Albo Speciale Tex n. 22 (Texone): Seminoles

Albo Speciale Tex n. 22 (Texone) - SeminolesAlbo Speciale Tex nº 22 – “Seminoles” de Junho de 2008.
Argumento de Gino D’Antonio, desenhos e capa de Lucio Filippucci. História inédita no Brasil e Portugal.

Por vezes, a leitura de um determinado álbum é precedida de alguma curiosidade que nos leva a tomar partido em determinado sentido. Confesso ter ficado bastante agradado quando no Salão MouraBD2007 pude previamente contemplar algumas pranchas desenhadas pelo excelente Lucio Filippucci para Tex, além do facto de que um argumento assinado por alguém fora da órbita texiana (como Gino D’Antonio, desaparecido em 2006) era outro dos motivos a ter em conta.

A verdade é que encerrada a leitura, fica uma agradável surpresa gráfica e escrita, fica-nos uma sensação de que este álbum guarda algo de novo nestes últimos anos, o que não é de desprezar. Apesar disso, Seminoles respeita o modelo tradicional da série e aquilo que poderá parecer um argumento pouco inovador, revela-se antes ser uma história cativante, rica e com algumas mensagens.

Tex por FilippucciTudo começa com Tex e Carson a chegarem a Forte Bliss na Louisianna onde se encontra preso o índio seminole Ochala, acusado de ter assassinado um ranger. Os dois pards têm a missão de conduzir Ochala vivo até San António no Texas, onde o aguarda a justiça. No entanto, Longknife, um outro seminole,   consegue introduzir-se no forte e resgatar Ochala, fugindo ambos na noite.
Tex e Carson vão atrás dos dois fugitivos, mas Carson é ferido deixando Tex sozinho na pista dos índios. Entretanto, Lafarge, um guia índio, também tem interesse em ir atrás dos seminoles, sobretudo de Ochala, pois este tentou matá-lo, sem que se saiba dos reais motivos que o moveram a isso.

Por este resumo podemos ser levados a pensar estarmos em presença de uma trama pouco original, como já apontámos.
Todavia, não é só a narração fluida, é sobretudo um conjunto de mensagens que D’Antonio deixa no leitor, sem desvirtuar a realidade texiana, que consegue criar uma forte empatia. À parte Carson, cujo papel é curiosamente algo reduzido, todas as personagens estão muito bem caracterizadas: Tex é incisivo, corajoso, duro, mas é sobretudo um ranger que reflecte e que pensa com a sua cabeça. Ele é verdadeiramente o protagonista de toda a aventura, tudo gira em seu redor e a sua acção consegue ser decisiva e reflexiva sem desvirtuar o modelo.

Arte de FilippucciLafarge revela-se como um solitário, um renegado com um passado manchado de sangue e morte e que não hesita em ir atrás de Ochala sem saber dos reais motivos que levaram este a tentar matá-lo. Ochala vai evoluindo ao longo da história. Sedento de vingança numa primeira fase, o Seminole assume-se posteriormente como o chefe do seu povo, alguém que pensa mais largo e não em termos estritamente pessoais. Ochala procurou vingar um episódio do seu passado, mas concluiu que o presente não poderá ser hipotecado pelo ímpeto da vingança. Rapidamente, consegue   criar empatia junto do leitor e conquistar a adesão de Tex.

Tex de FilippucciPor outro lado, propositadamente ou não, D’Antonio deixa ainda um conjunto de mensagens plenas de actualidade. A velha questão de um realismo político levado ao extremo, quando a personagem de Batterbaum, um pequeno homem que sonha alcançar o posto de governador do Texas consegue convencer o próprio presidente dos Estados Unidos a implicar-se na prisão de Ochala porque isso lhe renderá votos, a fuga dos Seminoles para outras paragens receando a fome que os brancos têm por conquistar novas terras, não deixando ainda de focar mesmo ao de leve na velha questão do esclavagismo que, apesar do final da guerra da Secessão, muitos teimavam em ver no negro um homem diferente.

O desenho de Filippucci é excelente! Maravilhosos ambientes, cenários grandiosos e um sentido apurado do detalhe. Tanto Tex como Carson estão sublimes, verdadeiramente modelados de Ticci, mas com Filippucci a dar-lhes o seu toque, o seu estilo, que, por exemplo em Tex, consegue sempre criar um olhar incisivo e penetrante, consegue sempre construir um ranger que responde sempre pela sua acção, mas também com a sua consciência.
No fundo, não é isto que queremos para Tex?

Texto de Mário João Marques

2 Comentários

  1. Só a capa já me deixou estupefato.
    Seminole retratado como Seminole????
    Caramba!Essa edição deve ser nota 10!
    Esperemos sua chegado no Brasil
    AMoreira.

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