Entrevista com o fã e coleccionador: Olímpio Constâncio

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu?
O que faz profissionalmente?

Olímpio Constâncio: Nasci em Portugal no século passado e estou actualmente desempregado.
O meu último trabalho foi na gestão de uma pequena empresa de limpeza onde ainda sou sócio, mas devido ás actuais dificuldades no mercado estamos a encerrar a actividade.
Não gosto muito de falar de mim mesmo, mas descrevo-me como um puro Escorpião de signo (não que eu ligue aos signos) o melhor amigo do meu amigo, e a pior pessoa do mundo para quem me pisa os calos.
O resto as pessoas que avaliem por si.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Olímpio Constâncio: Cerca dos 4 anos de idade, ainda sem saber ler, deliciava-me a seguir as imagens em quadradinhos e a imaginar as histórias.
Depois de aprender a ler o vício tornou-se incontrolável, lol
Foi engraçado verificar que algumas personagens que imaginava serem os “bons da fita” afinal eram os maus e vice-versa, lol

Quando descobriu Tex?
Olímpio Constâncio: Devia ter por volta dos meus 6 ou 7 anos, nessa altura com 100 escudos que os meus pais me davam conseguia comprar todos os livros de banda desenhada que queria e ainda ficava com troco, pelo que fui coleccionando todas as edições de BD que via à venda e desta forma fui “apurando” o gosto naqueles que mais me interessavam.
Os primeiros a deixar de lado foram os de super-heróis (não gostava de histórias com continuação) e os de “meninas” (Magali, Monica, etc…), contudo apesar do Tex também ter histórias com continuação não resisti e continuei a coleccionar…
Actualmente tenho milhares de livros BD (Asterix, Lucky Luke, Conan, Disney, Falcão, Blake & Mortimer, Fantasma, etc, etc, etc,), muitas colecções completas de várias personagens, mas apenas continuo a coleccionar BD do Tex.

Porquê esta paixão por Tex?
Olímpio Constâncio: Por vários motivos: um deles é as histórias que se cruzam (muitas fazem referência a outras já publicadas), outro motivo é haver histórias desde quando ele era novo até ele já com filho adulto, o que transforma a saga Tex Willer numa autêntica novela de uma vida inteira.
Também a forma como as histórias são narradas lembra os filmes de Alfred Hitchcock, onde muitas vezes o leitor está até perto do final a tentar descobrir quem é o “mau da fita” até perto do final.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Olímpio Constâncio: Os méritos e os atributos da personagem, juntamente com os seus fiéis companheiros, que criam uma envolvência perfeita para decorar e saltear a receita ideal para milhares de histórias possíveis: Ranger, chefe dos Navajos, ex-fora-da-lei, espírito revolucionário (como eu), exímio atirador, mais rápido que qualquer outro, excelente lutador, etc…
Podem continuar a fazer histórias dele até doer as mãos e a vista, lol
Também existe uma particularidade que não é habitual em nenhuma das outras revistas de BD que eu conheço, que é o convite feito a muitos desenhadores e argumentistas para entrarem em muitas das histórias do Tex o que torna muitas histórias únicas e belas obras de arte.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Olímpio Constâncio: Tenho cerca de 700 livros e revistas do Tex, colecciono todas as edições que me é possível comprar, sem exageros monetários, pois embora dê muito valor às minhas colecções não estamos em tempos fáceis…
Não tenho um livro mais importante para mim, não pretendo me desfazer de nenhum, é quase como perguntar a um pai qual o filho que mais gosta ou perguntar num puzzle qual a peça mais importante.   Certamente no caso do puzzle, a mais importante é sempre a que falta, por isso talvez ainda esteja para eleger uma revista mais importante de entre as que espero conseguir dos muitos números que ainda faltam nas minhas colecções do Tex.
Entre os números que já tenho, sem querem chamar de mais importante posso isso sim destacar uma ou outra que gosto particularmente (como o Especial Civitelli), ou pela história em si, ou por exemplo a primeira que comprei, já la vão muitos aninhos (Tex 105, 2ª ed. “Adios Amigo”)…

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Olímpio Constâncio: Gostaria de ter mais do que apenas livros, mas infelizmente não encontro outras coisas como pósters, canetas, porta-chaves, estatuetas ou algo mais.  Mas pelo menos já temos um clube do Tex em Portugal, que apesar de já ter tido conhecimento há algum tempo só agora questionei o que é necessário para fazer parte…

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Olímpio Constâncio: Não sei se pode-se chamar de “objecto”, gostava certamente de algumas miniaturas de Tex e seus amigos, mas de momento o que mais gostava mesmo de ter era o filme Tex Willer, que sei existir à venda no Brasil, mas não encontro em Portugal.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Olímpio Constâncio: Tenho muitas “histórias favoritas”.   Mas uma que li recentemente apaixonou-me por completo chamada “Patagónia” (publicada originalmente em Tex Speciale 23, Itália, Junho de 2009) onde Tex e o filho viajam à distante terra dos Gaúchos onde ganham e perdem fiéis amigos e travam batalhas lendárias, uma história onde a nossa personagem aparenta estar nos seus mais dourados anos e o seu parceiro Kit Carson não os acompanha, certamente por algum reumatismo (lol), mas de qualquer forma ainda bem que não foi, pois no meio de lutas tão sangrentas certamente não teria regressado vivo…
Quanto ao desenhador que mais aprecio é difícil responder pois adoro o desejo de diferentes desenhadores e não quero escolher apenas um entre eles, talvez o “traço” que mais aprecio seja o de Civitelli, mas não posso deixar de referir os contornos mais agressivos e também muito apreciados de Fusco, ou as linhas mais nostálgicas de Aurelio Galleppini (Galep) o seu criador gráfico.
O argumentista que mais aprecio é outro dilema, mas nesta área, sem querer tirar os louros a tantos outros excelentes argumentistas (como Boselli, Manfredi, Guido Nolitta,  ou o próprio Bonelli em tantas histórias) considero Nizzi um dos melhores, sem sombra de dúvidas.
Aproveito a oportunidade para destacar também o trabalho espectacular e todo o contributo de Galep para fazer Tex o mito e o ídolo que é actualmente.   Existe uma imagem de capa de revista, criada para a história “A Voz na Tempestade” (publicado originalmente em Itália no Tex n.º 400 em Fevereiro de 1994) que é como que a despedida deste mestre do desenho, a típica imagem de um cowboy onde apenas falta a música de fundo para demover a menos nostálgica alma deste deserto…

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Olímpio Constâncio: Relativamente ao carácter do Tex, o que mais me agrada é o sentido de honra, que deveria de servir de exemplo para muita gente hoje em dia (embora seja uma personagem fictícia).
O que menos agrada é não o ver mais vezes numa companhia feminina.   É certo que é muito fiel à sua falecida Lilyth e com ela teve um filho que certamente venera o respeito que Tex dedica à memória da sua mãe, mas nenhum homem é de ferro, sabia bem ver uma ou outra aventura com uma pequena paixão pelo meio. Pelo menos nisso Kit Carson leva vantagem, e até Kit Willer e Jack Tigre tiveram alguns romances, mesmo que raros, pelo meio das suas aventuras.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Olímpio Constâncio: A maneira como escrevem cada história, com a dose certa de humor (para os mais bem dispostos), de romance (para os mais românticos), de acção (para quem adora a adrenalina), etc…
Cada revista e cada história tem a dose certa, embora sempre com alguma predominância de acção e mistério a adoçar.
Também a variedade de desenhadores e o estilo misto spaghetti/Hitchcock contribuem para um ícone único como Tex no mundo da BD.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Olímpio Constâncio: Não conheço (pelo menos até entrar para o clube do Tex) outros aficionados pelo Tex como eu, embora já tenha comprado revistas a várias pessoas que, embora possuidores de colecções do Tex, não eram fãs das suas aventuras (de outra forma não venderiam nenhum livro).
Admira-me o facto de não encontrar muitas pessoas que digam adorar as histórias desta personagem (ou eu devo ser um sujeito muito diferente dos outros), até mesmo as livrarias e papelarias onde compro os livros são raras, não vendem todas as colecções, expõem poucas unidades e ainda se queixam de não venderem muito. Pelas poucas unidades que adquirem para venda é que por vezes já chego tarde e perco uma ou outra edição.
Na verdade, à parte um Tex Gigante que comprei recentemente, não tenho encontrado mais Tex normal à venda nas papelarias… tenho sido salvo por alguns alfarrabistas, senão estava a passar fome de literatura…

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Olímpio Constâncio: Não sou vidente, lol
Com a crise que se vive actualmente em todo o mundo, talvez tenham de reduzir o número de colecções existentes neste momento para se dedicarem apenas à original e uma ou duas especiais, mas não acredito de todo que as histórias acabem.
Contudo pode ser que algum dia façam algumas histórias do Tex fora da linha cronológica como se observa em alguns filmes, onde quando já pouco há a acrescentar no final das histórias, começam a inventar algo que teria acontecido antes destas sucederem. Por exemplo, explorar a juventude de Tex, que ainda está muito vaga, ou então comecem o ciclo final em que ele surge sentado à fogueira (já velhinho) a contar algumas histórias (ainda não publicadas) aos seus netos, onde cruze acontecimentos vividos entre diferentes histórias já publicadas. Seria delicioso para aqueles que já conheçam todas as histórias poder encaixar umas nas outras, como um puzzle.
Seja como for, tomara que ainda venham muitas histórias novas do Tez pela frente.   Não quero envelhecer sem a companhia deste nosso “pard”, lol.

Prezado pard Olímpio Constâncio, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

4 Comentários

  1. Raios triplos!
    Dinâmico, rápido como o raio e bastante sábio mesmo pra um hombre tão jovem. Gostei muito da sua prosa, muchacho.
    Belas ideias salvas pelo simpático puzzle que vou analisar com carinho, ideias que merecem reverbério.
    Ademais, um prazer conhecer mais um pard português e quem sabe lhe apresentar os meus livros Tex no Brasil – que não deixa de ser um espelho para Tex em Portugal no tocante a publicações.
    Hasta la vista!

  2. Bela entrevista!… Tex Willer é isso, começamos a ler quando adolescente, e nunca mais paramos!!!…
    Vida longa ao Fenômeno Tex Willer, e a nós!!!

  3. Bom dia,
    Gostei muito da sua entrevista, pelo que li que tem uma enorme coleção de banda desenhada, mantenha sempre ela consigo, pois tem muito valor, tal como eu começou bem novo a ler. Mais um pard português, e somos muitos, pelos vistos ainda vai haver um programa chamado “os pards pelo mundo” ou “os fãs do Tex pelo mundo“. Mas gostei muito da vossa entrevista, muito simples e sincera, até faz referência a Hitchcock, tem muito bom gosto.
    Desejo muitas felicidades, e que em breve arranje um emprego, sei que é muito difícil, por várias razões, mas nada de perder a esperança e muita fé.
    Um grande abraço amigo dos Açores
    Marco Avelar

  4. Muito boa a entrevista. E fiquei impressionado com a coleção enorme que o pard Olímpio tem do Tex! Parabéns.

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