TEX de Manfred Sommer em grande destaque no Diário As Beiras: 18 de Fevereiro de 2006

Texto do jornal Diário “As Beiras” de 18 de Fevereiro de 2006
João Miguel Lameiras

TEX TRAZ DE VOLTA MANFRED SOMMER

TEX TRAZ DE VOLTA MANFRED SOMMERO último “Tex Gigante”, distribuído em Portugal pela Mythos Editora esta semana, traz mais um grande nome da BD mundial com uma carreira construída longe da Editora Bonelli, mantendo assim uma tradição já por diversas vezes destacada neste espaço. Depois de José Ortiz, Victor De La Fuente, Alfonso Font, Ivo Milazzo e Joe Kubert, autores de grande nível que a colecção ajudou a divulgar no nosso país, e de Colin (“A Juventude de Blueberry”) Wilson (ver “Diário As Beiras” de 15/01/2005), a série “Tex Gigante” dá-nos agora a (re)descobrir o trabalho do espanhol Manfred Sommer, mais um nome de peso que Sergio Bonelli conseguiu juntar ao autêntico “dream team” que tem passado pela série “Tex Gigante”.

Criador do jornalista e correspondente de guerra Frank Cappa, interessante e carismática personagem publicada em Portugal em finais da década de 80, primeiro na revista “O Mosquito” e mais tarde em álbum pela Meribérica, Sommer tinha trocado a Banda Desenhada pela pintura nos últimos anos, até que a persistência de Sergio Bonelli o convenceu a regressar (esperemos que em definitivo) à BD nesta aventura especial do mais famoso cowboy dos “fumetti” (nome dado à Banda Desenhada em Itália).

Tex Gigante - Mercadores da MorteA intriga deste “Tex Gigante”, escrita como habitualmente por Claudio Nizzi, leva o famoso ranger e o seu amigo Kit Carson até ao México em busca dos raptores de uma criança mexicana, raptada junto à fronteira para trabalhar como escrava nas minas de um rico proprietário mexicano, cujos homens controlam toda a região. Embora bem oleada e eficaz, a história inventada por Nizzi não prima pela originalidade, bem pelo contrário, servindo mais como pretexto para movimentadas cenas de acção que Sommer, em grande forma neste seu regresso à BD, desenha de modo dinâmico e eficaz, sem abdicar dos detalhes para ajudar a caracterizar os ambientes, como acontece na cena do baile na aldeia mexicana de Santa Clara, ou nas sequências iniciais no Monument Valley, cenário cinematográfico por excelência.

Desenhador clássico, mas com grande sentido narrativo, Sommer que confessa na entrevista que abre a edição a sua paixão pelo filme “O Bom, o Mau e o Vilão” de Sergio Leone, presta uma homenagem ao realizador italiano, ao dar a Torres, o homem de mão de Dom Manuel Obregon, umas feições que, à parte o bigode quase à Dali, lembram bastante as de Lee Van Cleef, o vilão no filme de Leone. E se a figura de Dom Obregon traduz o seu comportamento maléfico de forma demasiado caricatural, Sommer consegue dar feições bem personalizadas aos inúmeros personagens secundários e figurantes, sem cair tanto nos clichés, como acontece na representação gráfica dos vilões, que têm todos o mal que lhes vai na alma estampado na cara.

Arte de Manfred SommerPor isso, mesmo que Nizzi se limite a repetir os mesmos esquemas narrativos (quantas vezes não vimos nós em Westerns o truque de utilizar uma manta, um chapeu e um monte de pedras para simular um homem a dormir, como fazem Tex e Kit Carson para enganar os bandidos que se preparam para os emboscar ?) já usados em milhares de filmes e centenas de outras aventuras de Tex, a história dá aquilo que os leitores habituais de Tex esperam dela. É uma história cheia de acção que se lê de um fôlego e com prazer, muito por força da classe do desenho personalizado de Sommer, aqui mais liberto das influências de Hugo Pratt, que eram bem visíveis em “Frank Cappa”.

Embora o melhor de Manfred Sommer (que é um argumentista bem mais interessante do que Nizzi na maioria dos seus trabalhos) esteja não aqui, mas nas aventuras de Frank Cappa, este “Caçadores de Escravos” tem o inegável mérito de ter proporcionado o feliz reencontro do autor espanhol com a Banda Desenhada, ao mesmo tempo que permitiu também o reencontro dos leitores com Manfred Sommer.

(“Tex Gigante nº 12: Mercadores de Escravos”, de Claudio Nizzi e Manfred Sommer, Mythos Editora, 242 pags)

Copyright: © 2006 Diário “As Beiras“; João Miguel Lameiras
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