é o argumentista. Tenho a ideia de que ao longo de tantos anos em que Tex é publicado, os argumentistas terão sido muito poucos, ao contrário dos desenhadores. Por isso, na minha opinião não faz muito sentido escolher o argumentista, até porque se regem por regras restritas.
Agora, em relação aos desenhadores, há-os para todos os gostos! Naturalmente com diferenças assinaláveis entre eles – sobretudo entre os desenhadores da excelente série Tex Gigante. Uma vez mais custa-me citar um apenas, pelo que irei referir G. Lettèri, Civitelli e Jordi Bernet.

Tex nº's 10 e 18O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Marco Teixeira: O que me agrada mais: o facto de ser um western com bons argumentos e com uma linha editorial consistente, embora envolva tantas dezenas de pessoas. O facto de por vezes depararmos com referências a aventuras antigas dá uma sensação de credibilidade ao universo de Tex, sem estragar as histórias com referências constantes, como fazem a Marvel e a DC Comics. Também me agrada a qualidade das novas histórias, quer ao nível dos argumentos, quer ao nível da arte, que me parecem não só manter o elevado nível de qualidade, como muitas vezes superam as histórias antigas. Um feito notável, sobretudo se tivermos em conta a longevidade das histórias do Tex!
O que me agrada menos: sobretudo um aspecto. Presente nas histórias mais antigas, felizmente pouco usado nos argumentos actuais, e que não é credível, diminuindo a qualidade das histórias em que intervém. E que é o facto de Tex utilizar por vezes as mensagens de fumo como se de um telégrafo se tratasse! Que eu saiba, tais mensagens eram usadas no antigo oeste apenas para transmitir mensagens previamente combinadas. Não era possível transmitir nomes, localizações e todo o tipo de informações que se vê em algumas histórias.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Marco Teixeira: Penso que será uma série de factores, entre os quais, a sua rectidão de carácter, a sua lealdade e o seu desejo de ajudar o próximo. Também a forma desprendida de fazer o bem sem esperar qualquer retribuição.
Tex é à sua maneira um herói, embora não tenha quaisquer atributos que normalmente associamos aos heróis na banda desenhada – um herói que tem sabido transmitir a sua mensagem aos leitores, de geração em geração.

Tex de VanniniCostuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Marco Teixeira: Infelizmente não. Tal deve-se ao facto de eu viver numa ilha, rodeado pelo oceano Atlântico – a ilha da Madeira. E por cá os coleccionadores de BD não são muitos, embora os haja. Conheço de facto alguns, mas não são coleccionadores do Tex. É preciso também que se diga que algumas revistas da editora Vecchi foram importadas e vendidas por cá – mas isto na década de 70. Entre essa data e a actual distribuição de revistas da Mythos (de facto, a melhor editora brasileira do Tex) decorreu um hiato de tempo muito grande, pelo que só agora existem as condições para que novos coleccionadores de Tex vão surgindo. Poucos foram os coleccionadores de cá que se aventuraram a importar do Brasil, com todos os riscos e custos que tal acarreta, revistas do Tex. Eu fui um deles!
Mas as coisas por vezes acontecem de uma forma estranha – há alguns anos conheci na Internet um coleccionador do Tex. Através da nossa conversa fiquei a saber que também ele procurava completar a sua colecção da Vecchi (presumo que o tenha conseguido). A surpresa foi grande quando soube que ele vive também na mesma cidade do que eu, aqui na ilha!

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Marco Teixeira: Estou convicto de que teremos Tex por mais algumas décadas. A renovação da equipa de trabalho na Bonelli tem ocorrido com regularidade, mas mantendo-se sempre as características que dão identidade à personagem. Creio até que nunca até agora a equipa foi tão boa – as histórias têm um novo “look” mais moderno e os argumentos continuam muito bem. Assiste-se a um constante processo de renovação em continuidade. E a ideia dos Tex Gigantes foi uma ideia de mestre – quase como um novo Tex a par da linha mais tradicional, permitindo chegar a um mais vasto público alvo. Em suma – uma personagem cativante, editada por uma empresa bem gerida. Espero poder ter o prazer de continuar a comprar Tex por muitos mais anos!

Prezado pard Marco Teixeira, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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