Entrevista com o fã e coleccionador: Renato Alves da Silva

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Renato Alves da Silva: Chamo-me Renato Alves da Silva e nasci no dia 3 de Abril de 1956, em Teresina, capital do Estado do Piauí, situada na região Nordeste do Brasil, onde ainda resido actualmente. Sou casado com a Sra. Marinete, que apesar de eu coleccionar todas as personagens Bonelli publicadas actualmente no Brasil, só gosta de ler Tex e Zagor, sou pai de duas filhas, Gardênia que é médica e que me acompanhou por ocasião da 19ª Fest Comix realizada em São Paulo nos dias 20 e 21 de Outubro de 2012 e Graziella que é advogada. Actualmente estou aposentado pelo Exército Brasileiro no Posto de Capitão.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Renato Alves da Silva: O meu interesse pelos quadradinhos começou muito cedo, quando eu ainda era criança na década de sessenta, ao entrar no colégio para cursar o primeiro ano do ensino primário, assim era chamado o 1º grau naquele tempo, quando conheci um colega chamado Edivaldo, que fez com que eu conhecesse o mundo dos quadradinhos e a partir daí não parei mais.
No começo, quando eu ainda não sabia ler, gostava de ficar olhando apenas as figuras, depois que aprendi a ler, iniciei logo com os clássicos como Tarzan, Flash Gordon, Príncipe Valente, Fantasma, Mandrake, etc., mas na época as revistas que eu mais gostava eram as de faroeste, como Gene Autry, Black Diammond, Roy Rogers, Zorro (Lone Ranger), Aí Mocinho, Reis do Faroeste, Epopeia Tri, etc., todas publicadas pela saudosa EBAL e vários outros mocinhos publicados por outras editoras, mais tarde vieram as revista da editora Vecchi: Tex, Zagor, Ken Parker, Chet, Histórias do Faroeste, num formato diferente dos que saiam em banca até então e continuo a coleccionar até hoje as que ainda são publicadas.

Quando descobriu Tex?
Renato Alves da Silva: Lembro-me como se fosse hoje, a descoberta de Tex deu-se comigo ao entrar naquela banca de revistas que existia em frente à Escola Técnica Federal do Piauí, hoje não existe mais, onde me deparei com aquela revista que tinha como brinde um arco e uma flecha, cujo exemplar era o Tex nº 1 O Signo da Serpente, que comprei mais por curiosidade, já que desde o início a minha preferência era pelos quadradinhos de faroeste e aquela era uma história diferente, onde havia uma mistura de índios e monstros pré-históricos.
Na época eu tinha 14 anos de idade e estava cursando o ginasial, que actualmente faz parte do primeiro grau, aí veio o nº 2 Vingança de Índia, o nº 3 A Batalha de Silver Bell … e não parei mais, colecciono até hoje, mais de quarenta anos depois. Infelizmente, devido a várias mudanças que fiz pelo Brasil por conta da minha profissão, às vezes deixava os meus quadradinhos na casa dos meus pais, por conta disso o início da colecção Tex 1ª edição foi extraviado e hoje só possuo a mesma completa a partir do nº 189 O Carro de Fogo. Já consegui readquirir alguns números, mas sou daqueles coleccionadores que, ou têm o exemplar em perfeitas condições, ou prefere ficar com o “furo” na colecção.

Porquê esta paixão por Tex?
Renato Alves da Silva: Porque Tex é sinónimo de justiça e um exemplo a ser seguido, com ele bandido não tem vez, pode ser branco, preto, amarelo, índio, mestiço, etc., você já sabe de antemão que a justiça no final sempre sairá vencedora, coisa de que o mundo actual anda tão carente, além disso, Tex é sinónimo de aventura e divertimento.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Renato Alves da Silva: Tex é humano como nós, sem super-poderes, no máximo ele tem sexto sentido que nunca falha, mas o que o difere dos outros heróis é o seu senso de justiça que nunca falha e a busca implacável para que ela seja feita a qualquer preço, doa a quem doer.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Renato Alves da Silva: O total não sei dizer, mas com certeza possuo mais de 800 exemplares apenas de Tex, fora as outras personagens Bonelli, Epopeia Tri/História do Oeste, Zagor, Ken Parker, Judas, Bella e Bronco, Mister No, Martin Mystère, Dylan Dog, Mágico Vento, Nick Raider, Dampyr, Nathan Never e Júlia Kendall. Para mim todas as revistas são importantes, mas gostaria de destacar o Tex capa dura com a história O Ídolo de Cristal, da editora Vecchi e os Tex Gigante números 8, Sangue no Colorado, 22, Seminoles e 27, A Cavalgada do Morto, todos com autógrafo e desenho exclusivo do Ivo Milazzo, Lucio Filippucci e Fabio Civitelli, respectivamente, além do Tex Especial 60 anos, Na Trilha das Recordações, também autografado pelo Fabio Civitelli.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Renato Alves da Silva: Além de livros e revistas, colecciono tudo que encontro sobre Tex, embora seja difícil encontrar outros itens no Brasil relativo à personagem italiana, mesmo assim a minha colecção possui pósteres, inclusive o que veio encartado no Tex Coleção nº 300, Forte Apache está autografado pelo Fabio Civitelli, marcadores de páginas, chaveiro e o calendário Bonelli/2005.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Renato Alves da Silva: Gostaria de possuir a colecção de estatuetas com todas as personagens do mundo de Tex e tornar realidade o sonho de ter novamente em mãos o nº 1 da 1ª edição de Tex, com a história O Signo da Serpente, da editora Vecchi.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Renato Alves da Silva: Entre tantas histórias é praticamente impossível escolher uma favorita, pois sou daqueles coleccionadores que classificam as histórias de Tex em apenas três grupos: As “clássicas”, as “excelentes” e as “óptimas”, entretanto gostaria de destacar a história A Noite dos Assassinos, para mim uma das melhores da saga texiana.
Em minha opinião, além do argumento, o ponto alto da revista Tex sempre foram os desenhos e com relação a este item ela sempre esteve muito bem servida. No início eu não tinha dúvida de que o melhor desenhador de Tex era o G. Ticci, mas com o aparecimento do Fabio Civitelli eu fiquei em dúvida qual dos dois é o melhor e esta dúvida cresceu mais ainda quando adquiri o Tex gigante A Cavalgada do Morto, com a arte magistral do Fabio Civitelli, portanto eu colocaria os dois no mesmo patamar.
Não poderia deixar de citar o mestre Galep, criador gráfico e por muitos anos o capista da personagem, Claudio Villa, actual capista e desenhador de Tex e da nova geração de desenhadores o grego Yannis Ginosatis, com seus desenhos em estilo clássico e extremamente detalhista, já com relação ao argumentista, sou mais tradicionalista por achar que o G. L. Bonelli sempre foi o melhor argumentista que Tex já teve, entretanto não poderia deixar de citar Claudio Nizzi, o herdeiro à altura do mestre e actualmente a continuidade que está sendo feita pelo Mauro Boselli com muita competência, gostaria de fazer também uma citação especial ao argumentista espanhol Antonio Segura, que embora não tenha feito argumentos para o Tex normal, sempre se saiu muito bem nas edições anuais de Tex.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Renato Alves da Silva: O que me agrada mais em Tex é a diversidade de situações, de cenários em que o mesmo se envolve durante o desenrolar de suas aventuras, a riqueza de detalhes dos argumentos e dos desenhos, formam um binómio que por si só justificam a longevidade da personagem em bancas. Nada na personagem Tex me desagrada.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Renato Alves da Silva: Muitos factores concorrem para que Tex seja o ícone que é há mais de sessenta anos, mas eu destacaria principalmente o trabalho dos argumentistas e desenhadores, escolhidos entre os mais capacitados para trabalhar com o ranger, muitos dos quais com dedicação integral à personagem, além do seu senso de justiça, sempre na defesa dos mais fracos e oprimidos.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Renato Alves da Silva: Sempre que tenho oportunidade, participo de eventos relacionados à personagem Tex e foi assim que em 2001, conheci o desenhador italiano Ivo Milazzo, quando de sua última viagem ao Brasil, além do pard G. G. Carsan e o editor Dorival Vitor Lopes da Mythos Editora, na sede da Comix Book Shop em São Paulo. Em 2011, por ocasião da Gibicon nº 0 realizada em Curitiba-PR, tive o prazer de conhecer os desenhadores texianos Fabio Civitelli e Lucio Fillipucci, os pards Gervásio Santana de Freitas, do portal TexBR, Júlio Schneider, tradutor das personagens Bonelli no Brasil, Ezequiel Guimarães, da revista Mundo dos Super-Heróis, mas o melhor dos encontros texianos aconteceu por ocasião da 19ª Fest Comix realizada nos dias 20 e 21 de Outubro de 2012 em São Paulo, onde além de reencontrar o desenhador Fabio Civitelli e outros texianos de longa data, como o Dorival Vitor Lopes, Júlio Schneider, G. G. Carsan, Ezequiel Guimarães, ainda tive a oportunidade única de conhecer o argumentista de Zagor Moreno Burattini, que também foi o autor dos textos do livro O Meu Tex – A Balada do Oeste, lançado no mesmo evento, o desenhador de Tex e Mister No Roberto Diso, que gentilmente me presenteou com dois desenhos exclusivos, um de Tex e outro de Mister No e outras lendas bonellianas como Marcos e Dolores Maldonado, Paulo Guanaes, Nilson Farinha, Diamantino da Silva, editor da revista Mocinhos e Bandidos, Manoel de Souza, editor da revista Mundo dos Super-Heróis e muitos outros coleccionadores do nosso ranger mais temido do Oeste, foi uma festa inesquecível, que só não foi completa porque você, caro José Carlos, não esteve presente.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Renato Alves da Silva: Eu acho que Tex ainda tem um futuro muito longo pela frente, pois a Internet, que muitos acham que é uma forte concorrente para o declínio da venda das revistas de Tex, na minha visão actua como uma fonte de divulgação basta você digitar o nome Tex Willer nos sites de busca, para ver a quantidade de informações relativas à personagem, além da proliferação de blogues na grande rede com informações sobre o mesmo, concorrendo para arrebanhar novos leitores e manter os antigos com informações sempre actualizadas, o que no início de sua publicação era praticamente impossível haver esse tipo de interacção entre personagem e leitores. Gostaria também de dizer que enquanto existirem divulgadores da personagem em nível de Brasil como G. G. Carsan, com seus livros, exposições e palestras, Gervásio Santana de Freitas, através do portal TexBR, Adriano Rainho, colecionador e expositor, bem como você através do Tex Willer Blog em nível mundial, Tex continuará sendo publicado por muitos e muitos anos.

Prezado pard Renato Alves da Silva, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
Renato Alves da Silva: Eu é que agradeço pela oportunidade de poder falar um pouco a respeito de uma personagem que há mais de quarenta anos faz parte da minha vida.

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4 Comentários

  1. Olá, meu amigo Renato, meus parabéns pela entrevista, você é uma pessoa de quem muito me orgulho de ter como amigo, você que tive a honra de conhecer no Fest Comix 19, esse é um dos motivos que nós profissionais que trabalhamos com esse tão importante Herói TEX nos dediquemos para que a revista chegue a vocês sempre com boa qualidade, meus parabéns ao meu grande amigo Zeca por mais esta brilhante entrevista. Um grande abraço, Renato.
    Marcos e Dolores Maldonado.

  2. Caro Renato, parabéns pela excelente e saborosa entrevista. E pela dedicação em colecionar e até se deslocar de tão longe para conhecer os mestres italianos. Fantástica sua veia quadrinhística. E parabéns pela magnífica coleção com tantos itens personalizados. Como gosta muito da 9a. arte seqüencial, só recomendo que também leia os quadrinhos franco-belgas (isso se já não lê, ou já leu). As torres de Bois-Maury, Blake & Mortimer, Blueberry, Jeremiah, Jessica Blandy, Lester Cockney, Maigret, Os anjos de aço, Os Caminhos da Glória, Tanguy & Laverdure, Dick Herisson, Condor, Vic Valence, XIII entre tantos outros, são materiais muito bons para quem curte tanto HQs. E também um bem mais próximo do mundo Bonelli: o bonellide Lazarus Ledd. Também foi um prazer conhecer pessoalmente um grande fã de quadrinhos como você. Grande abraço.
    Ezequiel Guimarães

  3. Pard Renato, que prazer revê-lo tão bem animado. Pudera! Você está super solto ao lado de suas coleções. Realmente, és um grande fã texiano e muito me agrada que participe, pois assim não me sinto tão só fazendo tantas peripécias pelo Grande Tex.
    Gostei muito da sua performance no Fest Comix, por gastar tanto tempo, por adquirir tantas revistas, por conseguir tantos autógrafos e fotografias. E fiquei encantado com a simpatia da sua filha, mas sobretudo com a sua disponibilidade e alegria em acompanhar o seu pai durante horas a fio, como uma Apache determinada, para lhe proporcionar tantas alegrias. Além disso, percebi que a meio da aventura em diante, ela entrou no clima e deixou correr até o final.
    Aos meus olhos você passou um dia de garoto a conseguir todos os presentes que desejava. E como me sinto igualmente quando estou perto dos ídolos, dos texianos e de Tex, então foi bem legal trocarmos idéias, nos reencontramos, revivermos alguns momentos e colocarmos os papos em dia.
    Tomara que possamos nos encontrar em BH no próximo FIC, em novembro 2013. Estou me preparando mentalmente para ir e se Deus quiser, teremos um Grande Conselho Texiano em plena capital mineira.
    Parabéns pela entrevista e pelas coleções.
    Adelante compañero!
    G. G. Carsan

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