Entrevista com o fã e coleccionador: Marcio José Nichetti

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Marcio José Nichetti: O meu nome é Marcio José Nichetti, tenho 28 anos de idade e tenho grande paixão por quadradinhos Bonelli. Nasci em 23 de Abril de 1982 em Cascavel no Estado do Paraná, Brasil. Ainda pequeno, com menos de um ano de idade, a minha família mudou-se para Jaciara, Estado do Mato Grosso por breve tempo e em seguida para o interior do Estado de Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste do Brasil, numa cidadezinha emergente e promissora chamada Chapadão do Sul, em virtude tanto de seus fundadores assim como a quase totalidade dos habitantes na época serem oriundos da região Sul do País.
Já trabalhei num banco, actuei na área de informática por um tempo e desde que concluí a faculdade de Ciências Contábeis, há alguns anos,  trabalho na área contábil e financeira de uma empresa especializada em assessoria e contabilidade gerencial ligada exclusivamente à agricultura (muito desenvolvida e forte nesta região) e também sou responsável pela infra-estrutura de informática e sistemas, área na qual estou cursando outra faculdade.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Marcio José Nichetti: Desde muito pequeno, quando ainda nem sabia ler. Na época a minha família viajava bastante e quando passávamos perto de alguma banca de revistas os meus pais compravam revistas espontaneamente para me entreter durante a viagem. Com o tempo eu passei a cobrar para que comprassem sempre, especialmente quando, aos 6 anos de idade, aprendi a ler com a minha mãe ensinando-me em casa. A partir daí literalmente virei um devorador de livros. Das primeiras revistas de banda desenhada que tenho recordação vem-me à memória um exemplar de A Pantera Cor-de-rosa e várias da Disney, além de uma revista chamada Mundo Animal, na época editada pela antiga editora Nova Cultural.

Quando descobriu Tex?
Marcio José Nichetti: Por alguns anos o meu pai trabalhou em fazendas e aqui nesta região tudo era muito distante, um lugar novo, sem boas estradas, infra-estrutura inexistente e eu na condição de filho único na época além de não ter com quem brincar adorava ler. Recordo-me que um dia na fazenda, tendo lido e relido várias vezes as revistas que possuía e sem mais nada para fazer, minha mãe imaginando que eu não gostaria de nada em preto e branco mostra-me um exemplar de Tex, do qual não me lembro exactamente o título pois estava com quase 7 anos, mas salvo engano era “Na Polícia Montada”. Nem preciso comentar que na hora identifiquei-me totalmente com o estilo e as histórias fantásticas do Tex e o detalhe mais curioso é que eu não sabia que o meu pai coleccionava até mudar para cá, possuindo mais de uma centena de exemplares da Editora Vecchi. Foi uma festa para mim quando encontrei uma velha caixa de madeira em casa, cheia de revistas de Tex e também nessa época um outro funcionário desta fazenda sabendo da minha paixão por leitura e quadradinhos emprestou-me vários exemplares de Zagor, sendo a primeira edição da personagem que li a de título “Águas Misteriosas”.

Porquê esta paixão por Tex?
Marcio José Nichetti: Tex é único e é o verdadeiro e melhor faroeste que existe. Para mim qualquer filme ou outra publicação do género western, perdoem-me os fãs, ficam nas botas de Tex.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Marcio José Nichetti: Certa vez li em algum lugar que os italianos sabem fazer um faroeste melhor que os próprios americanos e devo concordar com isso, principalmente quando se trata de Tex. Talvez eu não saiba explicar exactamente qual é o elemento que torna Tex único e especial, mas acima de tudo acredito que seja o facto de ele ser uma personagem mais próxima da realidade, sem aqueles super poderes exagerados, com um carácter e senso de justiça marcante que serve inclusive de óptimo exemplo para todos nós.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Marcio José Nichetti: Como não tenho todas as colecções completas ainda de Tex, possuo em torno de uns 500 exemplares e mais uns 250 entre Zagor e Mister No. Como dificilmente posso ir em algum sebos (em Portugal: alfarrabistas), um pouco pela distância e outro por normalmente viajar a trabalho e não ter tempo de procurar, gosto de garimpar na Internet edições que me faltam e de vez em quando consigo material bem conservado. A minha meta é, se Deus quiser, a de completar algumas das minhas colecções em 2011.
Tenho grande carinho por todos os meus exemplares, mas os da colecção Tex em Cores são o estado da arte Bonelli para mim, especialmente os poucos exemplares da Collezione Storica a Colori que possuo.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Marcio José Nichetti: Por enquanto só estou coleccionando os livros e a minha preocupação agora está focada em completar as minhas colecções para depois um próximo passo, quem sabe.
As séries que colecciono de Tex são: Tex Mensal (1ª e 2ª edições), Tex Edição Histórica, Os Grandes Clássicos de Tex, Tex Ouro, Almanaque Tex, Tex em Cores, Tex Gigante, Tex Férias, Tex Anual, Tex Especiais e vários outros. O meu sonho de consumo é completar a Collezione Storica a Colori e que ela prossiga até o Tex actual e nunca pare, é a mais perfeita.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Marcio José Nichetti: Confesso que nenhum objecto me causou mais desejo de possuir do que a Estátua Ultra Limited Edition, produzida pela Infinite Statue, que inclusive fiquei conhecendo por meio do Tex Willer Blog.
A riqueza e a perfeição de detalhes deixam qualquer fã louco para ter uma.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Marcio José Nichetti: É complicado escolher a melhor história entre tantas fantásticas, mas vou indicar duas que reli mais vezes do que as outras: “O Mistério do Vale da Lua” e “A Flor da Morte”. Talvez não por saírem do lugar-comum mesclando um tema mais diferente da linha tradicional do faroeste, mas por transmitir uma certa atmosfera envolvente e um suspense digno de grandes produções do cinema.
Quanto aos desenhadores de Tex, admiro o trabalho de vários do staff texiano, mas destaco em especial o Civitelli com seu incrível traço limpo e realista. Da mesma forma acho vários argumentistas excelentes, mas para citar um que tem todo o meu respeito: G. L. Bonelli.
Da mesma forma que existem grandes desenhadores no staff de Tex também há outros que ainda precisam madurar um pouco o traço, como o Roberto Diso (que tem um óptimo trabalho em Mister No) desenhando um Tex quase irreconhecível algumas vezes e um outro que não me recordo o nome mas deixa a cara do Tex parecendo o Steven Seagal (…risos…).

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Marcio José Nichetti: Entre muitos itens, um dos que mais me agrada é a mensagem trazida por Tex, mesmo que de forma subtil, onde a persistência e determinação com que ele corre atrás de seus objectivos na certeza de alcançá-los serve como um exemplo a ser seguido por quem é batalhador em busca de realizar seus sonhos na vida real.
A única coisa que me desagrada em Tex é o tratamento e certa falta de respeito que algumas editoras podem ter com uma personagem como ele.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Marcio José Nichetti: Sem dúvida alguma acredito que o que mais caracteriza Tex como ícone é seu carácter e senso de justiça. Defende, trata bem e com igualdade todos que andam na linha independente de raça, religião ou cultura e já com os bandidos e demais elementos que trazem a desordem e a injustiça ele sempre age com mão firme, não importando se era um figurão de Washington com sua política suja ou um general de 10 estrelas.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Marcio José Nichetti: Ainda não foi possível participar de nenhum encontro de coleccionadores, principalmente em virtude de eventos do tipo acontecerem sempre bem longe da minha região e de o tempo ser curto nas datas escolhidas.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Marcio José Nichetti: Tex ainda tem muito fôlego para galopar nas pradarias do oeste mas não deixa de me preocupar o facto de que no geral os maiores coleccionadores e fãs pertençam a uma faixa etária mais madura e as gerações mais novas não têm herdado essa paixão de forma muito expressiva, salvo poucos exemplos.
Hoje existe muita poluição cultural e um bombardeio de modismos e afins sem qualidade que invadem a cabeça dos jovens, de maneira que faça muitos considerarem um bom faroeste como coisa ultrapassada e sem graça. Cheguei a comentar em um post no fórum do Portal TexBR que estava animado em ver alguns jovens começando a coleccionar Tex, mas creio que precise de algo mais sólido para continuar firme.
Mais um motivo pelo qual acredito que as editoras devem investir mais em publicidade e promover ao conhecimento massivo uma personagem tão marcante em nossas vidas como Tex, inclusive divulgando na televisão, já que tantas pessoas chegam ao ponto de embarcar em modismos simplesmente por que está passando na TV. Qualquer recurso para que nosso Tex continue a ter vida longa é válido (…risos…).

Prezado pard Marcio José Nichetti, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

4 Comentários

  1. Excelente entrevista, pard!!
    Legal a saga pelo Oeste, literalmente, e melhor, ainda, as descobertas que a leitura traz e mais, creio que seu pai é quem ficou feliz, por ver suas edições muito bem preservadas contigo!! Linda BiblioTEX!!
    E, que consiga ao longo deste ano completar sua coleção e quem sabe, consiga dar um pulo em Curitiba – do ladinho, rsrs!! – em Julho, não?!!
    Abraços, Wilson

    PS: E, para as futuras gerações se apaixonarem, só precisamos apresentar um bom Fumetti – alguns ex -alunos (crianças) dei uns Zagor, Mr. No, Martin Mystère e História do Oeste que tinha sobrando/duplicado para esse fim – trocas e doação, eventos culturais de promoção leitora-, curtiram bastante e quiseram ler mais destes, ao presenteá-los com HQs no final do ano passado!! – Está no meu blog (fotos e relato).
    Eles só precisam descobrir, como nós descobrimos!!
    E, já estou separando materiais – Fumetti e HQs-, pois já era para ter iniciado uma feira de troca ao mês, na escola onde trabalho, mas preciso trazer outras pessoas, para que a iniciativa se mantenha!!

  2. Exato, Cascavel fica no estado do Paraná,no sul do Brasil, creio que houve algum pequeno equívoco na hora da publicação.
    Mais uma vez, manifesto meus agradecimentos ao amigo Zeca pela honra dessa entrevista no Tex Willer blog!

  3. De facto houve um equívoco de minha parte, já que na resposta o pard Marcio Nichetti colocou a sigla estadual PR e eu erradamente deduzi que se tratava do Estado da Paraíba, quando afinal se tratava do Paraná, mas de todo o modo já corrigi o lapso e entretanto peço desculpa, sobretudo ao pard Marcio, pela confusão cometida.

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