As Leituras do Pedro: Tex Ouro #80 – A Morte do General Custer

As Leituras do Pedro*

Tex Ouro #80 A Morte do General Custer
Originalmente publicada em Tex #490 a #492 (Itália, 2001)
Claudio Nizzi (argumento)
Giovanni Ticci (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Setembro de 2015
135 x 210 mm, 330 p., pb, capa mole
R$ 23,40 / 11,00 €

Esta é uma das mais atípicas histórias de Tex que já tive a oportunidade de ler.Por três razões principais, que passo a explicar.

A primeira prende-se com a estrutura do relato. Tex assume o papel de narrador numa longa descrição/entrevista (abrindo-se com alguma ingenuidade e demasiada confiança no ser humano?) a um jornalista interessado em escrever sobre a vida do general George Custer, cuja lenda prevaleceu para além da sua (trágica) morte.

Depois, temos o forte contexto histórico em que decorre a acção: a (preparação e a) batalha de Little Big Horn onde o general Custer perdeu a vida juntamente com (quase) todos os homens do 7.º de Cavalaria . Se em diversas vezes Tex, Carson e os restantes parceiros se cruzaram com a realidade, raramente – nunca? – uma aventura de Tex seguiu de tão perto essa realidade, interagindo com ela mas, naturalmente, sem a alterar de forma significativa.


Desta forma, descobrimos que Tex esteve em contacto com Custer várias vezes ao longo das semanas que antecederam o seu confronto com os índios de Cavalo Louco e fez os possíveis e impossíveis para que ele não tivesse lugar.

O que, naturalmente, não conseguiu, o que nos leva ao terceiro aspecto saliente desta aventura. Se estamos habituados a um Tex dominador, que controla os acontecimentos – e quantas vezes os força – desta vez, ele pouco mais é que um mero peão, impotente para travar o rumo dos acontecimentos, várias vezes ultrapassado por eles e, qual joguete do destino, correndo de uns para outros, atrás de objectivos que se revelam inalcançáveis.


Mas, mesmo assim, desta forma, Nizzi escreveu uma bela narrativa sobre uma das mais trágicas páginas da História do Oeste, conseguindo inserir nela Tex e Carson sem de forma alguma beliscar a realidade que já conhecíamos.

Ao mesmo tempo, traça de Custer – o verdadeiro protagonista de uma longa narrativa com várias figuras secundárias mas fundamentais – um retrato que o mostra como um homem (demasiado) ambicioso, surdo à voz da razão, disposto a tudo para conseguir os objectivos que se propôs (e que, segundo Nizzi, passavam pela presidência dos EUA). Desta forma, se é verdade que o desvia da imagem heróica que habitualmente lhe associamos, mostra-o bem mais humano e, no fundo, bem menos poderoso do que se julgava, como a História se encarregou (tragicamente) de provar.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *