Entrevista com o fã e coleccionador: Alvaro Barreto

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Alvaro BarretoPara começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu?
O que faz profissionalmente?

Alvaro Barreto: Nasci há 40 anos, em Bagé (Rio Grande do Sul – Brasil), mas vivo há bastante tempo em Pelotas, onde sou professor da área de Ciência Política na Universidade Federal (UFPel).
Fiz mestrado e doutorado em História Política e tenho graduação em Filosofia e Jornalismo.

A BiblioTEX de Alvaro BarretoQuando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Alvaro Barreto: Acompanho BD desde antes mesmo de estar alfabetizado e nem sei dizer de onde ou como surgiu esse interesse, pois meus pais não tinham o hábito de ler revistas do género. Apesar disso, sempre respeitaram e estimularam a minha paixão, o que ajudou bastante. Nas décadas de 70 e 80, comprei ou li praticamente tudo que surgiu em bancas, como: Disney, Maurício de Souza, Marvel, DC, quadradinhos de autor europeu e, claro, personagens da Bonelli.

Quando descobriu Tex?
Alvaro Barreto: Em 1979, portanto, há quase 30 anos, comprei o primeiro Tex, o número 100. Li, gostei e, desde então, passei a comprar religiosamente. Corri atrás da segunda edição (então no número 27 ou 28), depois dos números que faltavam para completar a colecção – objectivo atingido em 1982.

Alvaro Barreto na sua BiblioTEXPorquê esta paixão por Tex?
Alvaro Barreto: Não sei dizer exactamente. A qualidade do texto e do desenhos certamente colaborou, mas isto também se pode encontrar em outras personagens. Gosto muito de faroeste, contudo também me agradam outros géneros, como ficção científica e policial. Naquela época, eu lia de tudo. Tex era mais uma personagem, ao lado de Batman, Homem Aranha, Zagor, Conan e tantos outros.
O facto é que os anos passaram e apenas Tex permaneceu. Nunca abandonei totalmente os quadradinhos, mas a fase adulta me afastou deles. Tex, por exemplo, eu jamais deixei de comprar, mas durante longos anos não lia, apenas dava uma olhada nos desenhos. Tanto que me lembro muito bem das histórias publicadas até o número 150 e menos das demais.
Acho que as exigências e a seriedade da vida é que me trouxeram de volta e com afinco aos quadradinhos, ou melhor, a Tex. E ter continuado a comprar a revista mostra uma paixão esquecida, mas não perdida. Hoje, ler e coleccionar com atenção me traz de volta à infância-adolescência e alivia o stress da vida adulta. E estou muito feliz de ser um fanático por Tex.

A bela BiblioTEX de Alvaro BarretoO que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Alvaro Barreto: Também não sei explicar. A firme determinação e o claro senso de justiça, a inconformidade em relação aos poderosos são elementos a destacar. A excelência da produção é algo também a se evidenciar: em geral, boas histórias, com muita acção, sem serem absurdamente complexas e magnificamente bem desenhadas. Outra característica que percebo mais claramente hoje é simplicidade da estrutura narrativa. Em essência, o Tex de hoje é o mesmo de 30 anos atrás, não ocorreram aquelas reviravoltas, mortes, retornos, transformações etc. típicas dos super-heróis, que exigem quase uma enciclopédia para que possam ser entendidas. Assim, o leitor de Tex não precisa (embora possa ser) um expert no universo da personagem para usufruir do que ele oferece. Quando voltei a ler  as histórias, encontrei basicamente o mesmo Tex dos anos 70 ou 80, aquele que eu aprendi a gostar. Isso foi muito bom, a personagem foi gentil comigo, soube me esperar. Mas não sou saudosista, pois muitas das revistas que li naquele período ficaram perdidas na infância ou na adolescência, como referência aquele tempo, lembranças queridas de um período que já passou. Tex não, ele foi importante quando eu tinha 10 anos e hoje, aos 40, continua a ser prazeroso. Paradoxalmente, porque mudou pouco – embora eu tenha mudado muito.

Alvaro Barreto e o Tex JuniorQual o total de revistas de Tex que tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Alvaro Barreto: O número exacto eu não sei, mas tenho completas todas as colecções publicadas desde os anos 70: Tex 1ª edição, Tex 2a edição, Tex Coleção, Tex Ouro, Grandes Clássicos, Anual, Especial de Férias, Almanaque, Minisséries, Tex Gigante, Edição Histórica, especiais coloridos, Fumetti, Almanaque do Oeste, Ídolo de Cristal. Ao voltar a ser um “fanático” e com mais poder aquisitivo do que quando era adolescente e vivia de mesada, adquiri o Álbum do Tex (que não veio para a minha cidade na época) e uns 150 número da revista Júnior. Também tenho comprado o Tex Collezione Storica a Colori, por intermédio do José Ricardo.
Ala TEXianaNão são os mais valiosos para mim, porém foram os mais difíceis de conseguir: o Álbum e o Tex nº 1 da primeira edição. Também tenho um suposto encarte da revista Jacques Douglas com propaganda do lançamento do Tex pela Vecchi, adquirido no Mercado Livre (falo suposto porque não tenho plena certeza da autenticidade). Se for verdadeira, acredito ser um item importante para coleccionadores.
Uma das grandes satisfações que Tex me propiciou ocorreu em 1995, quando, em uma viagem a Milão, visitei a Sergio Bonelli Editore, na qual cheguei sem avisar e fui muito bem recebido. Naquele momento, estava realizando um sonho de infância.

Colecciona apenas revistas ou tudo o que diga respeita à personagem?
Alvaro Barreto: Tenho uma série de materiais ligados a Tex e que não são revistas: livros, póster, chaveiro, os bonecos da Hachette. E sempre que possível compro esses produtos. Mas não são a minha prioridade.

Alvaro Barreto e o álbum de cromos de TexQual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Alvaro Barreto: As colecções completas italianas. O meu novo projecto como coleccionador é este. Custa bastante dinheiro e esforço, mas dá para realizar. Todavia, sonho, sonho mesmo seria ter em mãos uma revista do Tex publicado pela SBE com um argumento meu.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Alvaro Barreto: Há muitas histórias, não saberia dizer uma só: Flechas Pretas Assassinas (50-52), Entre duas bandeiras (53-55), Na Fronteira do Colorado (73-74), O Grande Golpe (107-110).
Como argumentista, Gian Luigi Bonelli com certeza. Na arte, se tiver de escolher apenas um fico com Ticci. Todavia, a concorrência é de peso. Admiro muito as capas (e as poucas histórias) desenhadas pelo Villa e considero que Galep nunca pode ser esquecido.

Raridades TEXianasO que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Alvaro Barreto: A coragem, determinação e inteligência, além dos elementos já destacados. Não há grandes reparos a fazer: não me preocupa que ele fume, beba, use de violência física ou que a participação das mulheres seja diminuta – traços geralmente criticados. No entanto, os textos de Nizzi efectivamente estão menos qualificados do que antes e o staff dos desenhistas é menos homogéneo (há excelentes artistas e outros menos habilitados). Mas isso também é fruto da fase de transição e renovação: novos argumentistas se agregam à equipe e muitos novos desenhadores passaram a trabalhar.

A grandiosa BiblioTEXEm sua opinião o que faz de Tex o ícone que ele é?
Alvaro Barreto: A qualidade do trabalho: uma boa personagem, com bons coadjuvantes, tramas bem urdidas, artistas excelentes. Tudo o mais decorre disso.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Alvaro Barreto: Sou um coleccionador solitário. Não mantenho contacto com ninguém da minha cidade que seja coleccionador, mas não estou isolado: consulto o blogue do Tex, o grupo BonelliHQ e o portal Tex.br praticamente todos os dias – aliás, aproveito para elogiar o trabalho liderado pelo José Carlos Francisco, pelo Gervásio, e pelo José Ricardo, os quais muito ajudaram a me reaproximar do universo de Tex.

Alvaro Barreto e a sua paixão TEXianaPara concluir, como vê o futuro do Ranger?
Alvaro Barreto: Sou optimista. A fase é de transição, mas a perspectiva é muito boa. Tex oferece hoje produtos muito mais diversificados do que quando comecei a ler a revista. Se me dissessem naquela época que uma vez por ano chegaria a bancas um produto como o Tex Gigante (com desenhos de Joe Kubert, por exemplo), o Anual ou o Almanaque, eu não acreditaria. Ao contrário de Sergio Bonelli, prevejo muitos anos de sucesso. Além disso, Tex já está eternizado como uma das principais, senão a principal personagem do faroeste.

Prezado pard Alvaro Barreto, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das fotografias acima, clique nas mesmas)

4 Comentários

  1. Incrível quantos grandes e apaixonados colecionadores “desconhecidos” de Tex temos espalhados por esse Brasil afora.
    Prazer em conhece-lo Álvaro.

  2. Belíssima entrevista, dá mostras que o Álvaro é de fato um dos grandes colecionadores de TEX do Brasil. Me destacou sobremaneira o fato de ver que o Álvaro, do que deduzimos do que ele revelou, ser um argumentista/roteirista e que sonha ter um dia um roteiro publicado na SBE. É um grande sonho, Álvaro, mas não é impossível, porque outros já o realizaram. Força sempre!
    —————-
    Gervásio Santana de Freitas
    Portal TexBR

  3. Apesar de eu colecionar quadrinhos Disney e Marvel, fico espantado (e feliz) com tamanha dedicação tua Alvaro. Parabéns mesmo! Vc é o kra.

    Abraços

    Daniel

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