Entrevista com o fã e coleccionador: Bira Dantas

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Bira Dantas e TexPara começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Bira Dantas: Meu nome é Ubiratan Libanio Dantas de Araújo, nasci em São Paulo, capital, em 03/03/1963. Morei no Rio de Janeiro (de 1965 a 1976), voltei para São Paulo e desde 1988 vivo em Campinas/SP onde casei com uma médica (Cláudia), tenho uma enteada (Alice) de 26 anos e uma filha (Thaís) de 8 anos. Fiz curso de Editoração em BD (USP) e Design Gráfico. Mas aprendi BD de forma autodidacta. Fui muito influenciado por Angelo Agostini, J.Carlos, Belmonte, Carlos Estevão, Henfil, Fortuna, Millôr, Ziraldo, Jaguar, Angeli, Laerte, P.Caruso, Sábat, Carlos Nine, Moebius, Burne Hogarth, Manara.

Para aqueles que ainda não estão bem identificados com a sua carreira profissional, gostaríamos que fizesse uma pequena apresentação própria e do caminho entretanto percorrido na sua carreira?
Caricatura de Bira Dantas por... Bira DantasBira Dantas: Trabalho com Quadrinhos e Charges desde 1979. Fui desenhador da revista em quadradinhos “Os Trapalhões” (Bloch) de 1980 a 82 e intercalador de desenho animado no Estúdio Briquet (Bond Boca) em 85, quando fiz parte da AQC (Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas de SP). Colaborei em revistas de BD como Pântano, Tralha, Porrada, Megazine, Bundas; revistas empresariais: Caterpillar, EATON, IBM, 3M, Rockwell Fumagalli; jornais como Retrato do Brasil, Folha da Tarde (SP), Diário do Povo (Campinas), Pasquim21 e jornais Sindicais e livros para Editora Atual (O Caderno de Perguntas de Rebecca), Anglo e Ática (didácticos).
Participei de livros de Cartuns da Editora Virgo como “Brasil, 500 anos”, “Fome de ver estrelas”, “Tiras de Letras”, entre outros.
Sou professor de charge, cartum e caricatura na Escola de Arte Pandora, em Campinas. Actualmente publico minhas charges no Sinergia e Sindipetro.
Tenho uma revista virtual (Bira, 20 anos de HQ) no site www.nonaarte.com.br.
– Em 1986, recebi o primeiro prémio em caricatura, no IV Salão sobre Desenho de Humor de Belo Horizonte.
– 1992: Menção honrosa na IV Mostra de Humor de Araras (SP).
– 1998: Prémio Júri Popular-Internet no Salão Nacional de Humor sobre fiscalização dos Gastos Públicos (UNACON de Brasília).
– 2000: Duas menções honrosas em caricatura no Salão de Ribeirão Preto (SP).
– 2002: Diploma de mérito “Zumbi dos Palmares” concedido pela Câmara dos Vereadores de Campinas/SP pela produção de um gibi sobre a vida de Zumbi.
– 2003: 19º Prémio Ângelo Agostini, como melhor cartunista do Brasil e primeiro lugar em Caricatura no Salão de Humor do Chipre Ramiz Gökçe.
– 2004: Prémio Ângelo Agostini de melhor cartunista e menção honrosa em Cartum no Salão de Volta Redonda.
– 2005: Fui o único palestrante não-oriental no WCC (World Comics Conference) em Bucheon, Coreia do Sul.
– 2006: Troféu Angelo Agostini.
– 2007: HQ Mix por Melhor Revista Mix (Front- Via Lettera)..

Bira DantasQuando é que teve início esta paixão pela Banda Desenhada, em especial pelo Tex?
Bira Dantas: Faço BD há quase 30 anos e sempre gostei de boas histórias, roteiros bem amarrados. E é isso o que vemos em Tex. Quando garoto ganhei um Tex de presente, mas como eu era louco por super-heróis acabei deixando de lado. Achei bom, mas não me conquistou de imediato. Depois de velho (…risos, com uns 30 anos), vi na banca de revistas que José Ortiz tinha desenhado um Tex Gigante. Eu era fã de Ortiz desde os tempos de Kripta. Comprei, li e adorei. Que história boa! Fiquei de queixo caído! Como alguém consegue fazer uma BD de 220 páginas sem deixar a peteca cair? Comprei os números antigos de Tex Gigante. Maravilhosos.
Li Os Grandes Clássicos de Tex, com algumas republicações de aventuras antigas e adorei! Lembrou-me muito a qualidade de grandes clássicos da BD, como Príncipe Valente, Flash Gordon, Astérix, Mafalda, Lil Abner, Tarzan, Cisco Kid…

Porquê o Tex e não outra personagem?
Bira Dantas: Sou um fã inveterado de Tex porque gosto de bom humor. Dou risadas sozinho ao ler os impropérios ditos por Kit Carson e ironias ditas por Tex. Sempre encontro um jogo de diálogos muito espirituosos.
Tex está em minha estante ao lado de Flash Gordon, Tarzan de Foster e Hogarth, Mandrake, Brucutu, Spirit, Lil Abner, Cisco Kid, Príncipe Valente, Nhô Quim, Tico-Tico… porque além de Clássico é extremamente bem feito.
E como um bom guizado, a gente não deve deixar arrefecer!

O divertido Bira DantasO que Tex representa para si?
Bira Dantas: HQ (BD) de qualidade. Parada obrigatória mensal.

Qual o total de revistas de Tex que tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Bira Dantas: Tenho toda a colecção de Tex Gigante publicada no Brasil e cerca de 30 no formato pequeno, lançadas pela RGE, Vecchi e Mithos.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem?
Bira Dantas: Só BD…

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Bira Dantas: Minha história preferida é “O Homem de Quatro Dedos“.
É difícil escolher um roteirista, pois todos têm uma mesma característica impressa por Bonelli: criar histórias verosímeis, bem escritas, com narrativas dotadas de fluidez total. Claudio Nizzi é dos novos, meu roteirista favorito.
Galleppini impressionou-me pelas boas perspectivas, luz e sombra precisas, narrativa visual cinematográfica. Victor de La Fuente conquistou-me com sua luz e sombra, bico de pena preciso e pinceladas secas nos chapéus e roupas escuras. Giancarlo Alessandrini chamou-me a atenção por suas sequências típicas de desenho animado, já Ticci surpreende-me por suas hachuras. Carlo Ambrosini agradou-me pela pincelada solta na arte-final. Ivo Milazzo esteve fantástico em “O Sangue no Colorado“. Sua arte final elegante e sombras chapadas com pincel são de um refinamento a toda prova. Mas Magnus e José Ortiz fazem-me tirar-lhes o chapéu!

Bira Dantas e a sua homenagem ao TexO que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Bira Dantas: O que mais me agrada é ver que só escolhem gente boa pra trabalhar com Tex. Isso é impressionante! Mesmo quando o desenhador não é dos melhores, a certeza de que o roteiro será óptimo, faz-me comprar a revista.
Alberto Giolitti foi o desenhador que menos me agradou. Eu o achei um pouco duro demais, mas mesmo assim, o seu estilo um pouco mais antigo de arte-finalizar, atraiu-me. Aldo Capitaneo tinha um desenho duro também, mas a sua arte-final caprichada salvou “O Soldado Comanche“.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que ele é?
Bira Dantas: Tex, assim como D. Quixote (que acabei de adaptar para BD), representa um lutador. Alguém que batalha pela justiça e que defende a solidariedade humana acima de tudo. A luta contra o preconceito. Tem até uma aventura em que Tex é pego de surpresa, por não desconfiar de alguns índios que se aproximaram dele.

Charge comemorativa dos 60 anos do RangerComo nasceu a ideia de homenagear o Tex e os seus criadores, através da charge comemorativa dos 60 anos do Ranger?
Bira Dantas: O meu fotolog é um ponto de encontro de cartunistas, quadrinhistas, fãs de cinema e BD. Como conhecem a minha faceta de cartunista político, eu quis que vissem que também aprecio Western, por menos que tenha a ver com o assunto político. Mas no fundo, Tex tem a ver, pois discute os exageros cometidos contra os índios, a ganância do branco e os valores humanos, cada vez menos em voga nos dias de hoje.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Bira Dantas: Enquanto houver leitores de BD que exijam boas histórias, Tex estará na moda.
As modas vêm e vão. O que tiver qualidade ficará! E Tex estará lá, entre poucos!

Prezado pard Bira Dantas, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

10 Comentários

  1. Gostei muito da entrevista Zeca. Meus cumprimentos a você e o grande Bira. Realmente é uma entrevista muito agradável de se ler. E o Bira tem um bom faro, Ortiz e Magnus são verdadeiros mestres… Sem palavras.

    Jário Costa.

  2. Só faltou registrar que, além de grande cartunista, Bira é um exímio tocador de gaita-de-boca (ou gaita-de-beiços, para os queridos portugueses). A charge de Tex me fez nascer uma idéia “mefistofélica” que a redação da Mythos já aprovou. Se vingar, o Blogue do Tex será o primeiro a saber.
    Abraços e vida longa, amigo Bira.
    Julio Schneider

  3. Gostaria de dizer que foi uma honra ser convidado a participar desta série de entrevistas de um personagem do tamanho de um TEX!
    Este blog consegue ser informativo, divertido, variado e nem um pouco cansativo.
    Parabéns à equipe que o mantém atualizado!
    Um abraço ao Júlio, grande figura que conheci com Nilson no FIQ, em BH no Brasil!
    Oxalá minha filha de 8 anos goste de TEX. Ela tem um pouco de reserva com BD em p/b, mas tem um ótimo gosto para escolhê-las. Sem dúvida, cairá nas graças deste paladino da justiça!
    Bira Dantas

  4. Ah, esqueci de comentar dois desenhistas portugueses que me influenciaram muito: Jayme Cortez e Eduardo Teixeira Coelho. Magistrais!

    Bira Dantas

  5. Além de tudo, Bira é um excepcional ser humano, amigo no sentido mais pleno e puro da palavra – some-se isso ao seu talento, e não será difícil entender o seu sucesso.
    Parabéns pela entrevista.
    Pirata Z

  6. Bira, parabéns pela entrevista, foi muito legal ler e conhecer um pouco de você.
    Adorei a charge do Tex, ficou fabulosa, como gosto de “rabiscar” e tenho uma queda pelos traços caricatos, o seu desenho me inspirou.

    Zeca, não precisa nem ser dito que o Blogue está cada vez melhor. Que continue assim, pois isso é vida para TEX!

    Abraços a todos!

    Sílvio Introvabili

  7. Antes de mais nada, um muito obrigado ao pard Bira Dantas, que possibilitou esta interessante entrevista que nos deu a conhecer mais um dos grandes Texianos, neste caso, um Texiano muito especial e cuja honra, teve o blogue do Tex em tê-lo como entrevistado. Aproveito para agradecer as palavras relativas ao blogue do Tex e é bom saber que o blogue é “informativo, divertido, variado e nem um pouco cansativo.” 😉

    Quanto ao Grande Júlio Schneider, já estamos aguardando aqui no blogue do Tex, por essa ideia “mefistofélica” que certamente vingará e desde já agradecemos a antecipação em exclusivo dessa boa nova. E quanto ao facto do Bira ser um exímio tocador de gaita, por acaso eu era para incluir na entrevista uma fotografia onde o Bira tocava esse instrumento musical, mas, por falta de espaço acabei por a deixar de fora e de certo modo lamento-o, porque era mais uma faceta interessante deste grande Mestre, mas graças a si, Júlio, todos já sabem desse outro predicado do Bira 😉

    Pards Jário e Sílvio, muito obrigado pelas vossas palavras, pois elas são mais um (grande) incentivo para fazermos mais e melhor, mas não se esqueçam que muito do mérito do blogue do Tex se deve a vocês dois, pelas fantásticas colaborações que ambos já deram ao blogue e certamente darão mais vezes no futuro e que desde já agradeço!

    Ah, Sílvio, aguardamos por mais “rabiscos” Texianos de sua autoria…

    José Carlos Francisco (Zeca)

  8. Nelson é um grande caricaturista, fã de TEX e companheiro de fotolog. Bem vindo ao blog, Nelson!

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