Tex “L’inseguimento” (“A perseguição”): Entrevistas exclusivas com os autores Tito FARACI & Corrado MASTANTUONO

Tito Faraci e Corrado Mastantuono, por Bira Dantas

ALERTA: As entrevistas que se seguem com Tito FARACI & Corrado MASTANTUONO revelam algumas surpresas da história “L’inseguimento(Tex italiano nº 629 e 630, de Março e Abril de 2013), e a sua lida antes da publicação da revista no Brasil e Portugal pode tirar toda a graça, emoção e suspense que se cria com relação à aventura.

Entrevistas conduzidas por José Carlos Francisco, com a colaboração de Giampiero Belardinelli e Sandro Palma na formulação das perguntas, de Bira Dantas nas caricaturas e de Júlio Schneider (tradutor de Tex para o Brasil) e de Gianni Petino nas traduções e revisões.

TITO FARACI

Com A Perseguição você mais uma vez apresenta aos leitores um faroeste sombrio e selvagem, no qual foge de forma frenética o protagonista, Vince Stanton, uma personagem solitária e em luta pela sobrevivência, caçada por Tex e Tigre, pelos colonos e até pela sua própria quadrilha. Ou seja, você parece percorrer a trilha de muitas de suas histórias já publicadas, com as devidas variações. O que você diria a quem acha esse esquema narrativo de certo modo repetitivo?
Tito Faraci:
Eu respondo que histórias como A Fera Humana ou O Homem de Baltimore, por exemplo, são muito diferentes. E, sobretudo, são muito diferentes várias histórias actualmente em produção. O acaso quis que histórias com elementos semelhantes fossem concluídas pelos desenhadores e saíssem relativamente perto uma da outra. Acontece. De todo modo, confirmo que A Perseguição espelha uma visão minha sobre o faroeste, que eu explorei e aprofundei em algumas histórias. Digamos que é um ciclo finito. Ao menos por ora, eu abandonei esse filão para dedicar-me a outras modalidades de trama. E nisso foi-me de grande ajuda Mauro Boselli, o excelente editor da série.

E esta história também se apoia bastante no ritmo. Como você consegue organizar os diálogos típicos da texianidade em roteiros agitados?
Tito Faraci:
Eu começo sempre com o elemento visual. Antes de começar a escrever o roteiro, eu imagino a página, e faço inclusive pequenos desenhos (só para o meu uso). Os diálogos, na forma definitiva, vêm depois. Esse é o meu método. Eu não começo com os diálogos, apesar de considerá-los evidentemente muito importantes. Sobretudo para uma personagem que tem uma linguagem específica, como Tex.

É bastante apreciável a caracterização de Stanton, uma personagem ambígua, quase um canalha simpático. Você sem dúvida busca apresentar personagens bastante particulares, quase como se, ao escrever Tex, tivesse como objectivo a busca de uma humanidade que, nesta BD, certo ou errado, passou a um segundo plano.
Tito Faraci:
Na verdade, eu considero que o aspecto humano sempre foi importante em Tex. Das histórias mais belas nós nos recordamos de personagens de grande humanidade. E também de contradições, capazes de se redimir. Mas Stanton permanece um canalha do começo ao fim. Em certos momentos pode inspirar uma certa simpatia, mas ele não se redime.

O acerto de contas, ao menos de forma parcial, acontece no cemitério em que estoura o tiroteio infernal entre Stanton, os colonos e os dois pards. À parte o quase irónico estereótipo do saque sepultado sob uma lápide, foi muito boa a ideia da monumental estátua do anjo posicionada como a guardar o tesouro. Também conquista o leitor a solução que você usa nas páginas finais, quando se conclui a parábola de Stanton. Podemos nos acostumar à ideia de que tais expedientes já são parte integrante da receita faraciana de Tex?
Tito Faraci:
Eu gosto demais daquele final. Tenho orgulho, admito. Eu gosto de pensar que o leitor pode imaginar uma continuação da história, com novas fugas e perseguições. Mas isso funciona bem numa única história. Um final desse tipo não pode ser repetido. Eu tenho o meu estilo, mas sempre busco criar truques novos. Os longos tiroteios divertem-me bastante, mas decidi limitar um pouco o seu uso nos próximos roteiros.

A figura de Vince Stanton destaca-se na multidão de vilões que você já apresentou: é de se destacar o final, quase irónico, em que o bandido parece convencido de ter enganado todo mundo, mas no último quadradinho Tex e Tigre estão às costas dele. Como você elaborou essa ideia decididamente fora dos padrões do classicismo texiano? Acha que os leitores tradicionalistas podem não digerir bem soluções desse tipo?
Tito Faraci:
Creio já ter respondido. Acrescento que é minha intenção mostrar algo inesperado aos leitores, mas nem sempre deve-se tentar novas soluções narrativas, mesmo com respeito à tradição. A lição que nos deram grandes mestres como Gian Luigi Bonelli é a de olhar para frente, aventurar-se em novos caminhos, escrever histórias para o público do próprio tempo. Clonar o estilo de um mestre é o pior modo para colocar em prática essa lição.

Funcionou bem a ideia de colocar em acção Tex e Tigre: os dois se movem de modo perfeito, decididos e astutos, mas você não acha que, nos diálogos, poderia ter se direccionado mais para o lado da ironia?
Tito Faraci:
Eu creio que não teria sido oportuno, numa história dura e seca como esta. Seria uma nota desafinada. Mas em outros casos eu uso com prazer aquela ironia típica de Tex.

Nesta sua história, como dito, ao lado de Tex também actua o seu pard indígena Tigre. Uma dupla que, como as anteriores, é bastante convincente. Depois de anos em que se reclamou de Claudio Nizzi pela sua predilecção pela dupla Tex e Carson, você poderia nos dizer qual pard pretende inserir com mais frequência nas histórias futuras (quando, evidentemente, não decidir usar todo o quarteto)?
Tito Faraci:
Na verdade, neste momento eu pretendo usar justamente o quarteto. Eu considero isso um desafio muito estimulante. Juntos, todos os quatro, cada um com o seu justo destaque, a mostrar as suas características específicas, e a evitar sobreposições. Não é simples, mas estou a trabalhar nisso com o máximo empenho. E com os valiosíssimos conselhos de Mauro Boselli.

CORRADO MASTANTUONO

Em A Perseguição, além de Tex você teve que encarar Jack Tigre, uma personagem que já desenhou antes. Dizem que a fisionomia dessa personagem seria a de um Tex de cabelos compridos. Por outro lado, desde quando fez o Tex Gigante, você caracteriza os nativos de forma bem marcada. Dito isso, o que pode dizer sobre a forma de interpretar o pard índio de Tex?
Corrado Mastantuono: Eh, eh! Em parte é verdade. Para realizar a personagem Tigre eu inspiro-me bastante na caracterização inicial que faço para Tex, mas o índio é mais nervoso, quem sabe menos expressivo, olhos profundos e escuros, o nariz aquilino que não tem nada a ver com aquele regular do Ranger. Ou seja, a estrutura e os pontos de partida são os mesmos, mas as duas personagens devem resultar distintas e bem diferentes.

Nesta história os rostos de Tex e Tigre são perfeitos: os olhares, as expressões, etc. Você teve dificuldades particulares, desde a sua estreia texiana, para acertar essas duas personagens?
Corrado Mastantuono: Quando se fala das quatro personagens as dificuldades sempre existem. Para cada uma, história após história, página após página, eu continuo a alterar detalhes, a acrescentar variações imperceptíveis, a estudar modos sempre novos para fazer com que cada um actue da melhor forma possível. Nesta última história o meu empenho foi quase todo para Tex. Eu era criticado pela minha versão ser sombria e pouco reconhecível, por isso o meu trabalho serviu para aprofundar a capacidade de dirigir a personagem em cada situação, em cada possibilidade de actuação.

Ainda sobre caracterização, na última história de Faraci são inúmeras as personagens com os cabelos muito compridos, a começar pelo antagonista Stanton. Você pode explicar as razões dessa escolha? Seria quem sabe um modo de mostrar um Oeste crepuscular e sórdido?
Corrado Mastantuono: É verdade, mas não foi planeado. A coisa saiu espontaneamente. Se observar bem, as minhas personagens quase nunca estão bem barbeadas, excepto pelos membros da alta burguesia com colete e relógio no bolso, e isso porque a minha ideia do Oeste é justamente baseada no aspecto selvagem, na poeira, na falta de possibilidades de cuidar da própria aparência. A maioria das pessoas não tinha a possibilidade de tomar banho com frequência, e tampouco de lavar os cabelos. A barba era feita raramente e, no barbeiro, muitas vezes se preferia um corte rápido, sem muito esmero. Nesse panorama não é difícil imaginar as minhas personagens poeirentas e com cabelos compridos e sujos.


Pode-se ver que você já domina muito bem a iconografia texiana: do que você se valeu para chegar a esse resultado?
Corrado Mastantuono: Documentação de todo tipo. Muitas revistas do nosso Tex, claro, e histórias de faroeste de todos os tipos, livros, ilustrações e muitas fotografias. Nos últimos dez anos a internet facilitou bastante esse trabalho.

O ritmo é uma das peculiaridades dos roteiros de Faraci: quais são as características a que você se atém quando elabora cenas de acção? De um modo geral, em Tex lhe agradaria fazer as personagens actuarem mais ou não se pode passar de um certo limite?
Corrado Mastantuono: As personagens devem ser realísticas mas não necessariamente reais. Eu devo imprimir a caracterização e a actuação onde são mais úteis para tornar a narrativa fluída e, sobretudo, compreensível. De um modo geral, nas histórias de Tex a actuação em cena é contida, nada de exagerado, tudo deve ser representado da maneira mais sóbria e convincente. Mas também há personagens que são intencionalmente exageradas, e nessas eu posso até me soltar mais em relação à gestualidade e às expressões.

Muito belas as sequências no rio, no primeiro volume. Em relação aos cenários, mais uma vez você teve que encarar o Oeste tradicional. É um ambiente que combina com você ou gostaria de tentar algo novo? Quem sabe uma paisagem nórdica e nevada, que talvez seja mais adequada ao seu estilo?
Corrado Mastantuono: Eu não tenho preferências. Trabalho é trabalho e, justamente por isso, deve ser feito. Em todo caso, eu devo cercar-me de documentação e explorar as novidades com respeito e com a devida devoção. Para dar um exemplo, eu reclamava comigo mesmo da longa sequência sob a chuva que, apesar de ter um grande impacto, toma muito tempo ao desenhador, e, na história que estou a realizar, as primeiras sessenta páginas transcorrem sob um dilúvio universal. Isso para dizer que é melhor jamais se lamentar porque sempre pode aparecer alguma história que o fará sentir saudade da anterior.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. Fantástica entrevista com duas feras do Staff Texiano. Já estou ansioso por esta história, pois, gosto do Tito Faraci e, principalmente, gosto muito do traço do Corrado Mastantuono.

    Abraços,

    Sílvio Introvabili

  2. Quando adquiri a Tex Gigante número 20, “O Profeta Indígena“, apreciei de ponta à ponta os desenhos de Mastantuono. Gostei muito do traço, pois ele retrata muito bem os personagens usando ângulos diferentes dos outros desenhistas. Quanto à fisionomia entre Tex e Tigre, lá na página 173 da revista, no terceiro quadrinho, Tex aparece espionando a cabana do “Profeta“, e, na minha opinião, o rosto está mais para Jack Tigre. Gostei muito do traço do Kit Carson! Autêntico!

  3. Mastantuono não é o desenhista que tem o estilo que mais me agrada em Tex (questão de gosto), mas é um ótimo artista para se estudar recursos de enquadramento, etc.
    Ótima entrevista, como já é de costume por aqui!

    Abraço a todos!

Responder a Luan Zuchi Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *