As Leituras do Pedro: J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #122 – “Vida selvagem” e “Coragem de matar”

As Leituras do Pedro*

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #122
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Vida selvagem
Berardi e Mantero
(argumento)
Enio
(desenho)


Coragem de matar
Berardi e Mantero (argumento)
Laura Zuccheri (desenho)

Histórias originalmente publicadas em Julia #138 e #139

Mythos Editora
Brasil, Maio/Junho de 2016
135 x 180 mm, 260 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 23,90 / 10,00 €

Humana ou de papel? A dúvida levanta-se numa nova edição de J. Kendall.

As próximas linhas podem levantar algumas pistas sobre as histórias deste número. Leiam-nas por vossa conta e risco.

A primeira história, Vida selvagem, leva Julia a uma zona desabitada, em busca de um pai que desapareceu com dois filhos menores, a pedido da mãe que quer saber se as crianças ainda estão vivas.

Um percurso difícil pela natureza, ao longo de vários dias, vai criar entre a criminóloga e o seu guia uma proximidade inesperada mas não recusada e proporcionar-lhes momentos especiais, numa demonstração de humanidade, de maturidade e de capacidade para, em certas situações, viver o momento sem que isso coloque em causa opções de vida. A investigação em curso vai assim cruzar-se com as dúvidas sobre o futuro de uma eventual relação.

As respostas, novamente cruzadas, encerram tanto quanto abrem novas questões, num final – forçado por Berardi para não deixar Julia ficar mal? – que mostra de forma brusca que já não há paraísos na Terra nem inocentes à sua face…


Quanto a Coragem de matar, leva-nos de novo ao convívio com Myrna, retomando a narrativa deixada em suspenso no volume 118.

Sempre obcecada pela criminóloga, mergulhando voluntariamente no mundo da prostituição, a serial killer vai revelar-se desta vez menos forte do que pensava(mos) e ter de (re)enfrentar fantasmas do seu passado que de alguma forma contribuíram para ser o que hoje sabemos.

Se os confrontos recorrentes entre heroína/vilã – mesmo que estes termos soem neste contexto algo ocos – retiram a Julia algo da humanidade que lhe (re)conhecemos e reforçam as suas características de simples – mas complexa… – personagem de papel, é indiscutível que são sempre esperados ansiosamente pelos leitores e Berardi consegue inseri-los perfeitamente na linha temporal e narrativa da série.

(Um)a prova da sua popularidade, é a recente edição em Itália de Julia: Diario di una psicopatica!, o primeiro tomo de uma colecção que compila, em volumes de maior formato, coloridos e de capa dura, para distribuição em livrarias, as histórias (co-)protagonizadas por Julia e Myrna.


Voltando a Coragem de matar, se toda a história merece leitura atenta, saliento as primeiras páginas em que o encadeamento do texto escrito com as imagens enganam sucessivamente o leitor, mostrando-lhe aparentemente o que na verdade não está no relato (nem mesmo nas páginas desenhadas!), numa longa sequência de ilusões criadas por Berardi numa magnífica demonstração de técnica narrativa.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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