A revista nº 6 do Clube Tex Portugal na exaustiva análise do ESPECIALISTA Geraldes Lino

Geraldes Lino

Por Geraldes Lino [1]

Em Portugal há numerosos aficionados de heróis de BD, designadamente Príncipe Valente, Tintin, Astérix, Corto Maltese, Tex. Mas apenas este último esteve na origem da criação – em Agosto de 2013 – de um colectivo formal, o Clube Tex Portugal.
Clube esse que tem desenvolvido uma actividade contínua através do evento anual homónimo, a Mostra Clube Tex Portugal, complementada com a edição do fanzine (*) Clube Tex Portugal.
Este zine, em formato de revista, é aperiódico, mas apesar de não ter obrigatoriedade de periodicidade, tem tido publicação contínua e frequente desde que foi lançado, em Novembro de 2014, tendo chegado ao número seis, em Julho de 2017.
Na citada recente edição, o seu conteúdo é variado e interessante, como de costume, com textos dedicados a autores, um artigo sobre a personagem Mefisto, crónicas, reportagens, uma homenagem gráfica e uma banda desenhada de doze pranchas, a cores.

Capa da revista nº 6 do Clube Tex Portugal

Capa da revista nº 6 do Clube Tex Portugal

Massimo Rotundo, por Sandro Palmas

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No que concerne a artigos sobre autores surge logo no início um dedicado a Massimo Rotundo, escrito por Sandro Palmas, em que se fica a saber que aquele autor nasceu em Roma em 1955, tem trabalhado como ilustrador para teatro e cinema, e é o fundador da prestigiada Scuola Romana del Fumetto, onde também é docente, mas é essencialmente um talentoso desenhador de BD. Aliás, ele é bem conhecido dos entusiastas portugueses, visto ter sido editado em Portugal a obra Tempestade sobre Galveston, em que, sob argumento/guião de Pasquale Ruju, Massimo Rotundo foi o autor da arte sequencial.

Tex e seus pards esculpidos em areia, por José Carlos Francisco

Tex e seus pards esculpidos em areia, por José Carlos Francisco

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José Carlos Francisco é um dos mais dinâmicos e activos membros do Clube Tex Portugal, com papel igualmente importante na edição do fanzine.
É dele um curioso artigo que chama a atenção para o facto de Tex e outras personagens da série terem sido esculpidos em areia pelo americano Kevin Crawford num concurso realizado na cidade italiana de Jesolo, província de Veneza.
E o especialista português não deixa de referir o facto de a escultura mostrar a que José Carlos Francisco classifica de “mítica capa” da edição nº 500 publicada em Itália em Junho de 2002.

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O show não pode parar, de Jesus Nabor Ferreira

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Um muito útil e bem documentado artigo pertence a Jesus Nabor Ferreira, onde desvenda pormenores só conhecidos dos especialistas. Por exemplo, fica-se a saber que, a certa altura, Galep começou a receber ajuda de outros desenhadores italianos, designadamente Angelo Corrias, Mario Uggeri ou Guido Zamperoni.

Esclarece o articulista que uns se limitavam a tarefas como os esboços, outros faziam passagens a tinta ou alguns cenários. Mas, claro, era sempre Galep quem assinava. Um aspecto muito usual na BD em geral, onde a existência de desenhadores ghost é um pormenor bem conhecido, eles são indispensáveis, mas fazem parte do trabalho como se fossem fantasmas, visto que muitos nunca vêm a ser conhecidos, ou só muito mais tarde, lembremo-nos de alguns ajudantes de Hergé nos episódios do Tintin, em que avultam dois nomes de elevado gabarito: Edgar Pierre Jacobs e Bob de Moor.

A aventura continua, de Tino Adamo

A AVENTURA CONTINUA é o título de um artigo assinado por Tino Adamo, francamente elogioso em relação a Tex Willer. Cito:
“É incrível que uma personagem criada há quase 70 anos continue, ainda hoje, a ser a publicação de maior sucesso da Sergio Bonelli Editore (SBE).
(…) Para tornar a série o mais realista possível, é fornecida aos desenhadores uma exaustiva documentação, quer da internet, quer da gigantesca biblioteca do falecido Sergio Bonelli.
(…) As estantes destinadas a Tex, cujas prateleiras encontram-se identificadas com os nomes dos autores por ordem alfabética, fariam as delícias do mais pretensioso coleccionador… as pranchas de Enrique Breccia, Ernesto Garcia Seijas, Laura Zuccheri e Fabio Civitelli, descansam ao lado das de Ticci e de todos os outros grandes mestres texianos, até que sejam recolhidas e enviadas para legendagem (…) para três desenhadores da redacção. Eu sou um deles. Com os meus amigos Roberto Piere, também desenhador de Zagor, e Sergio Masperi, com quem ultimamente tenho feito Bonelli Kids (…) ocupo-me em corrigir as alterações gráficas necessárias, tapar nus demasiado evidentes e refazer cenas explícitas de sexo e violência (…)
(…) No próximo ano Tex festejará 70 anos. Vários argumentistas e uma legião de desenhadores foram-se sucedendo na realização das suas aventuras, nascidas da arte de Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini, todos eles aproximando-se da personagem com um respeito sagrado. O espírito de Tex não foi traído e isso representa uma das principais razões para o ter elevado a fenómeno inter-geracional. (…) (fim de citação)

Viagem ao templo dos fumetti, por João Miguel Lameiras

Entre outras coisas, diz João Miguel Lameiras, na crónica “Viagem ao Templo dos Fumetti” que escreveu para a publicação:
“(…) como grande fã de banda desenhada em geral e dos fumetti da Bonelli em particular, havia um local incontornável em Milão, para além da Catedral, do Teatro Scala, ou da Pinacoteca de Brera, que queria muito visitar: os escritórios da Sergio Bonelli Editore. Graças a uma “cunha” do meu amigo José Carlos Francisco, que os italianos conhecem por Zeca, não foi nada difícil concretizar esse sonho (…) Foi assim que, quando a meio da manhã de 9 de Junho de 2016, toquei à campainha de um discreto prédio habitacional no nº 38 da Via Buonarroti, tinha à minha espera Giovanni Boninsegni, o simpático responsável de imprensa da Bonelli (…)
A visita começou no primeiro piso onde estão os editores de séries como Tex e Zagor, e foi aí que encontrei Mauro Boselli rodeado de papéis por todo o lado, num caos mais ou menos organizado (…) Para ajudar à confusão, chegou então Maurizio Dotti, que eu tinha conhecido meses antes na Anadia, por ocasião da 3ª Mostra do Clube Tex Portugal, que tinha passado pela editora para entregar em mão uma dezena de pranchas originais de uma história do Tex passada em Nova Iorque que estava a desenhar. (…)”

Mefisto, por Moreno Burattini

“Se existe um inimigo de Tex por excelência esse é Mefisto” afirma o especialista em Tex, Moreno Burattini. E acrescenta: “(…) Na realidade, Mefisto é um inimigo muito atípico no seio de uma série de western, dado que não usa pistola, nem anda a cavalo. O seu perigo deriva do facto de ser dotado de poderes mágicos: precisamente por isso, revela-se um osso duro de roer para Tex e os seus pards, deslocados perante um inimigo que não se pode enfrentar simplesmente desembainhando a pistola ou erguendo a espingarda. Na verdade, no início, o futuro Inimigo Número Um era um adversário mais em linha com os cânones do western (…) Quando, num álbum de tiras de 1949, o bruxo fez a sua primeira aparição, ainda era conhecido pelo nome de Steve Dickart, era um simples vilão, e usava o nome de Mefisto apenas quando subia ao palco como ilusionista, deambulando com uma carroça pelo Oeste, assistido pela sua irmã Lily. (…)”
“(…) há de facto um diabo: vestido de vermelho, e ostentando cornos, chamado Mefisto justamente para abreviar um nome tão extenso como o de Mefistófeles (o mesmo que foi dado por Goethe ao demónio do seu Fausto). (…)”

Giovanni Ticci, do realismo à síntese em cinco décadas, por Mário João Marques

Mário João Marques, um dos responsáveis pela actividade do Clube Tex Portugal, e pela edição deste estupendo zine, escreve acerca de Giovanni Ticci, um dos mais conceituados desenhadores de Tex. Com a devida vénia ao autor do extenso e bem documentado artigo, não resisto a transcrever um curto excerto (respeitando, contrariado, o uso que Mário Marques faz do polémico AO90):
“Em janeiro de 1967, na série Rodeo de Tex (a última série das striscia), começou a ser publicada a aventura Vendetta Indiana, oportunidade para os leitores descobrirem um novo desenhador, Giovanni Ticci, que apresentava um estilo vigoroso e um Tex com uma expressão mais de acordo com o caráter determinado que lhe conferiu o seu criador Gianluigi Bonelli. Um desenhador que conseguia exprimir e caraterizar na perfeição os ambientes do velho oeste (…) Giovanni Ticci nasceu em Siena, em 1940 (…) Iniciou-se no estúdio de Roy D’Amy, onde trabalhou ao lado de nomes como Sergio Tuis, Renzo Calegari, Gino D’Antonio, Giorgio Trevisan, Aldo di Genaro ou Ferdinando Tacconi. Mais tarde, começa a colaborar com outro grande nome italiano, Franco Bignotti, em séries destinadas ao mercado inglês, culminando em 1960 com a série Un ragazzo nel Far West, com argumentos de Guido Nolitta e sucessivamente de Gianluigi Bonelli. Ticci preparava-se para deixar o desenho e ingressar na banca, por isso, conhecedor do talento do jovem, foi o próprio Bignotti que pediu a Ticci que o ajudasse, o que veio a acontecer de modo mais evidente a partir do terceiro número, passando na altura ambos a assinar com um pseudónimo expressamente inventado: Bignoticci. (…)”

Homenagem ao Mestre Giovanni Ticci, por António Lança-Guerreiro

Depois do artigo tão elogioso de Mário João Marques a Giovanni Ticci, e da “Homenagem ao Mestre” desenhada por Lança Guerreiro (ver imagem acima), vem muito a propósito reproduzir uma curta de BD de Ticci, desenho, e Nizzi, argumento/guião (das doze pranchas que a constituem apenas mostrarei duas, e não seguidas, servem só para dar uma ideia).

 

O Texas e os Rangers (Parte 3) – Da Guerra Civil ao fim do Séc. XX, por Jorge Machado-Dias

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O Texas e os Rangers, um estudo histórico desenvolvido por Jorge Machado-Dias e já vai na 3ª parte. Compreende-se a intenção: transversalmente, o herói de BD Tex tem teoricamente origem no tempo e no espaço sob análise no consistente e bem desenvolvido estudo.

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Reportagem fotográfica da 4ª Mostra do Clube Tex Portugal

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Obviamente, numa publicação editada pelo Clube Tex Portugal não poderia faltar uma reportagem fotográfica centrada no evento organizado pelo clube pela quarta vez consecutiva, a sua Mostra, em Anadia, capital da Bairrada. Como em anos anteriores, houve a presença de desenhadores italianos especializados na personagem Tex, Andrea Venturi e Leomacs (pseudónimo de Massimiliano Leonardo). No conjunto de fotografias ao lado reproduzido vêem-se estes dois autores/ilustradores e os elementos que compõem a direcção do clube.

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(*) Outros fanzines similares são, por exemplo, o Boletim do Clube Português de Banda Desenhada e o Juvebêdê, editados respectivamente pelo Clube Português de Banda Desenhada e pela Juvemedia, duas associações amadoras sem fins lucrativos, e cujas publicações em formato de revista são essencialmente para distribuição pelos respectivos sócios.
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Capa variante da revista nº 6 do Clube Tex Portugal #6

Um pormenor, se não inédito, mas invulgar a relevar em relação ao fanzine Clube Tex Portugal é o facto de haver duas edições com capas diferentes.
Uma das capas está a ilustrar o topo do presente poste, a outra está visível aqui por cima.
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Ficha técnica
Título: Clube Tex Portugal
Corpo da publicação em papel couché brilhante
Impressão digital em policromia
Formato: 210x275mm
Conteúdo: 56 páginas
Propriedade: Clube Tex Portugal
Director: Mário João Marques
Coordenação: José Carlos Francisco
Capa e paginação: Jorge Machado-Dias

[1] (Artigo publicado originalmente no Sítio dos Fanzines de Banda Desenhada, em 16 de Agosto de 2017) – Copyright: © 2017 Geraldes Lino.

Um comentário

  1. Excelente trabalho de Geraldes Lino, meticuloso e perfeccionista como sempre nas suas análises… e que curiosamente não nutre especial predilecção pelo “western“, nem é sócio (que eu saiba) do Clube Tex Portugal. Por isso mesmo, ainda mais elogios merece!
    Faço votos para que não tarde a converter-se à nossa causa, associando-se a um Clube que é um caso único no meio bedéfilo nacional, como ele próprio sublinha, e em cujos eventos tem estado muitas vezes presente.

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