As Leituras do Pedro: El Verano del Comisario Ricciardi – El Lugar de Cada Uno

As Leituras do Pedro*

El Verano del Comisario Ricciardi: El lugar de cada uno

Marcello de Giovanni (argumento)
Paolo Terracciano (guião)
Alessandro Nespolino (desenho)
Panini Comics
Espanha, Maio de 2019
ISBN: 9788491678939
195 x 259 mm, 176 p., cor, capa dura
18,00 €.

Falsa indiferença

“La Nápoles de los años treinta es la protagonista principal de las novelas de Ricciardi.”

Maurizio de Giovanni na introdução de El Lugar de Cada Uno

E com a chegada do Verão, Nápoles torna-se (ainda) mais opressiva e extenuante.

El Verano del Comisario Ricciardi – El lugar de cada uno

Apesar das temperaturas elevadas – ou também por causa delas – a vida continua, arrasta-se qual calvário interminável e o comissário Ricciardi tem de descobrir porque foi (mais) uma bela mulher assassinada. Assassinada três vezes…

Trata-se da duquesa de Camparino, segunda mulher d(a velhice d)o duque e os suspeitos multiplicam-se: o marido, idoso, inválido e traído com todos os homens que (a) deseja(m); a governanta que o idolatra e a despreza; o enteado que a odeia; o amante recém-rejeitado…

Foi encontrada morta, nos seus aposentos particulares, fechados por dentro, e Ricciardi é encarregado de investigar quem a assassinou. Uma, duas, três vezes, como a autópsia e as evidências demonstrarão e os leitores poderão deduzir da veracidade do aparente contra-senso…

Indiferente a isso – sem que isso lhe seja indiferente – a vida em Nápoles prossegue, cada vez mais asfixiada pelo poder crescente das milícias fascistas e das suas regras censórias, perante os cada vez mais ténues protestos de uns poucos e os silêncios cobardes e cúmplices da maioria.

Indiferentes ao crime – embora ele seja comentado nas suas ruas e praças – a vida prossegue nelas e na (falsa) segurança das casas particulares, com os pequenos dramas de cada um a sucederem-se em paralelo à investigação: o excesso de peso do cabo Maione, o silêncio crescente do jornalista em tempos audaz, as aventuras sexuais do médico legista, os amores proibidos, os desejos (mal) contidos, as fachadas que não espelham o interior, a luta quotidiana para pôr (alguma) comida na mesa…

Porque Nápoles, mais do que os edifícios de época, mais do que as ruas estreitas, as praças amplas, os jardins, as igrejas – tudo bem retratado por Nespolino, natural da cidade… – é o conjunto de pessoas que vive e confere alma à cidade, cidadãos mais ou menos anónimos que vivem, sobrevivem, sofrem e às vezes se divertem.

(Menos) indiferente a tudo isto (do que parece), Ricciardi vai juntando as pontas, ordenando as pistas, descartando suspeitas, arrisca a pele e a carreira ao afrontar os poderes vigentes e, continuamente atormentado pelas vítimas de crimes violentos que (literalmente) vê desde criança e cujas indicações se mostram sempre decisivas para obter respostas, valoriza mais estes mortos do que os vivos com quem partilha o quotidiano – ou com quem aspira a partilhá-lo.

A edição da Panini espanhola, mais uma vez encerra com um dossier de 12 páginas, com a reprodução de fotos que lhe serviram de base, esboços das personagens, esquissos das cenas e uma entrevista com o desenhador que explica o seu processo de trabalho.

El Verano del Comisario Ricciardi – El lugar de cada uno

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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