Entrevista com o fã e coleccionador: Fernando Videira

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Fernando Videira: Nasci em 1960 e vivi em Benfica até ao fim da minha carreira estudantil. Sou licenciado em História e auto especializado em Pré-História. Tenho desenvolvido algum trabalho em escavações arqueológicas (sobretudo em Espanha, aos fins-de-semana) mas a minha principal actividade é a de professor de História e Português.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Fernando Videira: No final dos anos sessenta, a BD publicada era muito cara. No entanto, existiam na minha localidade (Benfica, junto à estação de caminho de ferro) uma espécie de lojas, hoje já extintas, que trocavam livros em segunda mão e emprestavam outros por um período de tempo – normalmente uma semana – os quais se tornavam acessíveis para as nossas bolsas. Escusado será dizer que as prateleiras destas lojas prendiam completamente a nossa atenção, repletas de livros e fascículos de BD e de um tipo de livros que é raro ver editados nos dias de hoje. Refiro-me a um modelo de livros que conjugavam alguns quadradinhos com o texto, que representava a fatia principal destas obras. Foi assim que conheci alguns títulos que fazem parte da literatura juvenil universal – “Ben Hur”, “Os Três Mosqueteiros”, “O Último dos Moicanos”, “A Flecha Negra”, etc…
Nessa altura o Mundo de Aventuras e o Falcão eram as nossas referências no que toca à BD. Líamos os fascículos do “TINTIN” e o “Jornal do Cuto”. Estes títulos contribuíram decididamente para alargarmos os horizontes em relação ao que se fazia em BD nesta altura.

Quando descobriu Tex?
Fernando Videira: Antes do TEX, lembro-me do Mendonza Colt, do Texas Jack e do Bill The Kid, verdadeiros ícones da BD relativa ao Oeste Americano. Penso que só no início deste século é que descobri o Tex, através da única publicação feita em Portugal nessa altura. Chamava-se “Tex contra Mefisto” e ainda tenho esse exemplar a cores de uma colecção que incluía vários autores de BD.

Porquê esta paixão por Tex?
Fernando Videira:
O Tex simboliza tudo o que nos vem à memória da nossa infância: as séries a preto e branco (Bonanza, Daniel Boone, Chaparral) os filmes (as longas metragens de John Ford e Sérgio Leone; John Wayne, o 7º de cavalaria, o general Custer e as guerras com os índios, os grandes espaços convidativos para uma grande cavalgada, o pesquisador de ouro, o batoteiro, a menina do saloon e o xerife). No entanto, penso que é a partir de um filme que me marcou profundamente – “Dança Com Lobos” – que o Tex se afirma no meu ideário de herói, pois ele toma sempre o partido dos mais fracos e está sempre disposto a combater os partidários da corrupção e os prepotentes que se servem da justiça (ou da falta dela) para dominarem essas cidades do oeste americano em que a lei está no cano de uma arma.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Fernando Videira: Ao contrário de um certo tipo de BD (refiro-me concretamente às personagens da Disney) em que existe uma certa preocupação em tornar os heróis assexuados (repare-se que nas histórias do Tio Patinhas e do Donald só há tios e sobrinhos!…) no Tex, as relações familiares e amorosas estão perfeitamente assumidas – Tex teve uma esposa que faleceu e de cuja relação nasceu o Kit – e os vícios e virtudes do mundo envolvente a esta personagem confunde-se com o simples humano – o jogo, o álcool, a violência, a ganância, surgem de mãos dadas com a ilusão, a solidariedade, o sacrifício e a satisfação do dever cumprido. Por isso, todos temos algo de “Tex” em nós, quer na visão que temos do que nos rodeia, quer na forma como interagimos com os outros.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Fernando Videira: Tenho cerca de trezentas revistas, distribuídas pelas colecções Tex Ouro, Tex Gigante, Tex, Edição Histórica, Tex Anual e Tex em Cores. Todas são imprescindíveis para mim, daí não destacar nenhum título.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Fernando Videira: Para além das revistas, tenho a colecção de cromos editada pela Panini em Itália.
Tenho algumas personagens em miniaturas em plástico, relativas ao oeste americano e algumas figuras desta temática em chumbo, fabricadas na Rússia.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Fernando Videira: Os números 1 do Tex Ouro e do Tex Anual.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Fernando Videira:
Penso que o enredo do “Tex contra Mefisto” é dos melhores que já foi escrito.
Em relação aos autores, tenho uma especial preferência pelo Aurelio e pelo Sergio, os quais são os responsáveis pelo êxito do nosso herói. Actualmente surgem nomes com bastante valor e que são garantia da continuidade editorial.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Fernando Videira: Em relação ao herói, a sua visão pragmática das situações e a tomada de decisões no imediato, são atitudes que aprecio. Não adquiro outros títulos do Tex, porque detesto ficar à espera para saber como acaba uma história. Penso também que há algumas personagens que têm sempre lugar nas histórias do Tex, só que os autores que o desenham actualmente não se sentem à vontade para as “ressuscitar”.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Fernando Videira:
Tex é intemporal. Da mesma maneira que nos meus dez – doze anos vinha para a rua com um arco com flechas para brincar com o resto da tribo da minha localidade e embrenharmos no parque florestal do Monsanto (o nosso Oeste), também os jovens de hoje sentem a necessidade de brincar ao faz de conta, apesar das novas tecnologias os afastarem cada vez mais da natureza.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Fernando Videira:
Normalmente o ponto de encontro é o Festival da BD da Amadora. No entanto, vejo com apreensão o futuro destes encontros, pois o nº de “aficionados” cada vez é menos. Lembro-me das horas que passava numa fila para conseguir uma aguarela do Varanda, um desenho do Prado ou uma assinatura do Civiello ou do Bilal.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Fernando Videira:
Tudo depende do panorama editorial no Brasil. No entanto, começo a sentir que nem tudo vai bem, nomeadamente na irregularidade de títulos que chega até ao nosso rectângulo.

Prezado pard Fernando Videira agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Como sempre, mais uma ótima entrevista! Eu ainda vejo um futuro longínquo para o nosso ranger.

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