As Leituras do Pedro: Le Storie; Leonardo Da Vinci – La sombra de la conspiración

As Leituras do Pedro*

Leonardo Da Vinci: La sombra de la conspiración
Giuseppe De Nardo (argumento)
Antonio Lucchi (desenho)
Panini
Espanha, 9 de Janeiro de 2020
195 x 259 mm, 144 p., cor, capa dura
16,00 €

Lição

Lição de História. Lição de contar histórias. Lição de contar histórias com História. Com a História como pano de fundo da história que se pretende contar.

É isso que faz neste livro, de forma consistente e conseguida, Giuseppe De Nardo, que já tinha feito algo similar em Le Storie: ¡Matad a Caravaggio!,  uma outra biografia romanceada, de um outro grande mestre italiano, outra leitura (já)  recomendada por As Leituras do Pedro.

É verdade – reconheço – que uma completa fruição desta obra passará por conhecer (um pouco) da História italiana na época de Leonardo Da Vinci, com as constantes mudanças de poder, de estatuto e de alianças entre as diversas cidades-estado que dividiam o território hoje conhecido por Itália e os confrontos intermináveis entre elas, mas o contrário não impede a abordagem do leitor a Leonardo Da Vinci: La sombra de la conspiracióne à percepção da história, até porque as informações essenciais estão disponíveis no relato ou em notas de rodapé. Mas que o conhecimento – de que Leonardo era ávido – nunca fez mal a ninguém…

História que, apesar da contextualização histórica e da referência – de passagem mas com intuitos narrativos que se vão revelando – a diversos aspectos da vida e da obra do inventor – a verdade e o realismo que buscava nas suas pinturas, a (herética) dissecação de cadáveres para melhor conhecer a anatomia e o funcionamento do corpo humano, a invenção da besta… – é, na sua essência, um relato policial, a investigação de um assassinato  – específico, mesmo que sejam vários aqueles a que assistimos no desenrolar das páginas.

Investigação – para retomar o fio narrativo exposto acima – que inclui todos os passos que hoje reiteramos como fundamentais: investigação do local do crime, análise das provas, contextualização da vítima no tempo e no espaço, inquérito, audição de possíveis testemunhas… e a revelação, nas páginas finais, cerca de 20 anos mais tarde – por razões que De Nardo justifica e porque o tempo histórico é diferente do nosso – do culpado.

Em termos gráficos, se – como tantas vezes acontece – a capa não espelha o que vamos encontrar no miolo, desta vez fá-lo por defeito, porque as belas aguarelas de Antonio Lucchi revelam-se ideais para recriar os mais de 30 anos do Renascimento em que decorre a história  e, mais do que isso, o meio artístico em que boa parte dela tem lugar, criando,  ademais disso, um belo contraste com as cenas evocadas perante o leitor – como se ele a elas não ‘assistisse’ da mesma forma – que são apresentadas de forma mais crua e violenta, como que ainda em fase de esboço, desnudadas de acabamento.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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