ANDREA VENTURI: Tex, circo e as figuras distorcidas

Por Jesus Nabor Ferreira[1]

Venturi e TexNo início dos anos 90 surgiu no staff bonelliano um novo e talentoso desenhador. Seu nome Andrea Venturi. Tendo iniciado no titulo “Cult” Dylan Dog, Andrea logo prestou seu talento ao grande herói da casa editorial Bonelli, o mítico TEX WILLER. Como é praxe na Bonelli, os “novos” autores não começam logo no título mensal e sim em edições especiais (o que, diga-se de passagem, mais do que uma desvantagem, na opinião deste que escreve, é uma maneira de dar segurança ao novo artista para ir encontrando-se com o mundo da personagem) como aqui foi o caso de Venturi. Ele estreou no Almannaco Del West 1996.

O Matador de ÍndiosAndrea Venturi trouxe um novo frescor ao mundo do Ranger, com um estilo muito realista, de fortes sombras e anatomias perfeitas, seu desenho lembra muito um grande autor americano que revolucionou os quadradinhos no fim dos anos 60: Neal Adams.

É uma pena que Venturi não seja um autor rápido e que não tenhamos tantas aventuras desenhadas por ele no título Tex. É como dizem sempre: Qualidade e quantidade não costumam andar juntas.

Há, quanto a cenários, em suas aventuras, certa predilecção, não sei se do roteirista, ou do próprio Venturi, por ambientes circenses, com uma fauna de personagens caricatas e estranhas. Cenário perfeito para o desenhador apresentar todos os seus recursos. Em “O Matador de Índios“, Venturi desenha um assassino mascarado, facto pouco usual nas aventuras do Ranger. Na história, “Missão em Sierra Vista“, mais um desfile de personagens estranhas, e um Tex agindo em solitário.

Ópio 6Mas é na história “Ópio“, que Venturi apresenta seus tipos mais estranhos: Uma trupe de actores, onde há uma estranha relação de ódio, paixão, desprezo, ganância e crime, entre os seus componentes. Tex e Carson investigam uma operação de tráfico de drogas e acabam cruzando o caminho desta estranha “família”.

Na aventura seguinte desenhada por Venturi, uma história mais corriqueira dos Rangers, mas nem por isso, o desenhador deixa de dar o seu toque pessoal ao texto.
Vinheta da história "Ópio" Nas Florestas de Oregon” é uma aventura que leva Tex e Carson ao encontro de seu amigo Gros-Jean para investigar um caso de sabotagem. Os dois amigos têm de assumir um disfarce para se infiltrarem entre os lenhadores. E mais uma vez Venturi apresenta-nos um par de personagens pitorescas e caricatas: O gigante, o anão, o traidor cobarde … Até agora estes foram os trabalhos de Venturi editados no Brasil com o Tex. Todos de uma qualidade fora de série.

Tigre Negro desenhado por VenturiEstamos todos à espera do novo trabalho de Venturi, que trará de volta um grande inimigo do Ranger, o Tigre Negro. Que, diga-se de passagem, um dos últimos grandes inimigos de Tex ainda vivo! E dizer isto, não é dizer pouca coisa!

(Para aproveitar a extensão completa das imagens, clique nas mesmas)

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(Texto publicado originalmente no Blogue Zona Franca Comics, em 22 de Agosto de 2009)
[1] Coleccionador de Banda Desenhada desde 1976. Contacto: zonafranca34@hotmail.com

4 Comentários

  1. Na história “Nas florestas do Oregon” a arte do Venturi é deslumbrante, num estilo mais clássico que lembra o de mestres como John Buscema, Ross Andru, Jack Kirby, John Byrne e o próprio Adams. Seu traço parece estar mais confiante do que na estréia em “O Matador de ìndios“, com pinceladas mais grossas e representação mais sintética. Certos painéis chegaram a me lembrar o trabalho de Darwyn Cooke ou Bruce Timm.

  2. No início, Venturi me lembrava mais Giovanni Ticci, ao menos na história de “O Matador de índios

  3. Caro Henrique, curioso você mencionar “Nas florestas do Oregon” pois estes dias mesmo estava eu revendo este arco de histórias, pois recebi as edições coloridas da coleção Storica onde aparece este magnifico trabalho do Venturi. Com certeza concordo com você que já para este trabalho Venturi está mais confiante em sua técnica e parece estar buscando um estilo mais próprio fugindo das comparações com os grandes Ticci e Neal Adams (esta é claro, uma opinião meramente minha).
    Mas por outro lado, não consigo encontrar semelhanças entre o seu estilo e o de autores como Bruce Timm ou Darwyn Cooke – que aliás admiro muito, e Darwyn para mim é fantástico e o comparo ao mestre Mike Mignola, de quem Venturi também diz ser fã.
    Abraço
    Jesus Ferreira

  4. Mário, sério? Achei o trabalho dele naquela edição bem mais “realista” do que o habitual do Ticci… O mais legal é ver como a técnica de pincel dele evoluiu desde então, com pinceladas mais seguras e “generosas”, rsrs

    Jesus, não chego a achar a arte do Venturi semelhante à do Cooke e Timm, que são artistas tão sintéticos que chegam a ser cartunescos (nada contra). Tive essa sensação apenas em uns 2 ou 3 painéis em que Venturi foi mais “econômico”, hehe. Talvez pela técnica que usou nessa edição, com traço grosso, sombreamento em alto contraste (com “manchas” compactas) e hachuras mais regulares.

    Não sei se esta seção de comentários aceita html, mas vou tentar colar aqui em baixo um scan de um desses painéis a que me refiro.

    Tex Willer por Andrea Venturi

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