TEX SEM FRONTEIRAS: “As melhores aventuras de Tex”

Por G. G. Carsan*

Meus amigos texianos,
Os leitores de Tex que se manifestam nas redes sociais tem opinado cada vez mais sobre as aventuras taxando-as de boas, regulares e ruins, infelizmente com as boas sendo bem raras actualmente, e quando o são, ainda assim com críticas das mais diversas. Já houve quem dissesse que após o Tex 400 as boas aventuras são contadas nos dedos de uma mão.

É preciso entender que até o número 300, que seria um divisor de águas mediano da colecção principal, aconteceram as aventuras que trataram de todas as temáticas do Velho Oeste – com ênfase para questões envolvendo propriedades, assaltos, tráfico de armas, índios, vingança, monopólio, ferrovias, soldados, guerra, etc. A ocupação foi realizada, os índios foram mortos ou dominados, as grandes quadrilhas desapareceram e teve fim o ciclo de ocupação do Oeste americano e consequentemente o fim do faroeste.

O que a Sergio Bonelli Editore poderia/deveria fazer? Parar a publicação carro-chefe? Deixar milhares de clientes sem as aventuras do maior ídolo italiano dos quadradinhos? Será que o leitor queria isso? Não, não queria. E a saída foi continuar criando aventuras da mesma época, apostando em roteiros que buscassem algum ineditismo e outros entrando em partes e pontos de enredos já publicados, mas que deixaram espaço para desenvolver novas tramas. Por exemplo, em Tex 470 – Dez Anos Depois tem-se algumas personagens e temática coligada da aventura de Tex 95 – Terra Prometida, com uma diferença entre ambas de 30 anos. Esse resgate torna-se cada vez mais necessário e na verdade cansaremos de ver antigas personagens voltando em continuações actuais ou em flashbacks.


De vez em quando nos deparamos com uma aventura e parece que já lemos algo muito parecido. Ora, não tem como ser diferente. Os locais, as cidades, o modo de vida da população branca e indígena, os causos, tudo é repetitivo e comum a todo o período que vai de 1860 a 1890, e o que muda basicamente é o modus operandi das personagens. Os argumentistas precisam estudar muito os costumes e acções, ler e ver filmes de época para encontrar novas formas de contar as mesmas coisas. Tudo isso sem desvirtuar a personagem. Não é fácil, mas eles têm feito quase o melhor possível.

Ainda faltam ser contadas as aventuras que seriam os primeiros encontros de Tex com o chefe Apache Coshise e de Tex com o general Davis, que seriam factos de flashbacks. Talvez retornem os grandes vilões que podem ter deixado filhos e irmãos vingativos. É possível que tenhamos a volta de Lupe, a bela e afoita mexicana que estrelou uma aventura dos primórdios de Tex (Tex Coleção 11), antes do herói se casar com Lilyth e podemos ter, inclusive, boas surpresas. São dadas como certas as reaparições de Mefisto e do seu filho Yama, em novas tramas electrizantes e muitos nem conseguirão mais dormir até que sejam publicadas.

Os desfechos, epílogos, fins estão cada vez mais distintos dos de antigamente e alguns leitores aproveitam para reclamar. Com alguma razão. Os escritores realizam conclusões justamente fugindo do cliché duelo, perseguição seguida de morte, para nos trazer factos novos. É preciso inovar a todo custo. Por isso a forma como Tex age, o entendimento que às vezes ocorre no final é justamente para apresentar algo diferente. Todavia, principalmente com grandes antagonistas é preciso fazer bem feito para evitar um epílogo tão chinfrim como ocorreu com a terceira aventura do Tigre Negro, que não agradou porque não foi Tex a eliminá-lo. Um antagonista do quilate do Tigre Negro precisa ser bem valorizado. Mas o Tigre Negro morreu realmente?

Por isso digo que os argumentistas do Tex estão se saindo até bem, escrevendo várias aventuras ao mesmo tempo para atender a mais de dez desenhadores e manter a boa qualidade que temos assistido. Mas poderiam melhorar se tivessem menos trabalho – fica a dica para os editores. Outra sugestão é que Tex possa sair mais do eixo Arizona-Texas e frequente mais o Alabama, o Kansas, o Missouri, o Arkansas, o Nebraska, o Kentucky, e possa adentrar em factos históricos regionais, que misturados com ficção ficam óptimos, sem esquecer que Tex precisa mostrar serviço com os revólveres, dar mais socos em bandidos, em xerifes, em militares metidos a besta e fazer aqueles interrogatórios que levantam toda a torcida, isto é, trazer nos enredos os jogos de cena que imortalizaram o faroeste. Tex tem perdido essas características – cada vez mais. Tudo bem que essas são actividades-meios na história, mas faz um bem danado e serviu de base para a personagem se tornar tão famosa e querida.


Esta minha intervenção é para dizer, concluindo, que precisamos melhorar, e que os leitores que enxergam tanta negatividade nas aventuras engrossem o coro pela volta das pancadas e tiroteios. Afirmar que continuo com o mesmo desejo pelas aventuras e que ao ler uma nova fico feliz como nos tempos de adolescente, mas sempre esperamos mais, aquela aventura que nos surpreenda. Procuro ver, entender, captar, que realmente, o que nos move é o sucesso da justiça, o carácter, o modo Tex de agir. Tex só continua firme e forte porque manteve uma fórmula rígida de seguir, conservadora, e não foi mudando com os modismos e com as milhares de opiniões que surgiram ao longo do tempo e certamente teriam decretado o seu fim.

Existe o ranking das melhores aventuras de Tex de todos os tempos, o famoso Top Ten, realmente histórias inesquecíveis que lemos, relemos, indicamos, comentamos, que já fizeram a nossa cabeça – e ainda fazem, mas representam o passado. As melhores aventuras de Tex serão as próximas que vamos ler, inéditas, que vêm para controlar a pressão, a ansiedade e trazer um pouco de lazer e felicidade, com as nossas cartas assinadas por coleccionadores anónimos ou conhecidos, com as 110 páginas que nos movimentam. As inéditas, quando atrasam um pouco, todo mundo entra em parafuso como se faltasse o calmante. O vírus ataca… São elas que nos mantêm vivos, fortes, esperançosos, que nos levam à banca… sem elas, acaba o mundo. Por favor, aumentem a dosagem.
Adios, amigos!
G. G. Carsan

* G.G.Carsan, 49 anos, paraibano, fã, coleccionador e divulgador, começou aos 7 anos a ler Tex e nunca mais parou. Realizou 6 exposições em João Pessoa, escreveu várias aventuras para Tex (algumas publicadas na Internet), palestras em vários Estados e plateias e dois livros sobre a personagem no Brasil.

8 Comentários

  1. Eu já disse o que acho o que falta nas aventuras atuais do ranger, acredito que a Bonelli deveria criar uma grande saga do Tex durante o ano todo, seria como Tex: A Queda, onde o ranger perderia tudo que tem, família, amigos, reputação, etc., e depois no final da saga, ele descobriria quem é que foi o responsável por acabar com sua vida, depois disso Tex se reergueria ainda mais forte pros leitores do século 21, com novas maneiras de pensar e agir.

  2. Ótima reportagem, exatamente o que penso. Neste momento os argumentistas deveriam usar e abusar dos mais consagrados amigos de Tex, talvez até reunindo todos eles em missões de grande porte. Fazendo com que pelo menos Kit Willer e Jack Tigre arranjem esposas e a família cresça. Já não engulo a desculpa de que eles não teriam tempo para a esposa, mas os tempos eram outros, o homem realmente saia de casa e passava tempos sem aparecer, se dedicando ao trabalho. Alguma inovação terá que ter num futuro próximo.

  3. Grande G.G.!!

    Que belo texto!

    Não há como não me identificar com o que disse e concordar em plenitude com tudo!

    De certo, as coisas andam e mudam muito! São mais de 65 anos de publicação onde se narra fatos de um período não tão longo como o do Faroeste! Logo, a colocação quanto a essa “repetição” é muito bem defendida!

    Por vezes discutimos nas redes sociais sobre a efervescência de histórias pré-300 ou ainda que as mais atuais não tivesse uma que possa ser considerada “clássica”. Apesar de eu fazer coro a isso, tenho que considerar que a questão dos novos argumentistas pesa para essa nova fase.

  4. OKLAHOMA.
    Em minha opinião ainda é a melhor da série Tex normal.
    Patagônia, é a melhor do Tex Gigante.

  5. É isso amigos…

    Tex tem sido muito bom na minha vida,
    o seu passado é glorioso,
    o seu presente é espetacular…
    mas se ele parasse de ser publicado,
    seria um duro golpe,
    difícil de suportar.

  6. Tex é bom do jeito que foi criado. Não adianta inventar coisas de tempos modernos que nunca funcionará.

  7. Muito bom texto! Realmente é muito difícil criar algo novo no universo de Tex até porque ele já é uma lenda por si só. E ainda mais seguidos por seus pards. Não adianta querer inventar, corromper o nosso incorruptível herói. É por isso que ele é o que é o Tex de sempre o que o reconhecemos em qualquer lugar. Não adianta. Tex tem setenta anos não é por acaso, é por ser o que é. Básico e até repetitivo… mas gostamos, sempre.

  8. Questão pertinente e actual. Também eu acho que as historias de Tex já não têm a magia de antigamente. Talvez seja eu que não me adaptei aos novos tempos mas sinto saudades de histórias baseadas na fórmula nolittiana. Aventuras com acção, humor, mistério, suspense, drama. Tudo perfeitamente misturado, adicionando factos históricos, inimigos perigosos e carismáticos e um herói humano, que enfrenta inúmeras dificuldades para vencer os seus inimigos, sendo que por vezes só o consegue através de actos fortuitos.
    Não creio que o problema sejam os 70 anos de histórias, nem os temas abordados, mas sim a forma como as aventuras são narradas. Além de texiano sou também zagoriano e em Zagor, que tem 57 anos de existência, continuo a apreciar as histórias como há 30 anos atrás quando conheci o personagem. Penso que o Zagor actual está mais próximo do idealizado por Guido Nolitta do que o Tex está do seu criador G. L. Bonelli ou do seu filho Sergio, e da fase, que para mim é a fase de ouro, a época entre meados dos anos sessenta do século passado e 1983, altura em que Nizzi assumiu integralmente os roteiros.

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