As Leituras do Pedro*
Lavennder
Giacomo Bevilacqua
Panini Comics
Espanha, Dezembro de 2018
195 x 259 mm, 144 p., cor, capa dura
16,00 €
Nunca. Na terra.
E pronto, a 14 de Janeiro, sinceramente sem contar, li o meu primeiro grande livro de 2019. Vai ficar como uma das minhas referências deste ano, especialmente pela tempestade emocional que conseguiu desencadear.
Lavennder, começa como um thriller de suspense e terror para, a certa altura, de forma sádica e despudorada, arrasar com um dos maiores mitos que embalou a infância e juventude de muita gente. E a minha também.
Número especial da colecção Le Storie – de que a Levoir nos proporcionou, no ano passado, o excelente Sangue e Gelo – Lavennder arranca com a chegada de Aaron e Gwen a uma pequena ilha deserta, para passarem 10 dias (que se pretendem) paradisíacos. E que o traço linha clara escolhido, com cores planas, quentes e agradáveis bem adequadas, tornam apetecível (também ao leitor).
E, naquela maravilha, nem um despedimento recente e algumas fricções de origem familiar, parecem ser mais do que problemas menores face ao (pequeno) sonho que uma promoção online tornou possível.
Só que – como sempre acontece… – aos poucos, pequenos (ou grandes?) incidentes, o agitar das folhas de uns arbustos, uma sombra entre as árvores… começam a provocar alguma inquietação e parecem anunciar que nem tudo era o que parecia e que o jovem casal não está afinal só naquele paraíso. Como o leitor – ao mesmo tempo que os jovens – pode ir intuindo.
Se esta trama base soa a déjá vu – e me recordou até Rocher Rouge, o título que me ‘forçou’ a criar este blog – a verdade é que Giacomo Bevilacqua, o autor completo deste tomo, a certa altura decide fazer uma inflexão acentuada no rumo escolhido. Sem alterar de todo o tom até aí claramente assumido, mas servindo uma explicação para as dúvidas que se vão adensando que – escrevo sem medo de errar – não estará de certeza nas cogitações de nenhum dos leitores. O desvendar de que ilha se trata, através da identificação daqueles que nela habitam é um primeiro murro no estômago, mas a revelação do verdadeiro carácter de personagens que nos preencheram sonhos maravilhosos na infância e juventude é de molde a deixar o leitor a um tempo estupefacto pela violência psicológica inaudita a que Bevilacqua se atreveu, mas também deleitado pelo modo como conseguiu transformar completamente uma narrativa de base vulgar.
E, quando chegados ao final, ele nos revela as pistas – 17! – que espalhou desde as primeiras páginas da história, só podemos admirar como adequou, subverteu ou deu a volta a questões nucleares que nos passaram ao lado, a pormenores do original de alguma forma travestidos para não denunciarem cedo de mais o que nos esperava, e agora se afirmam em toda a sua evidência como partes de uma narrativa bem estruturada, coerente mas surpreendente e, acima de tudo, bem conseguida.
Não posso – não devo – escrever mais sobre Lavennder – isso seria destruir o prazer da descoberta proporcionado pela leitura que eu já fruí – apenas posso aconselhar vivamente esta obra e – porque não? – a sua inclusão numa (futura?) colecção Novela Gráfica.
*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
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Muito bom.
Parabéns!
Estou ansioso mesmo pelo relançamento de Julia.
Falando em Julia, só li umas 5 hqs isoladas dela. Poderiam me informar se há estórias de Julia em que continuam na próxima edição igual Tex?
Prezado Hercule Poirot,
Apesar de não ser muito comum, há histórias de Julia Kendall que continuam na edição seguinte…