TEX no Diário As Beiras: 25 de Março de 2006

Texto do jornal Diário “As Beiras” de 25 de Março de 2006
João Miguel Lameiras

Tex no Canto dos Cisnes de Magnus

Tex no Canto dos Cisnes de MagnusQuase que já perdi a conta às vezes que neste espaço falei da colecção “Tex Gigante” da Mythos, mas os nomes que já passaram pela dita colecção (de José Ortiz a Victor De La Fuente; de Alfonso Font a Ivo Milazzo; de Colin Wilson a Joe Kubert; de Jordi Bernet a Manfred Sommer) bem justificam esse merecidíssimo destaque. Até porque, na grande maioria dos casos estas luxuosas aventuras do cowboy da Editora Bonelli são das poucas oportunidades dadas aos leitores portugueses de apreciarem a arte de todos esses grandes desenhadores.
Mais uma vez, é o que sucede com “O Vale do Terror”, 13º volume da colecção e o mais recente “Tex Gigante”, distribuído em Portugal pela Mythos Editora, que nos traz aquele que foi o último trabalho do grande desenhador italiano, Magnus.

Nome grande em Itália (não por acaso, um dos números da colecção original italiana dos Clássicos da Banda Desenhada, editada pela Panini, foi dedicado a Magnus) o desenhador deste Tex Gigante é praticamente desconhecido em Portugal, onde apenas chegaram, via revista brasileira “Animal”, algumas histórias curtas da série “Mulheres Enfeitiçadas” e um episódio da paródia erótica necrófila “Necron”, para além do álbum “As Cento e dez Pílulas”, uma adaptação bastante “picante” de um clássico do erotismo chinês, que teve direito a uma continuação feita por Georges Pichard.

Nascido em Bolonha em 1939, com o nome de Roberto Raviola, Magnus (abreviatura de “Magnus Pictor” – “grande pintor”) dedicou-se à cenografia, à publicidade e à ilustração, antes de um encontro com o escritor e jornalista Luciano Secchi (Max Bunker) o levar a experimentar a Banda Desenhada. Em 1964, os dois autores são responsáveis pela criação das personagens “Satanik” e “Kriminal”, expoentes máximos do “giallo” (o policial negro italiano, marcado por um forte sadismo e erotismo) na Banda Desenhada, mas a carreira de Magnus abarca os mas variados géneros, desde a aventura em cenários exóticos, ao erotismo, passando pelo humor e pela ficção científica, em histórias que confirmam o seu estatuto de mestre do preto e branco e um dos melhores desenhadores realistas italianos.

O Vale do TerrorA aventura de Tex que motiva este texto foi o seu último trabalho, ao qual se dedicou de forma obsessiva, durante mais de sete anos, de 1988 a 1996, contando com a ajuda do seu assistente Giovanni Romanni no desenho dos cavalos, tendo falecido vinte dias depois de acabar de desenhar as 224 páginas desta história. A interminável série de pesquisas preliminares (desde estudos para as personagens, até à vegetação, arquitectura e mobiliário) efectuada por Magnus reflecte-se no resultado final, de uma meticulosidade impressionante, sem que a narrativa perca qualquer fluidez com isso.

Um dos aspectos mais evidentes do rigor obsessivo de Magnus é o tratamento dos elementos naturais, desde a vegetação, até à chuva e às tempestades, utilizadas dar um maior dramatismo à cena do assalto a Sutter’s Rest. A esse nível, é fantástico ver como Magnus usa a luz dos relâmpagos, ou do clarão do disparo das pistolas para iluminar momentaneamente as cenas nocturnas, reforçando assim o lado dramático dessas cenas.

Também Claudio Nizzi, o argumentista habitual da colecção, tem aqui um dos seus melhores trabalhos, ao assinar uma história pensada para fazer brilhar o estilo único de Magnus. Com efeito, a intriga e o ambiente de “O Vale do Terror” estão mais próximos dos romances de Edgar Alan Poe, ou Sax Rohmer, do que dos Westerns tradicionais, com Nizzi a explorar muito bem a dimensão trágica de John Sutter, numa história em que os maus não deixam de ser humanos, apesar dos seus defeitos, como é o caso da misteriosa May-Ling, que acaba por sucumbir às mãos do homem a que devotou toda a sua vida.

Considerado por muita gente como o melhor Texone de sempre, tanto em Itália, como no Brasil, onde ganhou um troféu HQ Mix, “O Vale do Terror” chega finalmente a Portugal. É, obviamente, uma edição a não perder e o mais óbvio testemunho do enorme talento de Roberto Raviola, de nome artístico Magnus.

(“Tex Gigante nº 13: O Vale do Terror”, de Claudio Nizzi e Magnus, Mythos Editora, 242 pags, 8 €)

Copyright: © 2006 Diário “As Beiras”; João Miguel Lameiras
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