Entrevista com o fã e coleccionador: António Meneses

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
António Meneses: Filho único de pais também filhos únicos, nasci na cidade do Porto na Ordem da Lapa, freguesia de Cedofeita. Dei entrada neste estranho mundo, por volta da 01:10h da manhã, do dia 17 de Fevereiro de 1964.
A nível profissional, actualmente estou aposentado da função pública, para onde entrei em 1996 com a categoria de auxiliar de topografia, tendo terminado desempenhando funções de expediente geral de escritório, embora nunca tenha subido de categoria (?!…). Fui emigrante e passei por seis países da Europa Ocidental, onde fiz um pouco de tudo. Hoje, dedico basicamente a minha vida, ao estudo e análise dos fenómenos comportamentais de cariz individual.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
António Meneses: O meu interesse pela banda desenhada, nasceu ainda antes de ter completado seis anos, pois já sabia juntar as sílabas e o meu pai para me incentivar, ofereceu-me alguns livros de leitura simples, tal como das colecções Apache, Falcão, Mundo de aventuras, etc…!

Quando descobriu Tex?
António Meneses: A minha descoberta da revista Tex, aconteceu num Natal cujo ano não me recordo e foi uma das prendas que recebi, dos livros 40 e 41 (1ª edição), respectivamente “O BRUXO MOURO” e “O MISTÉRIO DAS PEDRAS VENENOSAS“, ano IV desta sensacional colecção.

Porquê esta paixão por Tex?
António Meneses: Ao ler o primeiro livro, com facilidade me apercebi que se tratava de uma revista diferente, tanto a nível de argumento, como da qualidade dos desenhos, ambos para melhor do que já conhecia. Devo também referir, que ajudou muito não estranhar o português do Brasil, devido ao conhecimento das revistas Disney, da Editora Abril.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
António Meneses: Em primeiro lugar, penso que antes de conhecer Tex, nunca tive particularmente um verdadeiro herói, que se distinguisse dos demais. Gostava de vários, mas de uma forma muito equiparada. Poderei dar como exemplo o Bufalo Bill, o Oliver, o Zorro, entre outros. Depois, o realismo das histórias que tinham a particularidade de me transportar no tempo e no espaço, e de me fazer entrar num mundo não muito diferente daquele que eu conhecia. Muitas e muitas vezes, dava comigo não a ler um livro, mas a viver uma história real com personagens reais. Foi e é simplesmente fantástico.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
António Meneses: Não sei dizer um número exacto, até porque neste momento aguardo um lote que encomendei do Brasil. Como só colecciono o Tex normal, em comparação com outros Pards, terei muito poucas. Deverá rondar as 170. Teria muitas mais, se as normais contingências da vida, não me tivessem privado da presença do meu melhor amigo de sempre (meu pai). Não era uma colecção minha, mas sim nossa, e com a sua morte repentina em 1987, deixou durante alguns anos de fazer sentido. A não ter sucedido o que sucedeu, teríamos hoje seguramente uma belíssima colecção. Em relação à revista mais importante para mim, serão duas, as duas primeiras que citei anteriormente.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
António Meneses: Colecciono apenas livros Tex normal.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
António Meneses: Sinceramente o meu interesse no famoso Ranger, debate-se directamente com as suas atitude e carácter, do que propriamente com qualquer objecto pertencente à personagem. Talvez até haja algo, mas não é por esse prisma que reside o meu gosto tão especial por Tex.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
António Meneses: Para responder à primeira questão, terei de retroceder uns anos no tempo, todavia não é fácil destacar apenas uma. Assim, terei de referir no mínimo duas, mas por motivos diferentes. A primeira, o nº 34 (“NAVAJOS EM PÉ DE GUERRA“), devido à astúcia como estratega demonstrada por Tex, digna de nomes sonantes e não fictícios, ligados à história mundial. Soberbo!
A outra, e sem qualquer ordem numérica, realçaria a trilogia (nºs 43 a 45), iniciada no título “JURAMENTO DE VINGANÇA“, aquando da morte de Lírio Branco, e da respectiva reacção de Tex, perante um acontecimento tão contundente, provocado por um acto de uma atrocidade completamente impiedosa.
No que concerne ao desenhador, sem esquecer principalmente as fabulosas capas de Galep, destacaria F. Fusco, talvez pela expressão irónica e determinada, que transmite a Tex e seus Pards. Por outro lado, Monti, com um estilo notoriamente diferente, consegue atingir expressões faciais nomeadamente a Tex e Carson, denotando quase que uma sede de justiça personificada.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
António Meneses: A personagem que Tex representa, é sem dúvida muito mais que um simples herói de banda desenhada. É a meu ver, uma autoridade atípica, cuja forma de exercer as suas funções, ultrapassa largamente os métodos convencionais e antiquados. Acima de tudo, não hesita em punir quem deve ser punido, e em proteger o oprimido a qualquer preço doa a quem doer, mesmo aos ditos poderosos. Ele é a verdadeira justiça, a verdadeira lei. Ele é Tex, o símbolo da igualdade entre a raça humana.
O que me agrada menos é apenas o facto de o seu chapéu ser furado vezes demais do que devia. Também não me agradou terem falhado tantos títulos em Portugal.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
António Meneses: Penso que tudo que atrás foi já citado responde a esta pergunta. A sua forma de estar na vida e do exercício muito pessoal de fazer cumprir as leis, fazem de Tex o ícone que é.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
António Meneses: Não, não costumo. Porém, muito brevemente irei encontrar-me com um outro Pard que conheci via internet, no sentido de o conhecer pessoalmente.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
António Meneses: Nós, humanos, apenas passamos. Tex também passa, mas de geração em geração.
Julgo que 60 anos falam por si.

Prezado pard António Meneses, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

6 Comentários

  1. Uma saudação particular para o António Meneses, de cuja franqueza nas respostas gostei bastante, pois também sou natural da freguesia de Cedofeita, no Porto, embora tenha “emigrado” muito novo, por contingências da vida, para estas bandas do Sul.

  2. Caro Trajano Cenci, na realidade julgo que tenho sorte em possuir alguns exemplares, menos fáceis de encontrar.
    Quanto à questão que me coloca, em linhas gerais, é uma tentativa constante de perceber melhor as pessoas e suas atitudes e reacções, no sentido de melhorar o pequeno mundinho que me rodeia.

    Obrigado e cumprimentos.
    António J. Meneses

  3. Cara Nicole Di Domenico, a sua bela juventude aliada ao seu gosto pela personagem, vem por si só, confirmar a tese de Tex passar mesmo de geração em geração. Obrigado pelo seu comentário, e fico feliz por ter gostado da minha colecção.
    Cumprimentos,
    António Meneses

  4. Caro Jorge Magalhães, agradeço e retribuo a saudação. Quanto a ter notado franqueza nas minhas respostas, não poderia ser de outra forma, caso contrário seria perder tempo para nada.
    Somos então conterrâneos, e pessoalmente gosto muito das nossas freguesia e cidade, mas acima disso somos também ambos portugueses.
    Obrigado e cumprimentos,
    António Meneses

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