Galep, sempre um grande?

Por Anthony Steffen [1]

Com o advento da Internet e portanto com o frequentar os vários sites e fóruns dedicados ao Ranger, eu tive a oportunidade, ao longo dos anos, de fazer descobertas texianas extraordinárias, como por exemplo curiosidades relacionadas com algumas histórias, notícias e aprofundamentos sobre alguns argumentistas e desenhadores, etc.

Mas seguramente a “descoberta” que mais me surpreendeu (com toda a sinceridade não me sinto em condições de dizer se positivamente ou se negativamente) é sem dúvida alguma ter tomado conhecimento de que muitas das capas de Aurelio Galleppini, aquelas esplêndidas capas genéricas, aquelas não relacionadas com a história contida no álbum, não eram fruto da sua fantasia de desenhador mas sim decalcadas em maneira muito fiel a cartazes de cinemas, fotografias de actores, capas de livros western, etc.

Há realmente muitas destas situações e eu próprio com a ajuda da Internet, pus-me há alguns anos atrás à procura de imagens de alguns autores com poses que recordassem algumas capas de Galep. Encontrei muitas e estou convicto que mais encontraria se fosse comparar todos os cartazes de filmes western dos 40′,50′ ou 60′.

Devo confessar que ainda hoje esta situação embaraça-me um pouco. Não sei como explicá-lo, e por isso vos peço de não me acusarem de “blasfémia” , mas, uma vez feita a descoberta, não as apreciei mais como as admirava quando, maravilhado, as contemplava nos primeiros anos em que coleccionava Tex.

É como se fosse, em certo sentido, traído. Não sei se consigo dar a entender o meu pensamento. Saber que por trás de uma pose de Tex estava um John Wayne ou um Burt Lancaster, saber que a ideia de determinada capa não era original mas “copiada”, deixa-me um pouco desorientado nos confrontos de Galep, que pese tudo isto, continua a ser um grande mestre.

Para concluir, e após verem alguns exemplos mais abaixo, gostaria muito de conhecer as opiniões, dos leitores portugueses e brasileiros, respeitantes a este assunto que considero um pouco complicado e até mesmo delicado e saber se há algum que sinta o mesmo “desconforto” que eu, esperando ao mesmo tempo que não tenha provocado a susceptibilidade dos admiradores de Aurelio Galleppini.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[1] (Texto publicado originalmente no Tex Willer Forum, em 16 de Abril de 2012)
Tradução e adaptação a cargo de José Carlos Francisco

25 Comentários

  1. Olá Steffen

    Muito interessante tua descoberta. Acho que vários desenhos são copiados de outros materiais. Concordo que possa ser uma decepção se se concebe a idéia de Galep como criador, mas continuo a admira-lo pelos traços que possui.

    Certamente naquele tempo já teria sido notada a semelhança das capas com alguns posteres ou fotos de filmes, e não teria sido divulgado pela inexistencia da internet, ou até porque os leitores não se importassem com isso.

    Essa é a minha opinião,
    Fernanda

  2. Anthony e Zeca, eu diria que talvez isso seja comum no meio. Muitos desenhistas baseiam-se em fotos para produzir HQs com realismo. Claro que prefiro capas e HQs que foram desenvolvidas a partir do cabedal de imagens da cabeça do desenhista. Que ele utilize fotos, tambem é normal (como Alex Ross e outros famosos). Talvez o que tenha chocado mais seja o fato dele usar cartazes ou cenas de filmes famosos. Mas só isso… Eu acho que muito pior é quando o desenhista copia outro desenhista. Eu lembro de uma cena da origem do Dr. Estranho (não lembro o desenhista, mas não era um qualquer não) que era copiada do Principe Valente de Hal Foster. Ou cartoons que chegavam em Salões de Humor mundo a fora, copiados do Quino… Isso eu acho gravissimo.

    Alguns exemplos de plágio de desenhos aqui:
    http://comictrip.wordpress.com/

  3. Interessante matéria. Mas para mim a inspiração em fotos, filmes, ou seja, tudo o que não seja desenhos, não vejo complicação. Inclusive terá que utilizar-se modelos e fotos para desenhar armas, ruas, etc. Claro que há a questão da “pose”, que teve um criativo, quando os actores se colocavam para a foto do cartaz, a escolha estética, a imaginação. Mas se o desenhador referir a fonte de inspiração, fica resolvido.

  4. Caro Steffen,
    Para mim quanto leitor e admirador de Galep e sua obra Texiana, Ele será sempre “Um Grande”! Parabéns por sua ótima matéria expondo as diversas fontes de inspiração do grande desenhista. Com toda a certeza um homem que produziu a quantidade de trabalho que ele durante sua carreira em algum momento precisou ou desejou, vendo um cartaz, uma foto, uma imagem, que lhe agradassem, adapta-la para o universo Texiano. Aqui podemos ver o talento deste genial desenhista, pois quer me parecer que mais do que ” copiar” Galep reinterpretava as cenas para contextualizá-las ao seu Tex.

    Abraço
    Jesus Ferreira

  5. Caro Steffen e Zeca,

    Esse tema já desperta diversos comentários no Fórum do Tex aqui no Brasil. Sem dúvida, causa um pouquinho de decepção, mas não diminui a grandeza de Aurelio no universo texiano, na minha opinião. Defensor que sou da criatividade plena, as repetições de cenas e poses nas capas elencadas são muito mais do que uma simples “inspiração”. Resta saber se essa prática era um costume na época entre os desenhistas, fato que não tenho maiores informações. Mas mesmo que fosse, obra prima é uma expressão que não combina com decalque.
    Galep “escreveu” sua história nas milhares de páginas de traços eternos para o seu mítico personagem. Portanto, essas capas são apenas detalhes desta obra grandiosa. Viremos a página.

  6. Fantástico apanhado. Coisa de detetive mesmo! A internet é mesmo um mundo maravilhoso!

    Comprendo o teu desconforto e partilho do mesmo, embora isso não retire mérito ao trabalho de Galep, o facto é que mancha um pouco a sua magia!

  7. Nada disso é importante, importante é Tex e seus pards.
    Não diminui em nada a importancia da obra de Galep.

  8. Prezados,

    Galep continua e continuará sendo mestre dos quadrinhos – e pai do ranger – TAMBÉM por isso, também por trazer para o Universo de TEX o que de bom outros profissionais produziam em outras mídias em tempos áureos.
    Att.
    ————————
    Gervásio Santana de Freitas

  9. Oi pessoal.
    Já vi este assunto em outros sites e forum como “Plagio ou Homenagem?”

    É um tema dificil, eu mesmo como desenhista posso dizer que talvez, tenha faltado criatividade na hora e pra não atrasar o material Galep usou de referencias fotográficas. Ou quis dar um ar mais próximo dos filmes de westerns e por isto as referencias em homenagem aos filmes que ele gostasse muito.
    Hoje em dia se usa muito referencias fotográficas, porem alguns usam seus próprios modelos enquanto outros tiram de filmes, seriados e até mesmo de outros desenhistas.

    O próprio Civitelli e outros da Bonelli nos dias de hoje fazem isto.

    Só o próprio Galep pra responder.

  10. Caros Amigos,
    é normal um artista ter fontes de inspiração e, de certa forma, Aurelio Galleppini prestou homenagens naquilo que ele sabia ser de conhecimento público – as imagens de atores e de cartazes de filmes.
    Jean Giraud, cocriador do irmão francês de Tex, Blueberry, também se utilizou dessas inspirações cinematográficas e de personagens históricos.

    Saudações texianas. 🙂

  11. Se os leitores do Tex ficassem somente com a era Galep/Bonelli já seria suficiente para concretizar o Tex como icone mundial da banda desenhada, no entanto, o genial Sergio Bonelli avançou muito em suas amizades com grandes artistas e colaboradores, e mesmo o mais fiel texmaníaco se rendeu a outros grandes artistas como Villa, e Tex quase de forma inacreditável manteve o mesmo padrão de desenhos, capas e roteiro, uma equipe cheia de vontade e amor pelo que faz, tornando tex o unico personagem, que com o passar dos anos se supera em qualidade, graças sobretudo a bonelli pai e filho e o genial Galep.
    Quanto às capas de cinema, são aquelas que permanecerão nas mentes dos colecionadores para sempre.

  12. Estou plenamente de acordo com o Afrânio Braga e outros texianos que comentaram este artigo. Acho que o facto de um autor de quadrinhos se basear em documentos fotográficos e outros é um hábito normalíssimo na sua profissão e que em nada diminui os seus méritos, pois não se pode desenhar tudo recorrendo apenas à fantasia e aos dotes imaginativos.
    Quanto às poses copiadas, se bem atentarmos, há quase sempre nas ilustrações de Galep outros elementos que fazem a diferença.
    Conheço muitos exemplos de grandes desenhadores que foram também excelentes capistas (como Galep) e se inspiravam geralmente em fotogramas, cartazes de filmes e ilustrações de livros. Muitas capas do nosso Mundo de Aventuras (nos anos 60) são exemplo disso.
    O certo é que era material de grande qualidade, com forte impacto junto dos leitores, fazendo, por isso, aumentar as vendas, mesmo dos números com heróis menos famosos do que Mandrake, Fantasma ou Cisco Kid.
    No entanto, congratulo o Steffen por ter feito esta pesquisa, pois é interessante ficarmos a par de algumas das fontes de inspiração de Galep para as capas de Tex, e assim podermos compará-las com esses modelos.

  13. Para aquele período de intermináveis pranchas e talvez com prazos apertadíssimos para a entrega, Galep encontrou a solução dos desenhos necessários, em fotos ou cartazes, certamente isso não deprecia suas obras magníficas. Atribuo isso a “modelo” ou ideia. Respeitando a opinião de todos, viva os desenhos de GALEP, são fantásticos.
    Sérgio Starepravo

  14. Nem vou ler os comentários acima antes de manifestar minha opinião. Em primeiro lugar: parabéns pela sua pesquisa, muito interessante. Em segundo lugar: claro que sim, Galep foi um grande! O seu legado fala por sí só. Em terceiro: não fico nem um pouco surpreso por isso, quando a gente vai lendo os textos que acompanham as edições de Tex, sempre são citadas as inspirações de cinema tanto em roteiros quanto em imagens, principalmente no rosto de Tex. Isso é uma característica da produção do Ranger! Eu cansei de reconhecer atores em rostos de personagens de Tex, e depois vim a saber que era uma homenagem do desenhista. E eu não vejo nenhum demérito nisso, Tex é arte popular. Os desenhos são legais, ainda mais se bem inspirados, como no cartaz de Bogart, que o próprio Sérgio Bonelli citou num texto como idéia dele a Galep. Até fiquei mais contente agora em saber que duas capas de Tex foram inspiradas no grande John Wayne. E legal aquela do Burt Lancaster, bem que poderia o Tex estar arrastando uma mulher também, eh eh eh eh. Agora hilária é essa da peituda, Santana, eh eh eh. Devo admitir que gostei mais da original do que a versão de Galep que, reconheçamos, tinha um bom gosto, eh eh eh eh. Abraço. Não me senti traído pelo mestre, que continua sendo O Cara ante meus olhos.

  15. Parabéns pela sua pesquisa, e como os outros fãs de Galep eu não vejo nenhum demérito em procurar inspiração em fotos, cartazes ou em algum outro material já existente, tanto que sempre se soube que Tex foi inspirado em um artista de Holywood, Gary Cooper, assim como Mágico Vento e Ken Parker e eu considero isso uma homenagem a esses artistas que marcaram sua época.

  16. Considero que quanto mais coisas neste sentido descobrirem independente de opiniões somente irá enriquecer mais e mais o universo de TEX! Continuem descobrindo mais coisas, quanto mais informações melhor!!!!!

  17. Prezados Jorge Magalhães, e Amigos,

    desde 7 de fevereiro de 2005, debatemos sobre as capas texianas no Fórum TexBr, incluindo as inspirações de seus autores.

  18. Quem conhece a história do início do trabalho de Galep com Tex sabe que ele passava noites em claro desenhando.
    Ele era o unico a produzir… e a produção era frenética.
    Com certeza não havia muito tempo para “imaginar” as capas depois de um processo criativo exaustivo de narração dos roteiros.

  19. Para contribuir ainda mais para esta “polémica”, deixo-vos aqui mais algumas inspirações de Aurelio Galleppini para as capas de Tex:

    Devil Pass

    Carri di Fuoco

    Ore Disperate

    Sierra Encantada

    Senza Tregua

  20. Na minha opinião eram inspirações de Aurelio Galleppini para as capas de “Tex”.

    Acessem o fórum TexBR e conheçam as inspirações de Jean Giraud para Blueberry, o irmão francês do Ranger bonelliano.

    Saudações texianas.

  21. Achei interessante o artigo pois enriquece ainda mais nosso conhecimento sobre o mundo texiano. Também penso que todo artista precisa de imagens reais como base do seu trabalho para que seu desenho fique o mais próximo da realidade. Pra mim Galep é um grande mestre.

  22. Isso se chama referencial artístico e não uma cópia. Galleppini é gênio, transformava simples fotos em obra de artes. Eu prefiro a arte de Galleppini inspirada nos cartazes e cenas de filmes. Por usar referencial não diminui a genialidade de do mestre Galleppini…

  23. Isso não desmerece o trabalho de Galleppini nem um pouco. Ele se inspirou em imagens que mexiam com ele, que ele gostava muito, pois era árduo adorador de imagens de filmes faroeste e todos os demais materiais a respeito. Com certeza são imagens marcantes que ele escolheu pra ficarem eternizadas nas capas de ranger mais famoso do velho oeste. E ficaram, sem dúvida, tanto é que as capas de Galep são imortais e fizeram tanto sucesso que TEX é reconhecido mundialmente pelas suas famosas capas galepianas.

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