HOLA, AMIGO!

Por Júlio Schneider *

Um dos pontos de força da saga texiana é a amizade. Entre os protagonistas há a forte amizade que liga Tex a Jack Tigre, que começou quando o Ranger foi adoptado pela tribo navajo ao contrair matrimónio com Lylith, e entre o próprio Tigre e Kit Willer, que se iniciou quando o filho de Tex, ainda na infância, teve no altivo navajo o seu mestre de vida, com quem aprendeu a montar, a caçar, a pescar, a seguir pistas.

Também há a amizade que começou quando Tex ainda era um jovem perseguido pela Lei e quando o Ranger Kit Carson ainda tinha cabelos pretos: com o passar dos anos e das aventuras, tornou-se uma das maiores relações de amizade viril de protagonistas de BDs. Isso tudo sem contar os amigos que só aparecem de vez em quando, como Pat Mac Ryan, Jim Brandon, Gros-Jean e tantos outros.

E há um tipo de amizade que não se vê nas aventuras desenhadas, mas que é evidente para todo aquele que é um leitor mais que ocasional das revistas: a que liga as personagens aos aficionados. Para o leitor contumaz, Tex é uma pessoa de verdade, é um amigo de longa data, é quem nos diverte e nos emociona, é aquele que castiga os vilões por nós, que faz exactamente o que gostaríamos de fazer com quem causa o mal. Quando Tex entra em um saloon, nós saboreamos com ele um belo bife com uma montanha de batatinhas, e quando o nosso amigo acampa no meio da planície para passar a noite, nós sorvemos com ele o último gole antes de uma boa dormida, e também participamos do revezamento nos turnos de guarda durante a madrugada. Em suma, conhecemos Tex e acompanhamos suas aventuras e desventuras há tanto tempo, e com tanta lealdade, que nos sentimos parte de seu mundo e de sua vida. E Tex também é responsável por outro tipo de amizade, a que liga leitor a leitor.

Nos últimos vinte anos, com a massificação da Internet como meio de comunicação, foram criados vários sítios dedicados a Tex Willer, de páginas estáticas para publicação de material de divulgação a locais interactivos, em que o visitante não só lê como manifesta seu ponto de vista e troca ideias. Nesses pontos de encontro informáticos criou-se a figura do amigo virtual, alguém que partilha interesses comuns mas com quem não se tem necessariamente um contacto real. Levados pela admiração ao mais longevo personagem de faroeste que cavalga nas pradarias do Velho Oeste e na imaginação de fãs espalhados pelo mundo, muitos desses amigos virtuais acabaram por se encontrar pessoalmente, e transformaram as amizades virtuais em reais, e amigos de teclado viraram amigos na verdadeira acepção da palavra, no que pode ser definido como uma amizade apadrinhada por Tex.

E aí surgiu o Tex Willer Blog, o blogue português do Tex, ponto de aglutinação de aficionados e verdadeiro centro de visitação em que marcam presença os leitores de vários Países, em especial de Portugal, do Brasil e da Itália, e também os leitores-autores que criam as belas histórias texianas. Graças ao blogue, muitas novas amizades texianas surgiram, e, em mais uma demonstração da força de Tex Willer como personagem positiva, tais amizades são criadas e mantidas até com deslocamentos internacionais, para participar de mostras, de eventos ou só para um belo passeio, por vezes até cruzando o Oceano Atlântico.

Para alguns dos mais assíduos visitantes do blogue, o ponto de encontro virtual não era o bastante, e daí nasceu o Clube Tex Portugal, iniciativa de forte congraçamento de texianos e familiares que une ainda mais quem já era unido por uma paixão comum. Idealizado por José Carlos Francisco, Carlos Moreira, Mário Marques, Hernâni Portovedo e Orlando Santos Silva, o Clube recebeu os aplausos e a adesão da Sergio Bonelli Editore, a casa italiana de Tex, de seus directores, editores e autores, da Mythos e de seus profissionais que trabalham com o herói no Brasil, e cada vez mais aficionados a ele se juntam, de vários Países.

Mas o texiano é, acima de tudo, alguém que adora ler e, apesar de toda a modernidade e facilidade de acesso a textos na Internet, nada substitui o bom e velho papel, o prazer de ter em mãos uma bela revista. E assim, antigos amigos virtuais que, irmanados em Tex, viraram amigos reais, que passaram a conviver, que criaram um clube, também idealizaram uma revista! Nascida junto com o clube, a ideia da revista agora se concretiza, graças ao envolvimento e à paixão dos envolvidos, sobretudo daqueles que mais directamente colocam a mão na massa, José Carlos Francisco Zeca e Mário Marques, sob a guia experiente do editor Jorge Machado-Dias.

Que beleza! Poucas personagens dos quadradinhos conseguem aglutinar tanta paixão, tantas iniciativas e, sobretudo, tanta amizade quanto o nosso bom e velho Tex. Fosse ele o autor destas linhas, certamente encerraria com o sincero desejo de vida longa à revista – e à amizade dos que com ela se envolvem – com o mesmo augúrio que dirigiria a amigos que partem em missão… suerte, muchachos!

* Texto de Júlio Schneider (articulista, redactor, tradutor e consultor editorial para as publicações Bonelli no Brasil) publicado originalmente na Revista nº 1 do Clube Tex Portugal, de Novembro de 2014.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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