Color Tex – E venne il giorno

Por Sílvio Raimundo

Série – Color Tex
Título –
E venne il giorno
Argumentista –
Mauro Boselli
Desenhador –
Bruno Brindisi
Capa –
Claudio Villa
Letras – Marina Sanfelice

Sinopse: Deserto de Black Rock, no Nevada, sob um sol escaldante o bando dos irmãos King, composto por Douglas, Adam, o jovem Wayne e mais dois comparsas, tentam fugir de um jovem Kit Carson flanqueado por um recém integrado ao corpo dos Rangers, Tex Willer. Depois de um acirrado embate, apenas Doug escapa e é internado num manicómio criminal. O saque nunca fora encontrado.
Anos mais tarde, em Spokane Falls, Washington, Carson vai ao encontro do Escrivão David McCanles, com quem descobre ser o único herdeiro de Helen Brown, viúva de Rick Brown, Ranger e amigo assassinado à traição por Doug King.

Considerações – Álbum

E veio o dia O dia das cores ao universo Texiano finalmente chegou em forma de série regular anual, publicada pela SBE no mês de Agosto.

Com 162 páginas, capa em papel cartão e miolo em jornal alvíssimo, ou seja, a diferença aqui é apenas a colorização, pois, esse já é o padrão das edições Bonellianas de linha mensal. Para quem conhece as adições Color Fest do Dylan Dog, certamente sentiu ou sentirá uma pontinha de desapontamento ao apanhar nas mãos esta edição Texiana. Há algum tempo a gramatura do papel miolo e das capas de algumas edições Bonellianas, vêm diminuindo, para comprovar isso, basta comparar os actuais Almanacco del West, com os mais antigos. Seria esse um sinal da crise pela qual os quadradinhos passam mundo a fora?

A SBE esqueceu-se de colocar no expediente de quem é a colorização, porém, publicou o “Cari Amici” do Sr. Sergio Bonelli, onde ele narra a sua primeira vinda ao Brasil.

A capa do Claudio Villa é muito bonita, com arte pintada mostrando um Tex sacando o seu revólver com uma rapidez estupenda, mas, ela lembra por demais outras capas do mesmo Villa, como por exemplo, Tex #455 – Vendetta Navajo (no Brasil, Almanaque Tex #1 – Mythos Editora),que por sua vez, lembra Tex #600 – I demoni del Nord(no Brasil, Tex #500 – Os demónios da noite).

Considerações – Desenhos

O desenhador desta edição icónica não poderia deixar de ser outro que não o Bruno Brindisi. Nascido em Salerno em 1964, Brindisi apareceu em Tex ilustrando de forma impecável o Texone #16 – I predatori del deserto, em 2002, álbum que no Brasil foi lançado pela Mythos em 2003, com o título Os predadores do deserto. Mais tarde, em 2004, Brindisi conclui o álbum da série mensal #519 – Muddy Creek iniciado por Vicenzo Monti, que faleceu deixando-o inacabado, e desenha o #520 – Agguato a mezzanotte. Estes álbuns foram publicados no Brasil pela Mythos em 2005, nos números 425 e 426 da série mensal, cujos títulos são Alma envenenada e Emboscada à meia-noite.

Mas, com uma passagem tão pequena pela série de Tex, então por que o Brindisi foi “brindado” – com perdão do trocadilho – com tamanha honraria de desenhar o primeiro número de uma série regular colorida de Tex?

Devemos levar em consideração que Brindisi é dono de um traço extremamente detalhado e limpo, propício às cores. Tanto o é, que para a personagem Dylan Dog, ele ilustrou cinco álbuns coloridos e uma história para o primeiro número da série Color Fest, assim sendo, justifica-se a escolha, pois, para um álbum desse porte, teríamos que ter no mínimo um expert, que soubesse como produzir desenhos para serem coloridos.

Brindisi é o tipo de artista que se sai bem em qualquer tipo de ambiente, sejam eles os urbanos de DyD quer as paisagens desérticas necessárias a Tex, ele cumpre o seu papel com maestria. As personagens, independente da sua importância na história, são tratados como se fossem astros principais e têm muita personalidade. Para arte finalizar, comummente o Brindisi se utiliza da técnica de criar hachuras com pincel seco que se pode dizer ser a sua marca registada, nesse álbum ele emprega-a basicamente na composição da madeira e, em alguns momentos nas rochas, ele aplica-a na medida exacta e consegue compor o efeito desejado. A respeito das cores, é fácil vê-lo utilizá-las como aliadas quando ao desenhar as cachoeiras ele simplesmente deixa os espaços vazios, para que as cores façam o serviço.

Também é maravilhoso ver-se como com uma subtileza incrível, o artista consegue mostrar-nos Tex e Carson ainda jovens e em seguida os mesmos amadurecidos, porém, com os traços fisionómicos de quando jovens. O ponto alto ocorre nas páginas 69 a 73, onde os Pards se põem diante do sepulcro indígena de Carson e Kit Willer demonstra todo o amor que nutre pelo tio postiço. O juramento de Tex remonta-nos a outro momento da sua trajectória, quando diante do túmulo de Lilyth ele jura vingança.

Os mais atentos e mais tradicionalistas, porém irão notar que o Brindisi, quebrando os ditames dos cânones Bonellianos, desenha Kit com as suas calças verdes por dentro das botas. Estaria ele imitando o Corrado Mastantuono no seu Texone Il profeta Hualpai?

Considerações – Roteiro

O milanês Boselli estreou nas páginas de Tex no longínquo Julho de 1986, com a história Acqua ala gola, #309 da série mensal. Aqui ele dividiu os créditos do argumento e do roteiro com Claudio Nizzi e Gianluigi Bonelli, já no #310 – La minaccia invisibilie, Boselli cria o argumento para que G.L. Bonelli roteirize. Uma grande responsabilidade eu diria. No Brasil estes álbuns foram publicados pela Editora Globo, nos números 215 e 216, cujos títulos são: Com água até o pescoço e A ameaça invisível. Como era prática naquela época, os créditos pela história foram para o G.L. Bonelli.

Em seus roteiros Texianos, Boselli sempre nos mostra algo além do normal mundo de fronteira ao qual nos acostumamos quando lemos Tex. Em alguns momentos a história é centrada não em Tex como primeira pessoa, apesar de ele sempre estar à frente. Boselli é corajoso e versátil e escreveu muitas histórias que entraram para os anais das favoritas dos leitores.

Tex é uma personagem que não teve uma origem definida, contada de uma só vez, o seu passado foi mostrado ao longo dos anos de uma forma fragmentada, também as personagens que fazem parte do seu mundo, de certa forma ainda têm um passado obscuro, o que possibilita aos argumentistas, sempre que queiram, nos contar algo em flash back, ou até mesmo trazer o passado à tona. O Boselli, magistralmente já fez isso com Carson e com El Morisco e desta vez pega um gancho no passado pouco explorado das aventuras da dupla de Rangers e tece uma trama muita interessante.

Depois de mostrar no passado como a quadrilha dos King foi exterminada sobrando apenas Douglas King louco, nos dias actuais Carson se vê frente a frente com o passado na pele de um também envelhecido Doug, que parece ter recuperado o dinheiro roubado e montado uma quadrilha para se vingar.

Carson é assassinado e ao ser avisado, Tex, seu Filho e Jack Tigre partem para enfrentar a dolorosa realidade e, claro, fazer justiça. Ao conversarem com o Xerife Taylor e com o verdadeiro escrivão, David McCanles cuja face é a do actor Aidan Quinn, fica claro que existe uma cabeça pensante por trás do complô que culminou na morte de Carson.

Nós leitores acreditamos tanto no mundo Texiano, que em muitos momentos queremos ver alguma coisa mais aproximada da realidade, como por exemplo, Tex sofrendo algum revés, mas, isso é impossível, pois, apesar de nós acreditarmos na humanidade de Tex, ele continua sendo um herói de papel, apesar de o sentirmos como da família, ele continuará existindo em nossas vidas apenas nas revistinhas que acondicionamos nas nossas estantes e nas estatuetas que também as enfeitam. Isso fica claro ao se ler esta aventura, ver Carson morrer e ressurgir ao final dela.

Sim, ele está vivo, mais do que nunca ele está vivo e já sabíamos disso desde o momento em que lemos a sinopse da SBE, ou desde o momento em que lemos as páginas onde isso ocorre e, apesar de querermos realidade, essa de facto nós refutamos, pois, como seria a nossa existência sem a existência dos nossos heróis fictícios?

Os autores nos impõem ansiedade, nos impõem sofrimento e angústia ao colocar os nossos “familiares” em condições de perigo, mas, o alívio sempre nos vem ao final da revistinha e, é assim que nós queremos e precisamos.

Não considerem como spoilero que aqui está escrito, pois, não apenas Tex, mas, também os seus Pards, jamais morrerão. Eles podem se ferir um pouco mais gravemente, alguns deles, com excepção de Tex podem ficar de fora de alguma aventura, mas, estarão sempre lá, ao alcance das nossas mãos que viram as páginas de suas existências.

Eles irão permanecer vivos até que nós morramos, nós os Texs que gostaríamos de ser, para de forma infalível salvaguardarmos os nossos Filhos Kits, pelos quais lutamos todos os dias para que encontrem um rumo na vida. Eles continuarão vivos até que os nossos Pais, também Texs de um momento para o outro deixem de existir fisicamente. Eles irão continuar vivos, mesmo quando os nossos Amigos, Carsons e Tigres vierem, nos visitem e retornem para as suas vidas diárias. O interessante disso é o como identificamos e introduzimos valores de um mundo fictício, no nosso mundo real.

Nós não podemos pedir aos autores que tornem o mundo Texiano realidade, pois, isso de facto é impossível e, na verdade, nós não queremos e nem aguentaríamos isso.

Para, além disso, o que ocorre com o Carson não é de facto o tema central deste álbum, mas sim, a influência que uma Família exerce nas nossas vidas, seja ela uma Família íntegra ou à margem da lei.

Como não posso avaliar apenas o mérito do Argumentista e do Desenhador, mas, também o da Editora, em uma escala de um a cinco, este álbum levaria apenas quatro Winchesters.

9 Comentários

  1. Não me bastasse o incomensurável prazer de ‘quase’ ouvir a sua voz ao vivo, ou o quase prazer de conhecê-lo, caro pard Silvio Introvabili Raimundo, ainda me cai aos olhos este fabuloso texto sobre o Ranger mais temido, famoso e amigo do Velho Oeste.
    Vou tomar uma dose de vinho para brindar este momento de prazer. Este Tex Color acaba de ficar muito melhor e prometo relê-lo por estes dias, levando em conta as suas emoções.
    Por isso que se diz: Come Tex non c’è nessuno!
    Forte abraço, pard.
    G. G. Carsan

  2. Grande Carsan!

    Amigo, antes de qualquer coisa, deixe-me dizer que estou por demais feliz, pois, tendo essa análise lhe agradado e, sendo você o Texiano que é, ela já valeu a pena.
    Espero termos o prazer de num momento vindouro e breve, fazermos um brinde real a Tex e a Amizade que ele nos proporciona.

    Forte abraço, caro Amigo!

    Sílvio Introvabili

  3. Olá Mister AfraNO!

    Obrigado por ter lido a review e vamos esperar a nossa edição Tupiniquim dessa obra.

    Abraços desde as terras áridas até você!

    Sílvio Introvabili

  4. Esse material de papel jornal de padrão superior ao do Brasil, é o material que a Mythos deveria ter usado na coleção em cores, mesmo tendo caído um pouco de qualidade, ainda é matéria-prima de primeira, que poderia ser usado nas edições da Mythos. Essa edição sim com esse tipo de papel deveria ser usado no Brasil, as revistas não sairiam tão caras e o produto usado é agradável. A grande jogada das edições italianas é manter a qualidade em preços acessiveis, diferente do Brasil.

  5. Olá Antonio!

    Isso que estás a comentar em relação ao papel, foi posto em prática pela Panini quando da publicação do volume do Watchmen definitivo.
    Ao mesmo tempo que o definitivo custava R$ 120,00 ou coisa similar, havia em bancas dois volumes em papel jornal alvo, que custava cada volume R$ 28,00. Claro que o papel jornal não tinha a mesma qualidade do que é usada pela SBE.

    Abraços,

    Sílvio Introvabili

  6. Caro amigo Sílvio,
    Suas análises são as análises mais completas que já li em toda a minha vida. O seu conhecimento Texiano é um dos mais amplos (se não o mais amplo) que já conheci. Eu não leio Tex, mas, o modo que você fez a análise e a empolgação que você nos passa com suas análises, literalmente chamam a atenção. Eu, como muitos outros, comecei a ler desde criança (influenciado por meu pai). E ele tinha (e ainda tem) um apreço enorme pelos gibis do Tex. Prova disso é que ainda compra e conhece muito a série. Quanto ao material “redatado” eu não posso comentar, pois, não possuo conhecimento algum sobre a série. Eu acompanho as obras do Maurício de Souza, um artista que faz revistas aqui no Brasil (série muito famosa) e também os mangás do mangaká Masashi Kishimoto.
    Pena que falta 2 na coleção (que não chegaram nas bancas locais daqui).
    Forte abraço

    Agora me diga, meu caro Sílvio, Quem eu sou??

  7. Olá Anonymous, tudo certinho?!

    Fico feliz por terdes aprecisado a análise feita por mim. Espero que ela o tenha incitado a adentrar ao universo Texiano. Seu Pai por certo ficaria muito feliz e você conheceria algo que lhe mudaria de alguma forma.

    Sobre mangás, eu gosto muito do Lobo Solitário, do Kazuo Koike e Goseki Kojima e mais tarde conheci o Vagabond do Takehiko Inonue, que se baseia no livro do Eiji Yoshikawa e narra a vida do Musashi.

    Já o Naruto eu nunca li, mas, tenho um Filho, o Gigante, que é viciado, inclusive faltam também dois números na coleção dele 🙂

    Abraços,

    Sílvio Introvabili

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