Entrevista com o fã e coleccionador: Rolando Marques

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Rolando MarquesPara começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Rolando Marques: Chamo-me Rolando Marques e resido nos arredores de Lisboa, em Alverca do Ribatejo. Nasci em Abrantes, em 17 de Agosto de 1971. Profissionalmente, trabalho numa empresa de telecomunicações, na área de serviços e gestão de projectos.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Rolando Marques: Desde que me lembro. Acho que assim que comecei a ter interesse por livros com figuras e a fazer bonecos. A partir dos meus 7-8 anos, o “vício” começou a consolidar-se enquanto tal. Andou sempre em paralelo com o gosto pelas letras. Lia o usual na época (finais dos anos 70 e princípios dos anos 80 do século passado): livros brasileiros da Disney, o Mundo de Aventuras, o Falcão, a colecção Guerra, para citar alguns exemplos. Entretanto, fui descobrindo a BD Franco-Belga (Astérix, Lucky Luke, Tintim, Blake e Mortimer) e de outras latitudes, de autores como Paolo Serpieri, Milo Manara, Victor De La Fuente, Miguelanxo Prado, Jordi Bernet e Hugo Pratt. Isto já nos anos 90. Em paralelo, na mesma altura, descobri os comics dos EUA, embora tenha excluído quase imediatamente os super-heróis, excepção feita ao Batman, que me pareceu diferente dos restantes (quanto ao universo Marvel, nem vê-lo!). Da BD de origem norte americana, ficou-me o gosto pelo trabalho do Adrian Tomine, Frank Miller (Sin City e 300), Mike Mignola (Hellboy) e, recentemente, a saga “Y: the last man” (desenhada pela Pia Guerra), que estou a coleccionar, na versão trade paperback. E, é claro, já no presente século, descobri (ou redescobri) a BD Bonneli.

Tex Willer por Rolando MarquesQuando descobriu Tex?
Rolando Marques: Devia ter uns 12-13 anos, talvez. Numa edição brasileira, salvo erro da editora Vecchi, que continha parte de uma aventura envolvendo Mefisto, um dos mais famosos adversários de Tex. Depois houve um grande hiato de tempo, até voltar à personagem e passar a ler as suas aventuras com regularidade. Isso aconteceu quando já tinha 35 anos, há coisa de 3 anos, mais ou menos.

Porquê esta paixão por Tex?
Rolando Marques: Paixão é um termo demasiado forte para qualificar a relação com a personagem. Gosto do Tex assim como gosto de outras personagens de BD como, por exemplo, o Mágico Vento e a Júlia Kendall, ficando-me apenas pelas publicações da editora Mythos que são, de facto, as únicas publicações (ir)regulares que, actualmente, vale a pena adquirir em Portugal.

Tex e Carson por Rolando MarquesO que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Rolando Marques: De diferente, talvez os locais e enredos que constituem o cerne da saga desta personagem. Tem piada mas nunca fui grande admirador de westerns em BD, até chegar ao Tex. Uma personagem ou outra, como Jerry Spring e Blueberry, ainda mereciam da minha parte uma leitura mais atenta mas esporádica. Quanto ao Tex, é de facto, o mais regular e, também, uma aquisição tardia na minha vida. Comecei a comprar e ler as aventuras do Tex a partir de 2006, com ênfase nos clássicos da personagem. E é, actualmente, o único western em BD que leio regularmente.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Rolando Marques: Poucas, menos de 40, quase todas da revista “Grandes Clássicos do Tex”. A mais importante não sei dizer. Para mim, todas tem o seu valor. Depende do momento em que as li e do estado de espírito.

Colecção de Rolando MarquesColecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Rolando Marques: Apenas colecciono as edições especiais como os “Grandes Clássicos do Tex” ou, pelo menos, tento, dada a forma irregular como são distribuídas as revistas de BD, em Portugal, com grande atraso face à origem (Brasil) e com falhas pelo meio.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Rolando Marques: Acho que nenhum objecto em particular. Nunca pensei nisso. Nem conheço o merchandising que lhe está associado. Não sou obcecado pelo Tex, a ponto de desejar possuir objectos que não algumas das revistas/edições especiais com as suas aventuras.

Colecção de Rolando MarquesQual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Rolando Marques: É difícil dizer qual a minha história favorita. Gosto dos clássicos do TEX, desenhados pelo A. Galleppini. É o traço fundador e definidor da personagem. Também aprecio algumas histórias recentes, nomeadamente as desenhadas pelo Victor De La Fuente e Alfonso Font. Quanto aos argumentos, os de G. L. Bonelli, sem dúvida nenhuma, são os melhores. Também aprecio os do Claudio Nizzi.

Tex por Rolando MarquesO que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Rolando Marques: Os enredos das suas histórias clássicas são agradáveis de ler, escorreitos e escapistas. Não me agradam, especialmente, os argumentos actuais (nem o estilo da maioria dos desenhadores). Talvez por terem uma veia menos escapista que os clássicos. Mas ainda bem que os admiradores de Tex não pensam todos como eu. Senão o Ranger não tinha chegado aos 60 anos, sempre em publicação e renovando-se, a si e ao seu público.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Rolando Marques: É um clássico que soube evoluir e adequar-se ao gosto de gerações de leitores, que seguiram, e continuam a seguir, as suas aventuras.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Rolando Marques: Não. Sou um solitário, por natureza. Também conheço muito poucos coleccionadores de BD em Portugal e ainda menos de BD bonelliana.

Pards a cavalo por Rolando MarquesPara concluir, como vê o futuro do Ranger?
Rolando Marques: Pessoalmente, espero que continue a proporcionar-me horas de leitura agradáveis, enquanto eu viver e puder ler BD (a minha esperança, que isto seja por muitos e longos anos ;-)).
No geral, espero que as suas histórias continuem a vender e que haja renovação do público leitor. Caso contrário, tal como tem vindo a acontecer com outros ícones clássicos da BD, a publicação das revistas da personagem italiana cessará, por falta de interesse do mercado. O caso português é paradigmático.
Para terminar, deixo uma crítica que espero seja encarada como construtiva: os leitores (e coleccionadores) portugueses merecem melhor tratamento do que o que recebem actualmente. O atraso na publicação das revistas Mythos em Portugal, face ao Brasil, é demasiado longo, no meu ponto de vista (mais de 6 meses de diferença, chegando a 2 anos no caso das publicações especiais), com falhas de números pelo meio. As revistas que chegam aos pontos de venda (pelo menos, onde eu os adquiro habitualmente) estão, em proporção considerável, mal tratadas. Parece que o que vem do Brasil são as sobras e custa-me dar 3 ou 4 euros por uma revista com a capa toda amassada ou riscada. Só mesmo para indefectíveis da BD Bonelli. Eu, dificilmente, posso sugerir a alguém que compre as revistas nestas condições. Os comics norte americanos, por vezes mais baratos que as revistas da Mythos, chegam em melhores condições ao nosso mercado. Há que rever este modus operandis.
Possivelmente, só nestes termos será compensatório, para a editora Mythos, a operação comercial em Portugal, dado ser um mercado periférico e diminuto, em termos de volume de vendas. Mas não deixa de ser desanimador.

Prezado pard Rolando Marques, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. Grande Entrevista.

    Tenho que concordar com o Rolando. Em Portugal as edições são poucas, com muito atraso, e muito mal distribuídas…
    Principalmente com inúmeras falhas pelo meio. Sem dúvida que com um melhor tratamento da própria distribuidora cá em Portugal poderia ajudar e muito as vendas!! Eu não encontro um Tex à venda no Porto há N de Tempo.

    Pard Rolando, está a sair a Edição Colorida com Tex desde o Inicio… Grande Oportunidade para começar a ler ainda mais do Tex! 🙂

  2. Gostei muto do blog! (Y)

    Eu tenho mais ou menos uns 300 exemplares do Tex!
    E eu quero me desfazer deles!
    Qualquer coisa mande um e-mail!

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