Gianluigi Bonelli é Tex!

Não acontecia com frequência e não acontecia com todos, mas, às vezes, Gianluigi Bonelli falava de si mesmo. De como Tex, o seu filho literário predilecto, acabou por se parecer com ele. Ou vice-versa. Gianni Bono relatou essa semelhança num novo livro.

Nas livrarias italianas e lojas especializadas de banda desenhada a partir de 11 de Janeiro mas já disponível na loja online da Sergio Bonelli Editore, GL Bonelli. Tex sou eu! é o novo livro de Gianni Bono, que depois da história de toda a família Bonelli (e consequentemente da editora milanesa), desta vez se concentra no criador do mais famoso Ranger da banda desenhada italiana, contando notícias e anedotas que Gianluigi Bonelli lhe narrou durante anos. De seguida propomos o início da história, com algumas das páginas que compõem o livro e um trailer feito por Alex Dante para apresentar o livro.

Mauro Boselli exibe o livro G L Bonelli – Tex sono io!

Giorgio Bonelli também exibe orgulhosamente o livro dedicado ao seu pai

Estava particularmente frio naquela manhã em Milão. Assim, tomei outro café no bar antes de me deslocar ao prédio da via Buonarroti 38, na redacção Bonelli, e folheei o jornal Repubblica que estava sobre uma mesa. Era quarta-feira, 18 de Janeiro de 1989.

A capa de G L Bonelli – Tex sono io!

E pouco depois ei-lo, na minha frente, G.L. Bonelli. Ele recebe-me no gabinete de Decio Canzio, braço direito e esquerdo de Sergio. O homem que, se o mundo caísse, era capaz de manter as coisas a funcionar de qualquer maneira na editora; aquele em que você sempre pode confiar. De acordo com o rito, sentamo-nos nas poltronas de couro em lados opostos de uma simples secretária branca, cheia de papéis e artigos de papelaria e na qual se destacam três modelos de dinossauros. Talvez Decio os use para intimidar os redactores. O chefe é certamente um tiranossauro de cerca de vinte centímetros de altura que olha casualmente para o cinzeiro próximo.

G.L. mesmo com oitenta anos, mesmo quando sentado, ainda é um pedaço do homem; uma presença não desprezível, que se destaca contra simples estantes brancas às suas costas. Será o contraste com o casaco escuro, será a luz fria que o inunda da janela que dá para a avenida arborizada, mas há uma atmosfera que, senão de espanto, incute pelo menos um respeito reverencial. G.L. deve tê-lo intuído porque começa a falar dirigindo-me um elogio:

Meu jovem, simpatizo consigo, porque não me pede, como todos os seus colegas da imprensa, para falar de Tex. Eu não aguento mais. Sempre as mesmas perguntas: Tex é de direita? Tex é de esquerda? A que se deve o sucesso de Tex… Quantas balelas! Eles são monótonos, não têm imaginação.

Bem, imaginação a si não lhe falta certamente!

– Pode dizê-lo bem alto, meu amigo! É verdade, fiz os meus personagens viajarem para longe, para lugares onde nunca pus os pés. Assim como Salgari. Só que eu, ao contrário do Emilio, pelo menos tinha visto esses territórios no cinema. Eu gostava das paisagens que os filmes de faroeste me revelaram. Combinei aquela vida e aqueles ambientes com o meu carácter e as minhas ideias, ou seja, que o bem é bem e o mal é o mal; como o preto e branco da banda desenhada. Depois, no final, para comemorar os meus oitenta anos de vida, com alguns meses de antecedência, os meus filhos Sergio e Giorgio levaram-me aos Estados Unidos e eu vi com os meus próprios olhos todos os lugares onde Tex e Carson muitas vezes acamparam e combateram por mais de quarenta anos. Ambientes imensos e impressionantes que me eram familiares sem nunca ter estado lá. Na verdade, o que mais me impressionou foi o seu tamanho e beleza. Estou muito grato aos meus dois rapazes por este presente.
Além disso, o Sergio, não sei se fez de propósito, mas abriu ao público a etapa de Mantova da Mostra itinerante “La balata di Tex”, no Palácio da Ragione, precisamente por ocasião do meu aniversário. Oitenta anos eu, e quarenta ele, o Tex. Que êxtase!

– Mas o senhor não me disse que não queria que falássemos de Tex?

– Sim, tem razão, mas que o diabo me carregue, como se faz para não mencioná-lo?

– Mas o senhor fala exactamente como ele!

– Bem, o que é que isso tem de estranho… Não sabe que eu sou o Tex?

Ele sorri matreiramente, ciente de que esta brincadeira, com algumas variações, é já um clássico do seu “repertório”.

Gianni Bono

3 Comentários

  1. Aprecio muito esse material, tenho alguns exemplares que contam particularidades da vida de G.L. Bonelli.

  2. E a Mythos não traz nenhum livro desses. Até a mensal voltou a ser editada em formatinho e papel jornal em pleno 2021, totalmente inaceitável. Bom que sobra dinheiro pra investir nas editoras que estão trazendo fumettis com custo benefício muito melhor.

  3. O livro deveria ser publicado no Brasil.
    O retorno do Tex formato italiano também, no entanto, sequer publicaram o álbum de figurinhas.

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