As Leituras do Pedro – Deadwood Dick: Entre Texas y el inferno

As Leituras do Pedro*

Deadwood Dick: Entre Texas y el inferno
Baseado na novela Hide & Horns, de Joe R. Lansdale
Maurizio Colombo (argumento)
Pasquale Frisenda (desenho)
Panini Comics
Espanha, 27 de Agosto de 2020
195 x 259 mm, 144 p., cor, capa dura
ISBN: 9788413345222
18,00 €

Humor… negro

E quando podíamos pensar que o western era um género tematicamente encerrado, do velho Oeste puro e duro ao tom humanista, do humor caricatural ao relato centrado no índio, do histórico à miscelânea com outros géneros… eis que surge Deadwood Dick.
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Ou nem tanto porque, as suas aventuras desenhadas não são mais do que a adaptação aos quadradinhos das novelas originais de Joe R. Lansdale.
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Lansdale que, curiosamente, também é argumentista de comics, tendo bebido neles desde a infância muita da inspiração que o tornou escritor, como revela na entrevista que encerra o presente volume – ou que abre o dossier final… – onde também encontramos muitos estudos e ilustrações de Pasquale Frisenda.

Deadwood Dick – Entre Texas y el inferno, página 24

Resumo puro e duro

O encontro com um negro, ferido a tiro e preso debaixo de um cavalo, que acabará por morrer, levará Deadwood Dick a Hide & Horns, um povoado miserável onde a cor (também) da sua pele – ‘negro como carvão’, dirá alguém – e o desejo de enterrar (outr)o negro no cemitério local desencadeará a ira dos seus habitantes e provocará um quase massacre num festival de tiros como há muito não via. E desfrutava!
Um western puro e duro, portanto, que questiona a introdução feita acima a este texto. Mas….

Deadwood Dick – Entre Texas y el inferno, página 38

Um resumo mais colorido

O sub-título acima não é nada politicamente correcto – é assumido e adoro que não o seja – mas Deadwood Dick também está longe de o ser. Negro, perseguido por isso desde a infância, tendo sofrido na pele – literalmente – pela cor desta, o protagonista enfrenta a situação com um humor requintadamente…negro! E, na prática, é ele que vai fazer a diferença numa história que poderia ser banal – pese embora toda a adrenalina envolvida – se o protagonista fosse um outro qualquer cowboy – e neste ‘qualquer’ poderiam até caber Tex, Bluberry ou outros que (nos) vêm à memória.
Ao colorido acima referido, reforçando a cor de Entre Texas y el inferno, podemos acrescentar o vermelho vivo do sangue que corre a jorros e o amarelo desmaiado de um chinês prepotente e de umas quantas prostitutas (forçadas) ao seu serviço.

Ou ainda, sem colorido especial, o mau hábito de ajudar vítimas desconhecidas no deserto, uma prostituta feita zarolha e um cadáver que teima em passear-se – literalmente mas sem nada de fantástico ou de sobrenatural… – de um lado para o outro.
Um conjunto invulgar de protagonistas, figurantes e situações, que contribuem, afinal, para a tal diferença frisada de início e para fazer de Deadwood Dick, uma daquelas obras a ler – e que encaixaria muito bem na colecção Aleph de A Seita. [Fica o recado.]

Deadwood Dick – Entre Texas y el inferno, página 75

Mas a preto e branco

Escrito sobre o signo das cores – parcas e pouco vistosas, na verdade – este texto não podia encerrar-se sem que destacasse o preto e branco em que o livro foi impresso. Se na anterior abordagem a Deadwood Dick a Panini espanhola tinha optado pela versão colorida – desperdiçando na altura o magnífico trabalho original do grande Corrado Mastantuono, agora, felizmente, a opção foi manter imaculado o preto e branco de Pasquale Frisenda que assina mais um magnífico trabalho, afirmando-se como um dos melhores desenhadores actuais da Sergio Bonelli Editore.
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A força das expressões, a expressividade do traço, a naturalidade dos movimentos – tão importantes num western em que sobressai a acção, a par de uma violência desbragada e mostrada às claras – a definição de volumes e perspectivas, até a variedade de soluções que a planificação ostenta – apesar dos limites naturais por se tratar de uma edição Bonelli – justificam plenamente um regresso ao livro, para apreciar atentamente a sua arte, depois da leitura sôfrega para que nos arrasta o argumento sólido e irresistível de Maurizio Colombo.
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*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro 
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(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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