“Ouro Negro”, o livro de Tex com a chancela da Polvo n’As Leituras do Pedro

Ouro Negro
Colecção Romance Gráfico Tex #4
Gianfranco Manfredi
(argumento)
Leomacs
(desenho)
Polvo
Portugal, Abril de 2017
185 x 245 mm, 228 p., pb, brochado com badanas 125 mm

ISBN 978-989-8513-55-7
16,99 €

(Esta história foi publicada no Brasil, pela Mythos Editora, da revista regular Tex, nas edições #554 Ouro negro e #555 Inferno nos Poços.
)

Confronto perdido

Embora possa ser lida como uma história tradicional de Tex, a existir uma cronologia ‘real’ do herói, Ouro Negro, que teve apresentação pública no passado sábado com a presença do desenhador, deveria ser um relato do seu período final.
Nele, aqueles que actuam nos limites da lei – ou para lá deles – têm por detrás um parceiro mais poderoso que transforma a (inevitável) vitória de Tex num simples adiamento de uma derrota adivinhada, após um confronto que tem lugar a três tempos.

[Cuidado com a leitura do texto, porque posso adiantar mais do que os leitores querem saber…]


Primeiro acto: Tex e Carson são chamados ao palácio do governador do Texas. Embora um pedido de ajuda esteja subjacente à chamada, a sua presença tem um segundo propósito: serem alvos de uma homenagem pública.
É algo relativamente normal nos nossos dias, a distinção pública de personalidades que se distinguiram nas suas áreas de influência – artes, desporto, negócios, política, ensino, investigação… mas sê-lo-ia menos – começaria a ser aos poucos – no tempo da conquista do Oeste.
O desconforto de ambos, mas em especial de Willer, é notório. Não só pela sua natureza humilde e porque as suas prioridades são a justiça e a ordem, sem busca de qualquer tipo de recompensa, mas porque está claramente fora do seu ambiente.

Segundo acto: os rangers são enviados pelo governador até Hellsfire, uma cidade sem lei, dominada pela força por Bob Bradock. É irmão de Jonas, que explora os poços de petróleo dos territórios circundantes, impedindo qualquer tipo de concorrência.
Ao contrário da habitual entrada em força dos rangers, a sua acção desembocará num julgamento em tribunal, no qual Tex Willer fará de advogado de acusação. Mais uma vez fora do seu elemento natural, o ranger demonstrará falta de à vontade e de aptidão para a função.

Terceiro e último acto: Depois de enfrentar Bob, o confronto com Jonas Bradock, o irmão ‘com cérebro’ será inevitável. Os campos de petróleo do industrial assistirão ao enfrentamento, primeiro de palavras, depois a tiro, recuperando Tex o protagonismo que lhe (re)conhecemos. Ou talvez não, face ao desabafo com que encerra o volume.


Muito bem desenhado por Leomacs, num estilo realista pormenorizado e com bons contrastes de branco e negro que esta edição da Polvo salienta, Ouro Negro destaca-se pelo argumento de Manfredi, com um acrescento de realismo que impregna a narrativa com um tom (já) algo nostálgico e questiona – mesmo que só empiricamente – o futuro de Tex e daquilo que ele sempre representou.

Ouro Negro evocou em mim, de alguma forma, memórias de O Dedo do Diabo, em que a mesma civilização que aqui ‘incomoda’ Tex, nesse álbum de Comanche transubstanciada em eleições e numa nova ordem estabelecida, afasta o ruivo Red Dust de Greenstone Falls e dos seus amigos, em busca de lugares ainda livres e selvagens, ainda à sua medida…

E se homens reais, à imagem de quem Dust e Willer foram (superlativamente) criados, se revelaram indiscutivelmente necessários num lugar e num tempo determinados, como salienta nesta obra o criador de Mágico Vento, a sua existência a certo ponto caminhou rapidamente para um ponto de não retorno, como o futuro rapidamente se encarregaria de demonstrar.

A (in)adaptação aos novos tempos ou a fuga  foram as únicas vias disponíveis. Se Dust regressaria mais tarde, ainda útil, este Ouro Negro, mais um western bem conseguido, acaba por ser apenas um sinal isolado, numa longa cronologia assente na faceta viril, heróica e justiceira que sempre distinguiu Tex Willer.


Apresentação
Seguida de sessão de autógrafos
Sábado, 29 de Abril
Auditório do Museu do Vinho Bairrada, Anadia
Com Leomacs, Rui Brito e Mário João Marques
Moderação de João Miguel Lameiras

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

    • Sim, pard Proteus, durante este mês de Maio vai começara ser vendido na FNAC 😉

  1. Ainda bem então, ia mesmo perguntar quando iria estar à venda ao público, tenho os outros e já estava a “ferver” para deitar as mãos a este.

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