As Leituras do Pedro: Monolith

As Leituras do Pedro*

Monolith
Roberto Recchioni (argumento e guião)
Mauro Uzzeo
(guião)
LRNZ
(desenho e cor)
Panini Comics
Espanha
, 22 de Novembro
195 x 259 mm, 192 p., cor, capa dura
19,00 €

Intensidade

Alguém disse que o importante não é história que se conta; o que é pertinente é a forma como ela é contada.

Por isso – tantas vezes – ideias que até parecem básicas, dão origem a obras bem conseguidas. Como este Monolith, aposta minha de (algum) risco, pelo (quase total) desconhecimento prévio de mais um lançamento espanhol do catálogo da Sergio Bonelli Editore, mas que se mostrou justificada.

Comecemos pela tal ‘ideia básica’: uma criança de 2 anos, fica fechada dentro de um carro, numa estrada de montanha, deserta, longe de tudo, com a mãe, Sandra, do lado de fora. Para condimentar, Roberto Recchioni (à partida uma referência forte, reconheço, depois do magnífico Dylan Dog: Mater Morbi) acrescentou um pormenor de suprema importância: a viatura em questão, é um exemplar de Monolith, um veículo quotidiano de última geração (futura), blindado e de máxima segurança, assegurada por computador.


A nota dramática é acentuada – em sucessivos flash-backs que quebram a narrativa e aumentam o suspense e o interesse do leitor – pelo facto de Sandra ter acabado de deixar o marido, sufocada pelo seu controle constante, motivado pelo passado conturbado e com uma história de dependência da jovem.

A partir daqui, a história assenta nas sucessivas tentativas de abrir o carro após um acidente e nos vários reveses que vão acontecendo, a  par dos perigos que vão surgindo.


Com isto, Recchioni construiu um thriller poderoso, intenso e sufocante, que é muito bem mostrado ao leitor pelo desenho camaleónico de LRNZ, que se vai ajustando – no traço e nas cores – aos diversos momentos e estados de espírito da protagonista.


Até um final que – dando razão a Mauro Uzzeo, co-autor do guião – mostra como um desenho – na realidade, aqui, seis vinhetas em duas páginas, servidas por um movimento inicial de aproximação de câmara, seguido por um afastamento progressivo – pode dizer tanto – ou tão pouco? – e deixar completamente desconcertados os leitores quanto ao efectivo desfecho que, naquelas (poucas) seis vinhetas, assume, em sucessão, duas direcções completamente díspares.


Tal como nas anteriores visitas da Panini Comics ao catálogo Bonelli, já aqui recenseadas – Primavera del 68 e Dragonero: Orígenes – a edição é muito boa, com papel de boa gramagem, excelente impressão, capa (muito) dura e uma série de extras que complementam esta obra, que deu também origem ao primeiro filme produzido pela Sky e a Sergio Bonelli Editore.


*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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