A Opinião do Rui: Tex Platinum nº1 – O Caçador de Fósseis

Por Rui Cunha

Ao longo da sua já longa existência, de quase 70 anos (a cumprir em 2018), Tex Willer, o carismático Ranger do Texas, personagem de Banda Desenhada, criado no já distante ano de 1948, por Gian Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini, viveu inúmeras aventuras, algumas delas inesquecíveis, a  apelar ao seu senso de justiça, na companhia dos seus três companheiros de sempre: o seu filho Kit Willer, o índio Jack Tigre ( em muitas aventuras) e Kit Carson ( na maior parte delas), nunca decepcionou os seus fãs, espalhados um pouco pelo mundo inteiro onde chega a Nona Arte. Entre as dezenas de desenhadores e argumentistas que fizeram e ainda fazem parte do “staff” texiano, alguns deixaram marcas indeléveis na obra do Ranger. José Ortiz, o desenhador espanhol foi um desses casos.

Ortiz, quando foi recrutado para a Bonelli, em 1993, já tinha nome dentro e fora do seu país e créditos firmados no mercado da Banda Desenhada. Entre muitos trabalhos e colaborações em revistas e livros de BD, durante as décadas de 70 e 80, foram as suas obras feitas em parceria com Antonio Segura,  argumentista de renome e também ele espanhol, que mais chamaram a atenção sobre si. Não admira, pois, que até chegar a Tex  fosse apenas uma questão de tempo.

A sua estreia nas aventuras do Ranger aconteceu com “La Grande Rapina”, um Tex Gigante, escrito por Claudio Nizzi, que foi servindo para que o desenhador espanhol se adaptasse às personagens. A história tinha a ver com um bando de assaltantes de comboios que Tex e Kit têm de neutralizar antes que eles consigam roubar o comboio que traz o pagamento do exército. A estreia foi auspiciosa já que o seu desenho não desapontou ninguém, a começar na editora e a acabar no público. Estava dada a luz verde para novas aventuras de Tex desenhadas pela mão de José Ortiz.  A aventura seguinte viria a ser “Il Cacciattore di Fossili” e já incluía Antonio Segura, que fora entretanto recrutado para a série, no argumento. E é precisamente esta aventura que motiva este texto.

Il Cacciattore di Fossili” que em português recebeu o título de “O Caçador de Fósseis”, foi editada em Novembro de 1997 e pode dizer-se que é uma aventura do mais texiano que alguma vez me foi dado a ler (e eu já leio Tex desde os meus 11 anos!), mesmo sendo uma aventura passada no velho Oeste das grandes pradarias e das montanhas rochosas, com índios e vilões à mistura, mas com uma temática invulgar (a caça aos fósseis), mas tratando-se do universo texiano, tudo é possível.

Tex e Kit Carson estão a perseguir um bando de ladrões de gado. A sua pista leva-os até à  cidade de Buffalo, no Wyoming, onde  encontram Tom Baxter, um velho amigo que é Xerife e lhe pedem algumas informações sobre o bando. Na mesma altura outras figuras se movem, cada uma com os seus intuitos: “Four Bears”, um índio astucioso e impiedoso, cujo ódio pelos brancos é a sua única razão de existir; Charles Sutter, um paleontólogo brilhante cuja inteligência e dinheiro foram postos ao serviço do crime; Red Barnum, um caçador de prémios famoso que com uma bala alojada perto do coração ainda sonha em ter uma boa vida; finalmente, Edward Cope, outro paleontólogo  que percorre o Oeste em busca de vestígios do passado, na companhia da sua filha e de um negro que funciona como uma espécie de guia-protector daquela família. Todas estas figuras, de uma maneira ou de outra, irão cruzar-se com os dois Rangers.


Como qualquer boa história do Oeste, onde não se perde tempo com grandes apresentações de cenários ou personagens, também em “O Caçador de Fósseis”, a dupla Ortiz/Segura considera que tal seria quase uma perda de tempo, assim todas as personagens são-nos apresentadas nas primeiras 40 páginas (numa história com um total de 353 páginas!), onde fica igualmente dado o  mote para a aventura e o que se segue é um verdadeiro “Labour of Love” que nos é dado pelos dois autores, tal é a convicção com que Ortiz nos mostra a sua versão do Oeste, não descurando nenhum pormenor em belos planos/desenhos (como por exemplo no belíssimo quadro da carga dos búfalos na pág. 220) e dando especial atenção  a todas as sequências de acção, com especial ênfase pormenorizado no ataque dos índios “Pés-Pretos” e no sacrifício de Red Barnum (pág.283 e seguintes), seguindo, passo a passo, o argumento que Segura escreveu com grande à-vontade e conhecimento (tal fica patente nos ricos diálogos entre as personagens e na patética, mas bem-humorada, figura de Salomon, o velho e bêbado pesquisador de ouro).

Quando tudo parece estar quase resolvido e a correr bem para os nossos heróis e seus amigos, com Tex, apelando mais uma vez ao seu senso de justiça, a pacificar as partes em confronto, Antonio Segura lembra-nos que ainda não é tempo de guardar as armas pois ainda falta apanhar o mais difícil dos vilões e então, afastando-se daquilo que poderia ser mais uma banal história do Oeste, José Ortiz, através duma série de quadros muito bem conseguidos (toda a sequência em que Tex e Kit escalam a vertente mais difícil do monte ou o confronto final ente Tex e Sutter, com direito a cena com chicote “à lá Indiana Jones”) , introduz-nos na mais pura aventura, homenageando assim um dos géneros mais antigos da literatura em que a Banda Desenhada desempenhou e (ainda) desempenha um papel incontornável, mas sem nunca perder de vista o Oeste, género-base de toda a aventura e, à volta da qual, toda a história se move num grande dinamismo.

A recepção dada a esta aventura do Ranger, foi tão boa que, não só a dupla de autores nunca mais deixou de trabalhar para a Editora Bonelli, como, em Fevereiro de 2016, “O Caçador de Fósseis”, foi escolhido pela Editora Mythos, principal responsável pela distribuição das aventuras do Ranger no Brasil e em Portugal, para iniciar uma nova série intitulada “Tex Platinum” que agora chegou a terras lusas..

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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