As Leituras do Pedro: Tex Gigante #27 – A Cavalgada do Morto

As Leituras do Pedro*

Tex Gigante #27 – A Cavalgada do Morto
Mauro Boselli
(argumento)
Fabio Civitelli
(desenho)
Mythos Editora
(Brasil, Outubro de 2012)
185 x 275 mm, 242 p., pb, brochado
R$ 19,00 /
10,00 €

Resumo
A morte em condições enigmáticas de um antigo ranger, seguida da aparição de um pretenso cavaleiro sem cabeça, leva Tex, Kit Carson, Kit Willer e Jack Tigre a regressar a Pilares, correspondendo a um convite do seu amigo El Morisco.

Irão descobrir uma antiga história, violenta e trágica, na origem de uma vingança que deverão impedir a todo o custo.

Desenvolvimento
Embora a alguns isto possa soar estranho, a verdade é que este era um dos livros aos quadradinhos mais aguardados de 2012. Dentro do seu segmento específico, evidentemente, que, diga-se, pela sua dimensão, está longe de ser negligenciável, mas também fora dele. E não só porque estamos em presença de um “Texone” (o nome original dos “Tex Gigante” em Itália).

Tal como acontece recorrentemente noutras áreas temáticas da BD, a expectativa devia-se primordialmente à sua parte gráfica, ou não fosse Fabio Civitelli, sem dúvida o mais categorizado desenhador de Tex dos últimos anos, o escolhido para ilustrar este livro.


E o mínimo que se poderá dizer, é que o artista italiano não defraudou os seus fãs nem as esperanças nele depositadas. Ajudado pelo formato do álbum, o seu desenho brilha mais, pois permite realçar a qualidade e a precisão do seu traço fino e expressivo, apreciar o realismo com que retrata tanto cenários urbanos, quanto paisagens desertas ou zonas montanhosas, fogosos cavalos ou seres humanos. (E aqui justifica-se um aparte para realçar as mulheres de Civitelli – e elas têm um pouco mais de protagonismo neste Tex Gigante do que é habitual – o que faz desejar a sua arte numa série em que elas tivessem presença mais destacada).

Amante da precisão, do detalhe, do pormenor, do rigor e da qualidade, Civitelli brilha a grande altura e com ele a técnica que desenvolveu ao longo de muitos anos a desenhar o ranger Bonelli. E, neste campo, revela-se insuperável o pontilhismo que utiliza para definir sombras, volumes e ambientes nublados ou nocturnos, sendo justo destacar a longa sequência passada no interior da montanha, no cemitério índio, onde a névoa e a escuridão são quase palpáveis à bruxuleante luz das tochas.


Quanto à história em si – que apesar de tudo o que para trás fica não pode ser passada para segundo plano, pois isso faria desta BD uma obra menor – é consistente e está bem construída. Os avanços narrativos são feitos de forma calculada, com mudanças de local e de protagonistas em cada pico de acção ou suspense, quase como se se tratasse de capítulos a publicar numa revista – o que ajuda a embarcar o leitor no tom predominante.

É verdade que tem uma longa introdução – talvez demasiado longa, defeito recorrente em Tex – que condiciona uma equilibrada exploração do desfecho, mas é ela que contextualiza e explica a restante acção e a origem do morto sem cabeça que cavalga à noite como lúgubre premonição para aqueles a quem irá tirar a vida.


Cavaleiro sem cabeça (literalmente?) esse que está na origem do (pouco vulgar) tom fantástico que a história assume, a espaços próximo mesmo do suspense e do terror – visível na fantasmagórica aparição ou na viagem ao além de Eusébio e cujo auge se divide entre a já citada (e conseguida) cena no cemitério índio e o confronto final – e que é a nota distintiva do relato.


A reter
– O desenho de Civitelli, (in)suficientemente elogiado acima.
– O (inusitado) tom fantástico da história.
– Para todos os efeitos, o curto intervalo entre a publicação original e o lançamento desta edição no Brasil.

Menos conseguido
– O final algo abrupto, o que infelizmente não é novidade nem em Tex, nem em Tex Gigante.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro.

2 Comentários

  1. Muito bom!

    Justificou plenamente as expetativas, mais ainda com o traço genial de Civitelli e um argumento diferente do Boselli!

  2. Caro, cowboy de além mar, Pedro Cleto…
    Sem dúvida sua dica foi muito bem vinda. Ainda não tinha comprado essa obra de arte do Civitelli. O mestre anda cada vez mais detalhista. É impressionante. Deve levar horas trabalhando nesses quadros. Vou comprar!
    Grande mano amplexo a você e ao meu querido Zeca Willer!
    See you later, cowboys!

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